São Paulo, segunda-feira, 11 de julho de 2005

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TODA MÍDIA

Na cueca

NELSON DE SÁ

Nos dois canais de notícias, rádios e sites, o domingo foi de Tarso Genro, o gaúcho que é a nova cara do Partido dos Trabalhadores.
Ele prometeu maior controle das finanças, a investigação das denúncias etc. Mas sobretudo fez um esforço de "humildade". Dele, nos canais:
- Nós sabemos que é um abalo no prestígio do partido. Nós vamos recolher a lição com muita humildade e reconstruir nosso perfil político.
O novo perfil do PT, segundo o novo presidente:
- Um partido entre outros, não é somente o Partido dos Trabalhadores... um partido que entre outros quer ser referencial da ética pública e política no nosso país.
Está aí, o PT é só mais um.
 
Mas é cedo para proclamar a refundação e começar assim a "reconstruir a imagem", na manchete da Folha Online para o plano de Genro.
Outra imagem, a da "cueca", que foi insistentemente usada nas manchetes das Globos todas desde sábado, permanece no ar, como piada.
Eduardo Suplicy, que estava "de bom humor" após as trocas do fim de semana, "gargalhou" na Jovem Pan ao questionarem se trazia dólares na cueca, ele que foi à Argentina.
E no "Pânico na TV" de ontem o suspense recorrente, durante todo o programa, foi:
- A gente consegue colocar US$ 100 mil [de uma mala] na cueca da Sabrina?
No fim do programa, sim, eles conseguiram.
 
Chamado de "um símbolo" petista, José Genoino deixou a direção da legenda saudado no sábado por uma escalada de manchetes demolidoras no "Jornal Nacional":
- Cai o presidente do Partido dos Trabalhadores. Depois das acusações de envolvimento no "mensalão" e de financiamento ilegal de campanha; depois dos empréstimos ao PT assinados por ele e o empresário Marcos Valério; depois de ver o assessor do irmão preso com dinheiro, Genoino se afasta... E o homem preso com US$ 100 mil na cueca é demitido pelo PT.
E a coisa continuou ontem, na escalada do "Fantástico":
- Escândalo! O homem que carregava os dólares na cueca apagou a memória do celular, logo depois de ser preso.

O FUTURO

No quadro do "WSJ", "ligações perigosas"


Na cobertura ainda pontual no exterior, tanto "Washington Post" como "New York Times" deram breves registros sobre a queda da direção petista. Já o espanhol "El País" manteve os despachos quase diários.
E a novidade foi o "Wall Street Journal", com longa e preocupada reportagem na sexta, em sua pág. A5. O inquérito, segundo o enunciado, "se espalha e põe em perigo a agenda de Da Silva -e o seu futuro". Entende-se a preocupação:
- Mr. da Silva é visto por Wall Street e Washington como um pragmático que se esforça em combinar rigor macroeconômico com justiça social.
O site do "Financial Times", de sua parte, anunciou que a semana é de lançamento do plano de Lula para reorganizar gastos, "em uma tentativa desesperada de deslocar a atenção dos escândalos".

Divisão
A eleição do novo presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento, BID, chega à sua fase final, anunciou ontem o "Financial Times".
E desta vez um embaixador colombiano apoiado pelos EUA deve levar, não o brasileiro João Sayad, pois Argentina e Brasil, ao contrário do que aconteceu anteriormente na eleição da OEA, se dividiram.

Azedume
O "Miami Herald" voltou a dar destaque à "corajosa" política externa de Lula, que "elevou o perfil do Brasil", mas também outros resultados:
- Ele está transformando o país num pólo de poder, mas as relações do Brasil com vizinhos azedaram.
Em especial, apontou também o jornal, com a Argentina de Néstor Kirchner.

UM PREÇO ALTO
O "New York Times", o site Editor & Publisher e blogs americanos noticiaram com alarme, no fim de semana, que o jornal "The Plain Dealer", de Cleveland, desistiu de publicar duas reportagens de denúncia, baseadas em fontes de governo, após a prisão da repórter Judith Miller por não identificar suas fontes. No momento, a repórter do "NYT" dorme no chão da cela.
Do editor do "Plain Dealer", em texto no jornal:
- Cadeia é um preço muito alto para pagar.

nelsondesa@folhasp.com.br

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