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DESENVOLVIMENTO
Décima reunião da Unctad vai colocar em xeque conceitos do "Consenso de Washington"
ONU busca novo paradigma para economia
CLÓVIS ROSSI
enviado especial a Bancoc
Sai o chamado "Consenso de
Washington", entra a busca do
"Paradigma 2000".
Esse é o objetivo da Unctad-10, a
10� reunião quadrienal da Unctad
(Conferência das Nações Unidas
para Comércio e Desenvolvimento), que começa hoje em Bancoc,
capital da Tailândia.
Ou, pelo menos, é a intenção
manifestada por seu secretário-geral, o embaixador brasileiro
Rubens Ricupero, ministro da Fazenda quando do lançamento do
Plano Real em 1994.
Para forjar o que Ricupero chama de "alguns elementos" desse
novo paradigma, a reunião da
Unctad contará com exposições
dos dirigentes de todos os grandes organismos internacionais,
de Kofi Annan, o secretário-geral
das Nações Unidas, a Michel
Camdessus, o diretor-gerente do
FMI (Fundo Monetário Internacional), que, aliás, faz a sua despedida oficial em Bancoc.
Para Ricupero, o receituário do
"Consenso de Washington" (liberalização, privatização, desregulamentação) mostrou-se inadequado ou pelo menos insuficiente.
Daí a sua defesa de um novo paradigma. "É a única forma de, por
um lado, responder à crescente
angústia da sociedade civil com a
globalização, e, de outro, forjar
um sistema comercial mais equilibrado", diz o embaixador.
Ricupero não está isolado em
seu propósito de fazer de Bancoc
o eixo de um diálogo sobre o "novo paradigma".
"Nossa tarefa explícita é a de
transformar a Unctad em ponto
focal para conduzir um diálogo
sobre a globalização e a liberalização", diz, por exemplo, o vice-primeiro-ministro tailandês, Supachai Panitchpakdi.
Se o novo paradigma dependesse exclusivamente de Ricupero
incluiria dois elementos centrais:
1 - A volta a algum tipo de regulamentação das economias, em
especial controles sobre o fluxo financeiro de curto prazo.
Ricupero lembra que a crise
asiática de 97, que depois se espalhou por outras regiões e alcançou o Brasil, deveu-se essencialmente ao excessivo endividamento de curto prazo de alguns países.
O diretor-geral da Unctad vê
avanços nas posições do FMI a
respeito do controle de capitais,
mas diz que, por enquanto, "o
que mudou foi o discurso, não a
realidade".
Acrescenta: "Se não estabelecermos controles, novas crises certamente surgirão".
2 - Como tratar comércio e investimentos de tal forma que os
investimentos nacionais e internacionais permitam a inserção
dos países em desenvolvimento
no mercado internacional.
Ricupero cita o exemplo do Brasil, em que os investimentos externos estão maciçamente concentrados em serviços que não
são exportáveis. Em conseqüência, não ajudam a reduzir o déficit
comercial ou o de conta corrente
(que mede todas as transações
com o exterior).
Na América Latina em geral, o
déficit comercial aumentou três
pontos percentuais do PIB nos
anos 90 em relação aos anos 70.
Mas há outro assunto tomando
conta dos preparativos para a
Unctad-10.
É a perspectiva de avançar na
discussão da ambiciosa pauta do
comércio global, que sofreu um
violento retrocesso em Seattle, há
dois meses, ao fracassar a Conferência Ministerial da OMC (Organização Mundial do Comércio),
que deveria convocar a Rodada
do Milênio.
Como os países representados
na OMC também estão na Unctad, Bancoc oferece uma oportunidade de ouro para retomar o
diálogo frustrado em Seattle.
Tanto assim que o diretor-geral
da OMC, Mike Moore, trouxe à
Tailândia uma equipe de nove
pessoas, quando habitualmente
viaja com não mais que um ou
dois assistentes.
Ricupero acredita que o fracasso de Seattle fez com que vários
países se dessem conta de que
suas posições de negociadores
eram duras demais e inviabilizavam qualquer acordo. Por isso,
podem ser mais flexíveis em Bancoc, abrindo caminho para consensos que, de todo modo, terão
que ser transplantados para o seu
âmbito próprio, que é a OMC.
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