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PODER DA PALAVRA
Para Antonio Lavareda, imagem negativa do deputado do PP pode contaminar a do presidente
Severino usa mesmas "armas retóricas" de Lula, diz sociólogo
FLÁVIA MARREIRO
PAULA LAGO
DA REDAÇÃO
O apelo midiático de Severino
Cavalcanti (PP-PE) está causando
danos em um dos maiores trunfos
do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva: a força do discurso.
A opinião é do sociólogo e publicitário Antonio Lavareda, para
quem a repulsa ao "estilo" de Severino pode atrapalhar a recepção
das falas de Lula. "Esse "efeito Severino" durante algum tempo diminui o impacto, desqualifica ou,
pelo menos, faz ser avaliada de
forma menos positiva a "sinceridade", a emoção e a simplicidade
do discurso do Lula", diz ele, cujo
trabalho atual é preparar a propaganda do PFL, e, por tabela, o candidato a anti-Lula em 2006, o prefeito do Rio Cesar Maia.
Antes apelo exclusivo de Lula,
não raro a boca faz Severino roubar a cena, quer em Brasília ou em
Roma. Na análise do publicitário,
essa overdose severina pode atrapalhar Lula pelo fato de usarem as
mesmas "armas retóricas".
Lavareda argumenta que, dividindo o discurso político em três
pares de "pólos", nos três Lula e
Severino estão no mesmo ponto:
entre o da emoção e o da racionalidade, ficam no primeiro; os dois
também usam simplicidade argumentativa em contraponto à sofisticação; e as duas falas gozam
de "percepção de sinceridade"
perante a população em vez da
"obliqüidade" comum.
Katia Saisi, professora do curso
de especialização em Marketing
Político e Propaganda Eleitoral da
ECA-USP (Escola de Comunicações e Artes da Universidade de
São Paulo), avalia que o mais significativo é que o campo dessa
"batalha discursiva" é o midiático. "É preciso separar o jogo político da percepção que a população tem dessa movimentação. E
refletir se toda essa questão não
atrai mais a atenção da mídia e
dos próprios políticos do que da
população", afirma.
Para o antropólogo Otávio Velho, professor do Museu Nacional
da UFRJ, porém, Severino não
tem cacife para "roubar a cena"
discursiva. "Ele não tem essa força e não acredito que venha a ter.
A audiência de Lula é nacional."
Velho acentua as diferenças:
"Sem dúvida existem semelhanças, mas são formais, não de conteúdo. O que fazem é quebrar, por
motivos diferentes, em nome de
uma "retórica da espontaneidade",
o discurso político instituído".
O publicitário Chico Malfitani,
54, que trabalha com campanhas
políticas desde 1984 (já acompanhou as de Luiza Erundina e a de
William Dib, prefeito atual de São
Bernardo do Campo), endossa a
análise de Velho. Para ele, são figuras opostas. "Lula é fruto de um
movimento da opinião pública
que queria transformação." Já Severino, prossegue, "foi eleito por
currais eleitorais do Nordeste,
chegou ao posto [de presidente da
Câmara] por uma articulação política". "Sua imagem é oposta à
que o povo queria ao eleger Lula."
O que pode "misturar" as imagens de ambos, diz Malfitani, é o
"jogo sujo do Congresso". "A troca de cargos, a relação promíscua
entre o poder central e o Legislativo os aproximam."
"O risco é as pessoas acharem
que o Lula é o Severino. Isso seria
muito negativo não para o governo, não para um partido, mas para a democracia do país", salienta.
Origens
Lavareda usa as coincidências
biográficas para compará-los,
mas também vê a diferença de
conteúdo, advinda da trajetória
política: "Além de pernambucanos, ambos têm origem humilde e
migraram para São Paulo. Mas,
ao voltar para Pernambuco, Severino fez uma carreira política tradicional. Ao ficar, Lula teve uma
escola moderna, o sindicalismo".
Por afirmar que Lula e Severino
partilham agora de uma mesma
"categoria" é que, para Lavareda,
essa carga negativa pode "contaminar" a fala de Lula -capaz de
fazer uma "gafe" ou um "excesso"
trocar de sinal na opinião pública:
"FHC cometeria uma gafe. Lula
comete uma sinceridade", brinca.
Já o que causa desconforto e repulsa no discurso de Severino, antes de serem as opiniões propriamente ditas, é o "excesso de transparência" do presidente da Câmara, incompatível com o discurso político, diz Otávio Velho.
E esse mesmo Severino, atacado
como "símbolo do atraso", é o garoto-propaganda da classe média
e da elite, como no caso da derrubada da MP 232, que aumentaria
impostos para prestadores de serviços. "São posturas táticas. Severino nota também que, no momento em que ele está sob fogo
cerrado, ele precisa se abraçar em
bandeiras de maior legitimidade", explica Antonio Lavareda.
Ney Figueiredo, 67, consultor
político, analisa o momento de
Severino como seus "15 minutos
de fama": "Lula é vôo de águia, e
Severino, de galinha. Severino está em seu momento de glória, é o
homem humilde que quer mostrar que deu certo. A elite quer
cooptá-lo para que ele não faça a
coisa errada. E ele, entrar para um
clube ao qual não era convidado."
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