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ELEIÇÕES 2006/CAMPANHA
Sem a presença de artistas, público em comícios mingua
Campanhas de Lula e de Alckmin têm dificuldade de atrair pessoas em eventos, mesmo oferecendo comida e transporte
Segundo cientista político, apesar de showmício reunir público artificial, candidatos conseguiam transmitir alguma mensagem política
FÁBIO ZANINI
SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A nova lei eleitoral transformou os comícios, que já foram
considerados a alma das disputas presidenciais, em eventos
frios, rápidos e pequenos.
No primeiro mês de campanha nas ruas, Luiz Inácio Lula
da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB) tiveram dificuldades para atrair público.
Acabaram optando por muitos eventos fechados e recorreram ao que é chamado eufemisticamente de "mobilização estimulada" -desde passar ônibus arrebanhando militantes a,
no caso de aliados dos tucanos
em Brasília, dar lanche.
A média de público dos sete
primeiros comícios de Lula ficou em 3.600 pessoas, de acordo com levantamentos da Polícia Militar. Os petistas prometiam tirar o atraso em uma série de eventos neste final de semana. Anteontem, Lula reuniu
3.500 pessoas em Salvador e
5.000 em Fortaleza, segundo a
PM. Alckmin se saiu melhor,
com média de 9.600 até agora.
São sombras distantes dos
números registrados em 2002.
Lula chegou a colocar 150 mil
pessoas em Salvador. José Serra, o tucano de então, pôs 120
mil em Ananindeua (PA).
Há consenso entre os partidos de que a responsável pela
decadência dos comícios é a
proibição de artistas. Para baratear campanhas, a nova legislação vetou showmícios.
Em 2002, os megacomícios
de Lula pelo Brasil eram "escada" para shows da dupla sertaneja Zezé di Camargo & Luciano, que entrava no palco após
os discursos políticos. Serra arrebanhava multidões com o
grupo adolescente KLB.
Entre os coordenadores das
campanhas de Lula e Alckmin,
o discurso é de que a nova lei
eleitoral é positiva. "O fim do
showmício favorece candidatos
mais pobres, é mais discussão",
diz o coordenador da campanha tucana, Sérgio Guerra.
Mas existe a preocupação,
entre tucanos e petistas, em levar mais gente para os comícios, que costumam ser vistos
como termômetros das campanhas. "Temos o desafio de bolar
novas estratégias de atingir a
militância", diz João Felício,
responsável pela mobilização
na campanha de Lula.
Para o cientista político David Fleischer, da Universidade
de Brasília, os showmícios
atraíam um público "artificial",
mas que ainda assim acabava
assimilando algo da mensagem
política. "Ainda que o comparecimento fosse devido à música,
o recado dos candidatos era recebido." Ele prevê um teto de
no máximo 30 mil pessoas, com
a nova realidade. "Em cidades
do interior, os comícios continuarão a ter certa importância,
até como evento social", diz.
Em 24 de julho, prevendo
problemas com o quórum de
um evento em Brasília com Lula, o PT do Distrito Federal correu ônibus pelas cidades satélite com o modesto objetivo de
arrebanhar 5.000 pessoas.
Conseguiu só 2.800.
A campanha de Alckmin tem
optado por reuniões em auditórios e caminhadas em locais
que atraem público, como feiras livres e praças. Dois grandes
comícios ocorreram no Distrito Federal, onde o tucano deparou-se com multidões de 30 mil
pessoas: em Taguatinga, com
militantes do ex-governador
Joaquim Roriz (PMDB), e no
Parque da Cidade, no ato com
José Roberto Arruda (PFL).
Nos dois casos, os militantes
ganharam lanche e transporte.
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