São Paulo, segunda-feira, 05 de dezembro de 2005

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TODA MÍDIA

Em negociação

NELSON DE SÁ

Mais do que o casamento de Onassis, mais do que o campeonato de Corinthians, o que chama atenção para o Brasil no noticiário mundial, ao menos nos serviços de busca, são as negociações de comércio.
A resistência do Brasil dividiu os ricos EUA e União Européia -e agora a própria UE.
O racha europeu era o título da longa reportagem de ontem no "New York Times" e em sua versão parisiense, o "International Herald Tribune".
A divisão foi acentuada pela proposta de Brasil e Índia, que lideram o G20, de países em desenvolvimento, para negociar as tarifas de produtos industriais -desde que a Europa corte subsídios agrícolas.
Ato contínuo, segundo o londrino "Observer", o ministro britânico das finanças, Gordon Brown, "ignorou o acordo de Tony Blair", primeiro-ministro, e "atacou os franceses", maiores partidários dos subsídios.
No parisiense "Le Monde", nem registro da pressão.
 
A divisão, curiosamente, chegou à própria França.
Segundo o "Financial Times", dias atrás o novo presidente da federação dos empresários franceses "quebrou o tradicional silêncio sobre assuntos agrícolas" e "atacou o lobby dos fazendeiros" nas negociações.
Também inusitadamente, a divisão chegou à Grã-Bretanha. Gordon Brown questionou abertamente a proposta de corte nos subsídios europeus apresentada por Peter Mandelson, hoje representante comercial da União Européia -e antes o ministro mais poderoso de Blair, seu amigo pessoal.
Mandelson, em artigo no londrino "Guardian" de sexta, vem buscando isolar Brasil e Índia, apelando aos "países mais pobres", e foi atropelado por Brown. Mas ganhou aplausos na França, segundo o "NYT".
 
Da parte do Brasil, falaram pelo país no exterior e até em manchete do "Jornal da Record", no sábado, os ministros Antonio Palocci e Celso Amorim, ambos na Europa para o encontro do G7, dos "países mais ricos".
E ambos com ataques pesados à França.

br.arcoiris.tv/Telesur/Reprodução
Depois de votar, Chávez discursa ao vivo pelo canal Telesur


ACACHAPANTE
Para o comentarista escalado pela BBC, o ex-correspondente do "Guardian" em Caracas, o que aconteceu ontem na Venezuela foi simples:
- Ao não participar da eleição, a oposição tira, até certo ponto, parte da legitimidade. É o objetivo dos partidos, porque eles têm muito pouco apoio e seu desempenho seria ruim. Então, desistiram pensando que conseguiriam mais publicidade não participando.
A cobertura do "Financial Times", traduzida no UOL, foi na mesma linha, "oposição retira candidaturas prevendo derrota acachapante". Não para o comentarista político venezuelano Teodoro Petkoff:
- Chávez terminará obtendo uma assembléia no estilo soviético, dominada por um partido único.
 
De sua parte, ao vivo pelo canal Telesur, que não tem reprodução por Sky, DirecTV, Net ou TVA, mas que se pode assistir pela internet, o presidente Hugo Chávez acusou a oposição e os EUA de golpe.
No discurso sem fim, tratou de lembrar que seu país "marcha muito bem no concerto das nações do mundo". Em especial, a "integração ao Mercosul":
- Quanta diferença com a Venezuela dez anos atrás.

'High society'
Precedida por reportagem na revista americana "Vanity Fair", a cobertura do "casamento grego" que uniu "o high society grego e brasileiro", na ironia do britânico "Observer", já surgia ontem em toda parte.
Em meio à revoada de helicópteros, lá estava o Globocop, para Glória Maria anunciar o "final feliz para um conto de fadas". E tome cifras sem fim, do número de seguranças ao de garrafas de champanhe. E tudo diante do belo Palácio dos Bandeirantes -a dez quadras de uma das maiores favelas de São Paulo.

'El Rey en Brasil'
O locutor Galvão Bueno resistiu, nada berrou, mas a imagem na tela da Globo anunciou logo, "tetracampeão". Também o "Fantástico" abriu bradando que "o Corinthians é o campeão brasileiro", com direito ao hino e cenas emocionantes.
Folha Online e outros sites foram bem mais contidos.
Como a Globo, só mesmo os sites argentinos. O comedido "La Nación" deu até manchete, "Tevez es el Rey en Brasil", ou Tevez é o rei no Brasil.

nelsondesa@folhasp.com.br

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