São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 2000


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CONTAS PÚBLICAS
Assessor do FMI agora afirma que não conhecia detalhes do projeto e nega "riscos macroeconômicos"
Pérez recua em críticas contra fundo

Lula Marques - 2.jul.99/Folha Imagem
Lorenzo Pérez, representante no Brasil do Fundo Monetário Internacional, criticado por Malan


SÍLVIA MUGNATTO
da Sucursal de Brasília

O representante do FMI (Fundo Monetário Internacional) no Brasil, Lorenzo Pérez, recuou ontem nas críticas que fez quinta-feira ao Fundo de Combate e Erradicação à Pobreza, que está sendo votado pelo Congresso Nacional.
"Minhas considerações sobre o Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza foram emitidas antes de eu ter tido a oportunidade de conhecer detalhadamente a proposta de criação de tal fundo; e com base nas informações sobre a forma como o fundo será operacionalizado, fornecidas posteriormente pelo Ministério da Fazenda, não acredito que sua implementação envolva riscos macroeconômicos", disse Pérez, em nota divulgada na tarde de ontem.
Pela manhã, em entrevista por telefone, Pérez afirmou à Folha que iria "passar um tempo" sem comentar novamente assuntos relativos à economia brasileira.
"Não devo fazer comentários sobre uma coisa (fundo de combate à pobreza) que ainda está tramitando no Congresso. Ainda mais depois de toda a repercussão que aconteceu no governo brasileiro", afirmou.
Na quinta-feira, Pérez disse à agência de notícias Dow Jones que o fundo de combate à pobreza cria um ""precedente perigoso", ao prever o uso de recursos da privatização de estatais em projetos sociais. Hoje, os recursos são totalmente destinados ao abatimento da dívida pública.
As críticas resultaram em uma nota do ministro da Fazenda, Pedro Malan. O ministro disse que esse assunto não é "tema do FMI", mas uma "prerrogativa exclusiva" dos Poderes Executivo e Legislativo brasileiros.
Ontem, o porta-voz da Presidência da República, Georges Lamazière, disse que a posição manifestada por Malan é a posição do governo. "O governo não pensa em fazer nenhum gesto adicional à manifestação do Ministério da Fazenda", disse o porta-voz, sobre a reação de parlamentares, que chegaram a propor a expulsão de Pérez do país (leia texto na pág. 1-4).

Telefonema
A Folha apurou que o que mais descontentou Malan foi o desconhecimento revelado por Pérez sobre o fundo.
Ao meio-dia de quinta-feira, conforme a Folha apurou, Pérez telefonou para o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Amaury Bier, para obter informações sobre o fundo. A entrevista à agência de notícias aconteceu antes dessa conversa.
Bier explicou o funcionamento do fundo e disse a Pérez que o mecanismo que vincula o uso dos recursos de privatização ao combate à pobreza só entrará em vigor em 2002, quando o acordo com o Fundo já terá expirado.
O Brasil se comprometeu com um programa de ajuste fiscal entre os anos de 1999 e 2001 para ter direito a receber US$ 41,5 bilhões nesse período.
Pérez, que é cubano naturalizado norte-americano, veio para o Brasil há cerca de um ano justamente para facilitar o relacionamento entre o país e o Fundo. Nas missões trimestrais que avaliam o cumprimento das metas com o FMI, Pérez faz parte do grupo chefiado pela economista Tereza Ter-Minassian.
Entre os assessores do ministro Malan, o comentário ontem era sobre a origem do fundo de combate à pobreza. O presidente do Congresso, senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), levou à frente a idéia depois que o próprio diretor-gerente do FMI, Michel Camdessus, colocou a pobreza mundial em pauta na reunião anual do Fundo, no segundo semestre do ano passado.


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