São Paulo, domingo, 10 de abril de 2005

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DIPLOMACIA

Presidente começa hoje roteiro de visitas a cinco países do continente

Lula busca na África novos aliados contra protecionismo

EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em sua quarta visita à África desde que assumiu o governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva buscará, a partir de hoje, ampliar o bloco de articulações do G20 para que os países em desenvolvimento, liderados pelo Brasil, tenham força para romper barreiras comerciais impostas pelas economias mais avançadas, com destaque para Estados Unidos e União Européia.
O G20 é um grupo de países em desenvolvimento, criado em 2003, que luta contra o protecionismo agrícola do Primeiro Mundo. Recentemente, ações movidas pelo Brasil, sob o enfoque do G20 e com o apoio de países africanos, conquistaram vitórias na OMC (Organização Mundial do Comércio), como as contestações aos subsídios concedidos pelos EUA aos seus produtores de algodão e às barreiras impostas pela União Européia contra a importação de frango congelado.
"Essa articulação permite melhores condições de os países do sul [América do Sul e África] negociarem com o norte [EUA e Europa]", disse à Folha o embaixador Pedro Motta Pinto Coelho, diretor do Departamento da África do Itamaraty.
A passagem por Camarões, Nigéria, Gana, Guiné-Bissau e Senegal também pode servir para o país obter formalmente novos apoios à reforma da ONU (Organização das Nações Unidas) e à concessão de uma cadeira definitiva ao Brasil no Conselho de Segurança da entidade -principal meta da política externa do país.
Lula e a comitiva presidencial passarão por países em plena democratização. Alguns deles, dez anos atrás, viviam em regime de partido único, com ditaduras militares e civis. Hoje, porém, a exceção é Camarões, país governado desde 1982 por Paul Biya.
A questão política local, porém, é vista com cautela pelo Itamaraty. "Não trabalhamos com o objetivo de interferir na política interna dos países, mas apreciamos que, nesse roteiro, a maior parte dos países se consolida com presidentes que, inclusive, vêm da oposição. O continente, visivelmente, está mais democrático", disse o embaixador Pedro Motta.
O simbolismo das relações africanas com o país também será tratado na viagem. No Senegal, Lula visitará, na ilha de Gorée, o local em que os escravos se concentravam antes de embarcar para o Brasil. E, em Gana, será firmado acordo para a restauração da Casa Brasil, onde vivem os remanescente de escravos que atuaram em território brasileiro dois séculos atrás.
Em todos os países, serão assinados acordos nas áreas de saúde e educação. Na questão educacional, por exemplo, haverá um incentivo para que professores do continente venham ao Brasil para dar aulas de cultura africana.
Na programação da viagem, segundo o Itamaraty, não estão colocados eventuais perdões de dívidas dos países visitados. O maior débito com o Brasil é o da Nigéria -cerca de R$ 160 milhões (o valor aproximado do novo Airbus da Presidência).
Guiné-Bissau, de língua portuguesa e o mais pobre entre os cinco, tem uma dívida de R$ 24,5 milhões com o país.


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