São Paulo, segunda-feira, 11 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PARTIDO EM CRISE

Decisão vai na contramão da tentativa de separar legenda e governo; Tarso diz que ação visa dar transparência e integrar petistas à direção da sigla

PT vai monitorar os ministros do partido

EM SÃO PAULO

DA REPORTAGEM LOCAL

A Executiva do PT aprovou ontem uma resolução que busca monitorar o trabalho dos ministros do partido, em uma tentativa de reverter a erosão de sua influência junto ao governo causada pela reforma ministerial.
A medida determina aos ministros petistas a prestação formal e periódica de contas sobre os assuntos de suas pastas.
Segundo o novo presidente do PT, ministro Tarso Genro (Educação) -que deve permanecer na pasta até o final do mês-, a idéia é conferir transparência a um relacionamento que já acontecia nos bastidores.
Na opinião dele, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não deve contas ao PT, mas sim a toda sociedade. "Mas o relacionamento com os ministros é diferente. Entendemos que os ministros devem informação ao partido."
A determinação segue na contramão da promessa de delimitar mais claramente a separação entre partido e governo. A suposta "confusão" entre as duas instâncias é apontada internamente como a origem de muitos dos atuais problemas políticos.
Nada simbolizou melhor essa mistura do que as funções confiadas a dois dirigentes sem cargo no governo e sem mandato: Delúbio Soares, tesoureiro afastado, e Silvio Pereira, secretário-geral licenciado -este que é responsável pelo loteamento de cargos de confiança no governo e em estatais.
A forma e a freqüência das prestações de contas do ministério ao PT serão definidas pela secretaria-geral da sigla em documento a ser entregue no próximo dia 19.
Para Tarso, a medida não significa que o PT busca interferir nas ações de governo, mas que tem a "obrigação de colaborar" com os ministros da sigla. "Temos que integrar melhor os ministros do PT com a direção partidária, para que haja uma colaboração melhor com o governo Lula."
Tarso ponderou que a proposta não representa um juízo prévio a respeito do desempenho dos ministros petistas. Desempenho este, afirmou ele, considerado positivo pela Executiva.
O ex-ministro do Trabalho Ricardo Berzoini, que assumiu a secretaria-geral do PT, no entanto, disse que o partido precisa ter consciência de que é a principal sigla do governo, mas que precisa separar o governo do partido.
O PT tem hoje 17 dos 33 cargos de primeiro escalão do governo Lula, incluindo ministérios e secretarias especiais. O partido perdeu recentemente pastas importantes para o PMDB, como Saúde e Minas e Energia, e deve ver seu espaço ainda mais reduzido na reforma ministerial.
A tentativa de controlar de perto sua fatia é uma reação do partido à "despetização" do ministério. A preocupação com a timidez na influência junto ao governo é nítida sobretudo nas alas minoritárias do PT, que acusam o partido de ceder espaço para legendas fisiológicas como PL, PP e PTB.
Tarso também afirmou que irá realizar um esforço para unificar o PT. Isso apesar de o Campo Majoritário, ala que detém 60% do PT, ter ignorado a opinião das minorias na composição da nova Executiva. "Como presidente do partido, quero contribuir de forma mais aberta, garantir um relacionamento mais flexível com as pessoas do partido". Sobre as críticas de alguns petistas que reclamam maior espaço no partido, disse: "Eles terão essa oportunidade [de participar]". (FÁBIO ZANINI E LILIAN CHRISTOFOLETTI)

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