São Paulo, domingo, 10 de abril de 2005

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ELIO GASPARI

O poder do monsenhor do Papa

Um conhecedor da política do Vaticano sugere:
O rumo do próximo pontificado poderá ser percebido pelo destino que será dado ao bispo Stanislaw Dziwisz, guardião do acesso e da atenção de João Paulo 2�. Monsenhor Dziwisz trabalhou com Karol Wojtyla desde 1966. Foi nos seus braços que o papa caiu após ser baleado na praça São Pedro, em 1981, e foi diante dele que morreu, num cenário onde não havia um único religioso italiano.
Dziwisz teria ouvido as últimas palavras do papa agonizante. (Segundo alguns cardeais, João Paulo 2� não falava desde a véspera.) O monsenhor polonês foi um dos poderes do Vaticano e tudo indica que sairia cardeal no próximo consistório, engavetado pela morte do sumo pontífice.
Guardadas as proporções, nos últimos tempos Dziwisz teve dois precursores. Um foi o monsenhor Paul Marcinkus, o padre americano que tinha a confiança de Paulo 6� (1963-1978). Chegava a funcionar como seu guarda-costas e atracou-se com um boliviano maluco que tentou esfaqueá-lo nas Filipinas, em 1970. João Paulo 2� prestigiou-o, mantendo-o na direção do banco do Vaticano.
Marcinkus repassou US$ 32 milhões ao movimento democrático polonês Solidariedade, liderado por Lech Walesa, aquele que Lula chamou de "pelegão" no documentário "Entreatos".
O banqueiro do papa naufragou num escândalo onde misturaram-se máfia, maçonaria, desfalques e mortes. Marcinkus renunciou em 1990 e vive (calado) no Arizona. Sua alma impregnou o Vaticano da última versão do "Poderoso Chefão" e todas as lendas do assassinato de João Paulo 1�.
Antes de Marcinkus, o Vaticano teve a poderosa madre Pasqualina, guardiã de Pio 12 (1939-1958). Era uma freira alemã e acompanhou o cardeal Pacelli desde o tempo em que ele era núncio em Berlim. Foi sua governanta e secretária. Era ela quem protegia o papa dos germes (com desinfetantes) e dos indesejados (fechando a porta). Como Pacelli viveu os últimos anos do seu pontificado entre doenças, visões e isolamento, madre Pasqualina ganhou o apelido de "Papisa". Foi dispensada por João 23, o novo papa.
Dziwisz está muito mais para Pasqualina do que para Marcinkus.

Eremildo confundiu-se com o AeroLula

Eremildo é um idiota. Sempre defendeu a importação do AeroLula. Afinal, o companheiro precisava de um avião que tivesse autonomia de 8.400 km, suficiente para levá-lo de Brasília a Paris. Para quê, o idiota nem quis saber. A exigência dessa autonomia tirou a Embraer da parada e a empresa foi compreensiva, pois anunciou que não pretendia fabricar esse tipo de avião nos próximos cinco anos.
O idiota achou razoável o preço de US$ 56,7 milhões. Afinal, comprava-se um avião com 40 lugares. Esse era o número divulgado pelo governo.
Por mais que o idiota se esforce, não consegue explicar por que numa viagem a Roma o AeroLula fez escala no Recife. Desse jeito, o ERJ-190 da Embraer, cujo lançamento foi presidido por Lula, daria conta do recado. Afinal, a empresa é financiada pelo BNDES, emprega mão-de-obra nativa e seu modelo teria custado US$ 30 milhões, pouco mais que a metade do que cobraram à Viúva pelo Airbus.
O idiota percebeu a autonomia de sua ignorância quando viu o que sucedeu aos 40 lugares do avião do companheiro. Transformaram-se em 16. Subtraindo-se cinco assentos, ocupados pela comitiva pessoal do presidente, sobraram 11.
Em benefício da empresa que fabricou o Airbus de Lula, o avião pode transportar 55 pessoas. Se agora só cabe uma comitiva de 11 bípedes estranhos à burocracia do Planalto, isso se deve ao tipo de decoração que os companheiros escolheram para o AeroLula e ao tamanho do séquito que gostam de ter por perto.

Çábio do Mês
O Palácio do Planalto deveria criar o prêmio Çábio do Mês. O troféu de abril iria para o companheiro que teve a idéia de anunciar que Lula levaria consigo para Roma os quatro cardeais brasileiros que participarão do conclave.
Não tiveram a cortesia de perguntar a cada um deles se aceitava o convite. Ofenderam os cardeais atribuindo-lhes uma opção preferencial pela mordomia e menosprezaram a independência da igreja. Sabe-se que o chefe-de-gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, convidou d. Geraldo Majella, arcebispo de Salvador e presidente da CNBB.
O presidente voou sem cardeal nenhum. Teve a companhia de Severino Cavalcanti, o fundador da teologia da contratação.

FFFHHH
Já são umas dez as pessoas a quem FFHH indicou que, se disputar a Presidência, não desejará a reeleição. Se o anel de Lula for de vidro e se quebrar, FFFHHH irá à luta. Do contrário, não irá na bola.

Fantasia urbana
Andrea Matarazzo, o subprefeito do centro de São Paulo, vem listando cenas e personagens da vida da cidade que parecem ser uma coisa e muitas vezes são bem outra:
Um cidadão puxando uma carroça carregada de papel velho é um carroceiro. Pode também ser o transportador de CDs, vídeos e programas de computador pirateados.
Um hotel pequeno e sujo é um ponto de descanso para quem tem pouco dinheiro ou de encontros amorosos para o pessoal da região. É, sobretudo, um ponto de entrega e distribuição dos traficantes de drogas.
Outro dia um fiscal da prefeitura foi inspecionar um pequeno cabeleireiro. Entrou num corredor e saiu num galpão de 400 metros quadrados, repleto de muamba.

Presente
Aos 83 anos, Hélio Bicudo colocou um ponto final no seu livro de memórias. São cerca de 300 páginas contando a vida de um valente personagem da vida brasileira na segunda metade do século 20.
Bicudo foi chefe-de-gabinete do ministro da Fazenda (Carvalho Pinto) e não alterou sua declaração de bens.
Procurador do Estado de São Paulo, foi atrás das malfeitorias do delegado Sérgio Fleury, grão-duque da repressão política da ditadura, e levou-o à cadeia.
Fundou o Partido dos Trabalhadores, foi vice-prefeito de São Paulo e nunca fumou um charuto Cohiba.
O livro sai na segunda metade do ano.

Tom Jucá
O Brasil tem Romero Jucá, que garante empréstimo em banco público com sete fazendas inexistentes, e tem Lula, que o mantém no cargo de ministro da Previdência, logo da Previdência.
Os americanos têm o líder do governo na Câmara, Tom DeLay, republicano, temente a Deus e a Bush. Sua mulher e sua filha já receberam meio milhão de dólares do caixa um da campanha do doutor. Caixa um é aquele em que o dinheiro tem origem e destino rigorosamente contabilizados.
Se a turma de Severino Cavalcanti e do ministro Jucá pudesse dar meio milhão de dólares a cada mulher de deputado, não haveria nepotismo em Brasília.

Erro
O leitor que assina suas mensagens como Dontimp Maruli, de 14 anos, corrige: para falar ao telefone pela internet por meio do programa Skype não é necessário estar conectado por banda larga. Linha discada serve. A ligação perde qualidade, mas, mesmo assim, vale a pena.


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