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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PARTIDO EM CRISE
Novo presidente, Tarso Genro anuncia comissão para analisar finanças da legenda
Acuado, PT faz "pacote ético" e investigará antiga direção
Daniel Augusto Jr. - 9.jul.2005/EFE
![](https://cdn.statically.io/img/www1.folha.uol.com.br/../images/n1107200501.jpg) |
O ministro da Educação, Tarso Genro, novo presidente do PT, cumprimenta José Genoino, que se afastou do comando do partido |
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
FÁBIO ZANINI
EM SÃO PAULO
O presidente do PT, Tarso Genro, anunciou ontem, menos de 24
horas depois de assumir o cargo,
medidas para investigar as ações
da antiga direção e mudar procedimentos internos.
Aprovadas pela Executiva Nacional do partido, as ações têm o
intuito de retomar a iniciativa política e retirar o PT do maior atoleiro de sua história.
Nesta semana, iniciam-se duas
investigações internas na Comissão de Ética petista para apurar as
atividades do ex-secretário-geral
Silvio Pereira, que fazia o loteamento político dos cargos de confiança no governo, e do ex-tesoureiro Delúbio Soares, responsável
pelos empréstimos bancários que
tiveram como avalista o publicitário Marcos Valério de Souza, acusado de operar o "mensalão", suposto esquema de compra de
apoio de parlamentares pelo PT.
A investigação da Comissão,
surgida com base em pedidos dos
próprios investigados, fará um levantamento das atividades de Silvio e Delúbio e tomará depoimentos de testemunhas.
Os processos devem durar 60
dias, prorrogáveis por mais 30, e
podem propor sanções como suspensão ou mesmo expulsão -hipótese hoje considerada remota.
Também foi criada uma comissão especial, encabeçada pelo novo tesoureiro, José Pimentel, para
fazer uma análise da situação financeira do partido. O PT registrou prejuízo de R$ 20 milhões no
ano passado e ainda deve R$ 5,4
milhões aos bancos BMG e Rural.
Marcos Valério é credor de R$ 350
mil de uma parcela que pagou do
empréstimo do BMG.
A comissão inicialmente fará
uma análise da atual situação, sugerindo medidas saneadoras, em
um relatório a ser apresentado no
próximo dia 19. Uma auditoria interna, contendo possíveis punições, pode se seguir, para apontar
os motivos da crise financeira.
"Quando conversei com o Pimentel sobre as finanças do partido ele ficou mais careca do que já
é", disse Tarso, em referência ao
novo tesoureiro, que é calvo.
Ainda no esforço de mostrar
serviço, foi estabelecido o "diário
do tesoureiro": a obrigação de o
titular do cargo registrar em uma
agenda todos os contatos que fizer com doadores, com o objetivo
declarado de evitar que novos
empréstimos sejam efetuados
sem conhecimento do partido.
A prioridade da nova política financeira será "livrar" o partido
das incômodas dívidas com Valério e com os bancos. "Vamos examinar nosso passivo financeiro e
fazer um cronograma de pagamentos. A preferência naturalmente é nos livrarmos das dívidas
que estão aparecendo na imprensa, que trazem mais complicação
política", declarou Tarso.
Por fim, o PT criou um "gabinete de crise", a cargo do novo secretário-geral, Ricardo Berzoini, que
será formado por técnicos e políticos do partido para coordenar a
resposta às denúncias atuais e a
outras que possam surgir. "Queremos melhorar a qualidade da
nossa resposta à sociedade", disse
Berzoini. A urgência em fazer
apurações e montar comissões
atende a um sentimento dentro
do PT de compensar a lentidão
inicial na resposta à crise.
Segundo avaliações internas, a
antiga direção, com o ex-presidente José Genoino à frente, perdeu muito tempo desqualificando
as "denúncias vazias" e demorou
a perceber a seriedade dos fatos.
"Grande virada"
Segundo Tarso, um dos erros do
PT foi reivindicar exclusividade
da bandeira ética. "Cometemos
um erro ao jogar exclusivamente
nas costas do PT a imagem do
único partido de ética. Isso não é
verdade. Somos um referencial,
mas não queremos ser os únicos",
afirmou o novo presidente.
Usando frases de efeito como
"grande virada" e "recuperar
densidade ética", ele reconheceu a
gravidade da crise. "Recebemos
um recado da sociedade de que
algo não vai muito bem no PT.
Temos um trabalho muito árduo,
muito difícil", declarou.
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