São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 2000


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Grau de dependência é menor do que há um ano

GUSTAVO PATÚ
Secretário-assistente de Redação

O grau de dependência do país em relação ao FMI (Fundo Monetário Internacional), hoje, é muito menor que há um ano, quando o apoio do organismo era a única forma de obter dólares e fechar as contas com o resto do mundo.
No início de 1999, o governo havia acabado de realizar uma maxidesvalorização do real que antes prometera não promover. Sua dívida externa crescia na mesma proporção em que caía sua credibilidade.
O acordo com o FMI garantia um socorro de US$ 32,5 bilhões -cerca de US$ 18 bilhões do próprio Fundo, e o resto, dos países industrializados- e mais US$ 9 bilhões em financiamentos do Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento.
O pacote serviria, primeiro, para honrar compromissos externos no ano, algo como US$ 60 bilhões, e, depois, para segurar as altas do dólar e da inflação.
De lá para cá, as coisas correram mais favoravelmente que o esperado. Os preços não dispararam, e não houve a recessão projetada no acordo com o Fundo.
Para este ano, espera-se que as exportações superem as importações pela primeira vez desde 94. O déficit nas transações com o exterior poderá ser coberto com investimento externo na compra ou na criação de empresas no país.
O governo acha que não precisará de todo o dinheiro do acordo com o FMI. Dos recursos de socorro, foram US$ 20,2 bilhões tomados e US$ 8 bilhões já pagos.
Ainda no ano passado, anunciou-se que o acordo, que termina em 2001, não será renovado. O ano eleitoral de 2002, pelos planos oficiais, transcorrerá com menor restrição no Orçamento.
Essa relativa melhora -que pode muito bem ser dissipada se houver, por exemplo, uma nova instabilidade internacional- faz com que, no Executivo e no Legislativo, cresça a vontade de se libertar das imposições de austeridade do FMI.
Mesmo na Fazenda e no Banco Central, tradicionais defensores do controle fiscal e monetário, avalia-se que a cartilha do FMI não precisa ser seguida tão à risca.
Não há grande preocupação, por exemplo, com a possibilidade de descumprir as metas trimestrais de inflação, desde que os limites para o ano -de 4% a 8%- sejam respeitados.
Apesar de coincidências em várias posições, Fazenda e FMI não são aliados de longa data. Em 94, quando Fernando Henrique Cardoso era o ministro, o Fundo negou apoio ao acerto da dívida externa, base para o Plano Real.
Ninguém imagina, é claro, uma ruptura. Mas pode-se aproveitar a ocasião para dar algumas mostras de independência em relação ao organismo.


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