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Líderes políticos a favor do golpe de 64 ganharam, mas não levaram
PLÍNIO FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
Os governadores Adhemar de
Barros (PSP-SP), Carlos Lacerda
(UDN-Guanabara) e José Magalhães Pinto (UDN-MG)- principais lideranças políticas em defesa do golpe militar que derrubou
João Goulart- amanheceram o
1� de abril de 1964 vencedores.
Mas acabaram derrotados pelo
regime instalado a partir dali.
A melhor definição do que
ocorreu nas horas próximas ao
golpe, 40 anos atrás, talvez tenha
sido do general Osvaldo Cordeiro
de Farias (1901-1981):
"O Exército dormiu janguista
no dia 31 e acordou revolucionário no dia 1�", afirmou ele aos sociólogos Aspásia Camargo e Walder de Góes, no livro "Meio Século de Combate - Diálogo com
Cordeiro de Farias" (Nova Fronteira, 1981). A frase foi redescoberta por Elio Gaspari, em seu "A
Ditadura Envergonhada" (Companhia das Letras, 2002).
Se da noite para o dia revelou-se
a não-existência do "dispositivo
militar" de Jango, os políticos que
apoiaram os militares começaram a ter certeza de sua própria
derrota 112 dias depois do golpe,
primeiro com o adiamento da
eleição presidencial direta de 1965
e, 19 meses depois, com sua transformação em pleito indireto, na
edição do Ato Institucional n� 2.
"Iniciado um processo de intervenção militar, o poder civil passa
a ser tributário do núcleo duro
militar, que sempre tem a hegemonia dos radicais", diz Aspásia
Camargo, doutora em sociologia
pela Universidade de Paris.
Conspiradores, Barros e Lacerda já haviam sido lançados candidatos a presidente, na eleição programada para outubro de 1965, e
Magalhães Pinto havia tentado se
viabilizar como tal. O principal
adversário de todos era Juscelino
Kubitschek (PSD). Pesquisa à
época colocava JK como favorito,
com 37% das intenções de voto,
contra 25% de Lacerda.
Adhemar de Barros (1901-1969),
ao ver o comício da Central do
Brasil em que Jango defendeu as
reformas de base, organizou a
reação com a Marcha da Família
com Deus pela Liberdade: "O que
está aí será derrubado", disse.
Sete meses antes do golpe, Lacerda (1914-1977) afirmava, em
entrevista, que os militares discutiam, a respeito de Jango, como
"tutelá-lo, patrociná-lo, colocá-lo
sob controle até o fim do mandato
ou destituí-lo agora mesmo".
Magalhães Pinto (1909-1996) articulou e estimulou o levante das
tropas de Minas que precipitou o
golpe e colocou os 25 mil homens
na Polícia Militar do Estado "em
defesa da Revolução".
A derrota das lideranças civis
pró-golpe fica clara com a cassação de Adhemar de Barros, Lacerda e JK e a frustração dos planos
de Magalhães Pinto, que chegou a
ser ministro das Relações Exteriores, mas teve de abortar o projeto
de se tornar presidente.
As raízes do golpe contra Jango
estão centradas na área política.
"O empresariado apoiou o movimento de 64 não por causa da política econômica em vigor, mas
em razão da crise de confiança
provocada pelas forças políticas
de Jango", analisa Maria Celina
D'Araújo, doutora em ciência política e coordenadora do Centro
de Pesquisa e Documentação de
História Contemporânea da Fundação Getúlio Vargas.
Jango começa a cair, na opinião
de Aspásia Camargo, quando se
inicia um processo em que perde
peças civis e militares do centro
político que JK havia montado.
"A ação militar foi o último elo
da cadeia de desesperança. Foi
uma reação a um projeto que não
tinha consistência real. Faltava
um projeto econômico claro e havia o temor de o projeto político
ser uma alternativa como a peronista, com a concentração de poder no presidente", diz Aspásia.
Na visão de quem esteve dentro
do golpe, a intervenção militar deveria ter sido curta, e o poder,
transferido às lideranças civis rapidamente. "O resultado foi que a
revolução militar foi colocada para fora com um pé na bunda",
afirma hoje o general reformado
Newton Cruz.
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