São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 2000


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DESENVOLVIMENTO
Décima reunião da Unctad vai colocar em xeque conceitos do "Consenso de Washington"
ONU busca novo paradigma para economia

CLÓVIS ROSSI
enviado especial a Bancoc

Sai o chamado "Consenso de Washington", entra a busca do "Paradigma 2000".
Esse é o objetivo da Unctad-10, a 10� reunião quadrienal da Unctad (Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento), que começa hoje em Bancoc, capital da Tailândia.
Ou, pelo menos, é a intenção manifestada por seu secretário-geral, o embaixador brasileiro Rubens Ricupero, ministro da Fazenda quando do lançamento do Plano Real em 1994.
Para forjar o que Ricupero chama de "alguns elementos" desse novo paradigma, a reunião da Unctad contará com exposições dos dirigentes de todos os grandes organismos internacionais, de Kofi Annan, o secretário-geral das Nações Unidas, a Michel Camdessus, o diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), que, aliás, faz a sua despedida oficial em Bancoc.
Para Ricupero, o receituário do "Consenso de Washington" (liberalização, privatização, desregulamentação) mostrou-se inadequado ou pelo menos insuficiente. Daí a sua defesa de um novo paradigma. "É a única forma de, por um lado, responder à crescente angústia da sociedade civil com a globalização, e, de outro, forjar um sistema comercial mais equilibrado", diz o embaixador.
Ricupero não está isolado em seu propósito de fazer de Bancoc o eixo de um diálogo sobre o "novo paradigma".
"Nossa tarefa explícita é a de transformar a Unctad em ponto focal para conduzir um diálogo sobre a globalização e a liberalização", diz, por exemplo, o vice-primeiro-ministro tailandês, Supachai Panitchpakdi.
Se o novo paradigma dependesse exclusivamente de Ricupero incluiria dois elementos centrais:
1 - A volta a algum tipo de regulamentação das economias, em especial controles sobre o fluxo financeiro de curto prazo.
Ricupero lembra que a crise asiática de 97, que depois se espalhou por outras regiões e alcançou o Brasil, deveu-se essencialmente ao excessivo endividamento de curto prazo de alguns países.
O diretor-geral da Unctad vê avanços nas posições do FMI a respeito do controle de capitais, mas diz que, por enquanto, "o que mudou foi o discurso, não a realidade".
Acrescenta: "Se não estabelecermos controles, novas crises certamente surgirão".
2 - Como tratar comércio e investimentos de tal forma que os investimentos nacionais e internacionais permitam a inserção dos países em desenvolvimento no mercado internacional.
Ricupero cita o exemplo do Brasil, em que os investimentos externos estão maciçamente concentrados em serviços que não são exportáveis. Em conseqüência, não ajudam a reduzir o déficit comercial ou o de conta corrente (que mede todas as transações com o exterior).
Na América Latina em geral, o déficit comercial aumentou três pontos percentuais do PIB nos anos 90 em relação aos anos 70.
Mas há outro assunto tomando conta dos preparativos para a Unctad-10.
É a perspectiva de avançar na discussão da ambiciosa pauta do comércio global, que sofreu um violento retrocesso em Seattle, há dois meses, ao fracassar a Conferência Ministerial da OMC (Organização Mundial do Comércio), que deveria convocar a Rodada do Milênio.
Como os países representados na OMC também estão na Unctad, Bancoc oferece uma oportunidade de ouro para retomar o diálogo frustrado em Seattle.
Tanto assim que o diretor-geral da OMC, Mike Moore, trouxe à Tailândia uma equipe de nove pessoas, quando habitualmente viaja com não mais que um ou dois assistentes.
Ricupero acredita que o fracasso de Seattle fez com que vários países se dessem conta de que suas posições de negociadores eram duras demais e inviabilizavam qualquer acordo. Por isso, podem ser mais flexíveis em Bancoc, abrindo caminho para consensos que, de todo modo, terão que ser transplantados para o seu âmbito próprio, que é a OMC.


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