São Paulo, segunda-feira, 11 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PARTIDO EM CRISE

Novo presidente, Tarso Genro anuncia comissão para analisar finanças da legenda

Acuado, PT faz "pacote ético" e investigará antiga direção

Daniel Augusto Jr. - 9.jul.2005/EFE
O ministro da Educação, Tarso Genro, novo presidente do PT, cumprimenta José Genoino, que se afastou do comando do partido


LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

FÁBIO ZANINI
EM SÃO PAULO

O presidente do PT, Tarso Genro, anunciou ontem, menos de 24 horas depois de assumir o cargo, medidas para investigar as ações da antiga direção e mudar procedimentos internos.
Aprovadas pela Executiva Nacional do partido, as ações têm o intuito de retomar a iniciativa política e retirar o PT do maior atoleiro de sua história.
Nesta semana, iniciam-se duas investigações internas na Comissão de Ética petista para apurar as atividades do ex-secretário-geral Silvio Pereira, que fazia o loteamento político dos cargos de confiança no governo, e do ex-tesoureiro Delúbio Soares, responsável pelos empréstimos bancários que tiveram como avalista o publicitário Marcos Valério de Souza, acusado de operar o "mensalão", suposto esquema de compra de apoio de parlamentares pelo PT.
A investigação da Comissão, surgida com base em pedidos dos próprios investigados, fará um levantamento das atividades de Silvio e Delúbio e tomará depoimentos de testemunhas.
Os processos devem durar 60 dias, prorrogáveis por mais 30, e podem propor sanções como suspensão ou mesmo expulsão -hipótese hoje considerada remota.
Também foi criada uma comissão especial, encabeçada pelo novo tesoureiro, José Pimentel, para fazer uma análise da situação financeira do partido. O PT registrou prejuízo de R$ 20 milhões no ano passado e ainda deve R$ 5,4 milhões aos bancos BMG e Rural. Marcos Valério é credor de R$ 350 mil de uma parcela que pagou do empréstimo do BMG.
A comissão inicialmente fará uma análise da atual situação, sugerindo medidas saneadoras, em um relatório a ser apresentado no próximo dia 19. Uma auditoria interna, contendo possíveis punições, pode se seguir, para apontar os motivos da crise financeira.
"Quando conversei com o Pimentel sobre as finanças do partido ele ficou mais careca do que já é", disse Tarso, em referência ao novo tesoureiro, que é calvo.
Ainda no esforço de mostrar serviço, foi estabelecido o "diário do tesoureiro": a obrigação de o titular do cargo registrar em uma agenda todos os contatos que fizer com doadores, com o objetivo declarado de evitar que novos empréstimos sejam efetuados sem conhecimento do partido.
A prioridade da nova política financeira será "livrar" o partido das incômodas dívidas com Valério e com os bancos. "Vamos examinar nosso passivo financeiro e fazer um cronograma de pagamentos. A preferência naturalmente é nos livrarmos das dívidas que estão aparecendo na imprensa, que trazem mais complicação política", declarou Tarso.
Por fim, o PT criou um "gabinete de crise", a cargo do novo secretário-geral, Ricardo Berzoini, que será formado por técnicos e políticos do partido para coordenar a resposta às denúncias atuais e a outras que possam surgir. "Queremos melhorar a qualidade da nossa resposta à sociedade", disse Berzoini. A urgência em fazer apurações e montar comissões atende a um sentimento dentro do PT de compensar a lentidão inicial na resposta à crise.
Segundo avaliações internas, a antiga direção, com o ex-presidente José Genoino à frente, perdeu muito tempo desqualificando as "denúncias vazias" e demorou a perceber a seriedade dos fatos.

"Grande virada"
Segundo Tarso, um dos erros do PT foi reivindicar exclusividade da bandeira ética. "Cometemos um erro ao jogar exclusivamente nas costas do PT a imagem do único partido de ética. Isso não é verdade. Somos um referencial, mas não queremos ser os únicos", afirmou o novo presidente.
Usando frases de efeito como "grande virada" e "recuperar densidade ética", ele reconheceu a gravidade da crise. "Recebemos um recado da sociedade de que algo não vai muito bem no PT. Temos um trabalho muito árduo, muito difícil", declarou.

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