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JUDICIÁRIO
Para FHC, "não é justo" remuneração ser menor que a de delegado; salário inicial hoje é de R$ 5.248
Presidente defende aumento para juízes
ELIANE CANTANHÊDE
Diretora da Sucursal de Brasília
SILVANA DE FREITAS
da Sucursal de Brasília
O presidente Fernando Henrique Cardoso classificou os salários dos juízes como "muito baixos" e opinou que, se não for possível um aumento já, deve ser autorizado um abono como solução
temporária.
"Os juízes têm razão", disse
FHC, encampando uma comparação que os próprios magistrados fazem sistematicamente: a remuneração deles é menor que a
dos delegados. "Não é justo".
Os juízes iniciam a carreira com
salário bruto de R$ 5.248. Já os delegados federais, admitidos a partir de 1995, iniciam a carreira com
um salário de R$ 7.500 (R$ 4.500
mais gratificação, que não existirá
para os próximos contratados).
FHC, porém, ressalvou que não
tem poder para determinar o aumento: "O Supremo (Supremo
Tribunal Federal) teria de pedir."
As declarações foram feitas depois de um jantar no Itamaraty na
quinta-feira,18 dias antes da primeira greve nacional de juízes,
convocada para o dia 28.
Os presidentes da Associação
Nacional dos Juízes do Trabalho,
Gustavo Tadeu Alkmim, e da Associação dos Juízes Federais do
Brasil, Tourinho Neto, não se sensibilizaram com a manifestação
de FHC. Ontem mesmo, confirmaram que a greve está de pé.
"Espero que isso (a garantia do
abono) aconteça antes do dia 28,
porque há dois anos estamos vivendo só de promessas", reagiu
Tourinho Neto. "O problema é
que o FHC fala uma coisa, aí o
ACM diz outra e o governo recua", disse Alkmim, referindo-se
ao presidente do Senado, Antonio
Carlos Magalhães (PFL-BA).
Na versão dos juízes, o advogado-geral da União, Gilmar Mendes, ofereceu na segunda-feira a
alternativa de um projeto de lei
instituindo o abono. ACM discordou, argumentando que essa solução só seria possível com mudanças no salário mínimo. O governo, então, recuou.
Num telefonema para o presidente do STF, Carlos Velloso, terça-feira, o secretário-geral da Presidência, Aloysio Nunes Ferreira,
recomendou que a alternativa do
abono fosse abandonada.
Na quinta-feira, FHC completou o vaivém ao admitir novamente a idéia original de Gilmar
Mendes. Os representantes dos
juízes não acreditaram mais.
Na conversa informal no Itamaraty, FHC disse que ninguém desconhece que os salários são baixos, mas, até a aprovação da
emenda constitucional do subteto, nada pode ser feito. A emenda
trata de subtetos nos Estados e
abriria caminho para um aumento em cascata no Judiciário.
Na proposta que vem sendo discutida, o abono representaria
uma antecipação do teto salarial.
Iria até 67%, com aplicação proporcional: os valores sobre os menores salários seriam maiores.
No Congresso, a receptividade à
idéia de FHC repetiu a reação inicial de ACM e não foi muito melhor do que a das entidades representativas dos juízes.
O senador Lúcio Alcântara
(PSDB-CE) resumiu, parafraseando a ""Bíblia": "Acho mais fácil um camelo passar pelo buraco
de uma agulha do que o abono de
juízes passar no Congresso".
O teto salarial do funcionalismo
foi previsto pela reforma administrativa, de junho de 1998, mas
não foi instituído até hoje. Por ele,
os juízes teriam aumento automático e em cascata, mas os parlamentares perderiam uma série de
vantagens. A pressão dos juízes
para que o teto seja finalmente
instituído levou o presidente do
STF a defender o fim das medidas
da reforma administrativa que
previam o corte de vantagens e a
limitação de salários.
O fim dessas medidas está sendo negociado na tramitação da
emenda constitucional que cria o
subteto salarial dos Estados.
Carlos Velloso, disse ontem estar "muito satisfeito" com a declaração de FHC. Velloso disse que
"o abono também é uma hipótese
plausível". "Vê-se que ele (FHC)
está interessado em evitar uma
greve do magistrado, danosa para
os três Poderes", disse.
Colaborou a Sucursal do Rio
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