São Paulo, Domingo, 21 de Novembro de 1999


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BLUR
"Nós não somos britpop", diz Graham Coxon

MARCELO NEGROMONTE
da Redação
 "There's no other way, all you can do is watch them play"*, Blur em "There's No Other Way" (91)
Se há uma banda que nasceu e cresceu durante esta década e ainda é um dos melhores grupos de rock que existe, ela se chama Blur -e mantém-se cada vez mais sólida, como poucas.
A primeira vez no Brasil é uma vantagem para os paulistanos: o Blur vai traçar um breve histórico da banda, se apresentando ao país com um apanhado dos hits dos primeiros álbuns, como "Song 2" (você sabe qual é), "Country House", "Girls and Boys", "There's No Other Way", "Parklife", mais "Coffee & TV", "Tender", do último, "13", entre outras. Todos ecoarão no Credicard Hall hoje, "Sunday Sunday".
Os ingleses Damon Albarn, Graham Coxon, Alex James e Dave Rowntree estrearam em álbum à época do grunge norte-americano, foram peças-chave do britpop (passaram pela ascensão e extermínio do gênero), quase terminaram com a banda, se bandearam para o indie rock (tatuando um dos hinos desta década, "Song 2") e estão no ápice - hoje, no "End of a Century".
Foi com o terceiro álbum, "Parklife" (94), que o Blur começou a emergir do mar de guitar bands que inundavam a Inglaterra, com "Girls & Boys" de carro-chefe, seguido dos singles da faixa-título e "To the End".
Em 95, com uma pequena ajuda do seu "inimigo", o Oasis, Blur encarou a rixa de araque, antecipando o lançamento do single "Country House" em uma semana apenas para coincidir com a data de lançamento de "Roll with It", dos Gallagher. Pronto. Ganharam ambos com a promoção.
Depois de "The Great Escape" (95) -o Oasis estava "vencendo" fácil com "What's the Story (Morning Glory)"- a banda entrou em crise e quase acabou, em 96. Eis que surgiu "Blur" (97), com a potente "Song 2", disco que começou a fugir das amarras britpop -e a "Magic America" ficou mais receptiva ao quarteto.
O redirecionamento musical do Blur chega a "13" (99), disco de amor partido, revigorante e surpreendente -os já trintões não envelheceram.
Fatos da "Pop Scene" recente: este mês, o Blur foi escolhido pela revista inglesa "Q" como a melhor banda do mundo (e William Orbit, o melhor produtor por "13"), Damon Albarn é pai há sete semanas, fez uma apresentação vibrante no último Reading Festival, na Inglaterra, e "13" é um dos melhores discos da banda. E Blur segue com o cetro da herança inglesa das guitar bands da dinastia dos Kinks, Who, Jam, Madness, Smiths. Enquanto isso, o "Fool" Oasis...
Leia abaixo entrevista com o guitarrista Graham Coxon, que lançou um disco solo no ano passado, enfrentou problemas com o álcool e tem participação mais ativa em "13": cantou e compôs "Coffee & TV" e "Tender" (backing vocals) e fez a pintura que ilustra a capa do disco.
Falando de Camden Town, Londres, depois de a secretária eletrônica atender com recado junkie, Coxon conversou com a Folha. "Estamos numa fase mais tranquila."

Folha - O que você espera do público daqui e como vai ser o show?
Graham Coxon -
Bem, não sei... Queremos nos divertir. Vamos tocar muito do novo disco, "13", que é um dos meus favoritos, junto com "Blur". Vamos tocar velhos singles porque nunca estivemos aí antes. Talvez seja parecido com o show do Reading.

Folha - Você acha que Blur é a melhor banda do mundo, como a "Q" elegeu?
Coxon -
(Risos) Não sei. Acho que fazemos bem-feito. Talvez não sejamos a melhor banda, mas uma das melhores. A lista é longa.

Folha - Uma vez Ian McCulloch, do Echo & The Bunnymen, disse que as bandas de britpop eram merda. O que você acha?
Coxon -
Merda? Concordo.

Folha - Você acha que britpop é uma merda?
Coxon -
Claro que sim.

Folha - Até Blur?
Coxon -
Blur não é britpop. É como chamar um escocês de inglês.

Folha - O que é britpop afinal?
Coxon -
São várias bandas que não prestam que aparecem em Londres, principalmente, e que lançaram discos de que ninguém se lembra mais.

Folha - Mas em meados desta década Blur e Oasis eram o retrato do britpop.
Coxon -
Sim. Acho que todas as bandas deveriam ter o direito de dizer o que elas fazem, não os jornalistas. Os jornalistas é que chamam algo indevidamente. Britpop... Eu não gosto da palavra brit, não gosto da palavra pop.

Folha - Por que você não gosta da palavra pop?
Coxon -
Porque é muito generalizante. É muito fácil dizer que algo é música pop. Tudo é música pop. Isso é falta de imaginação. Blur faz músicas pop, mas a maioria das músicas do Blur é outra coisa.

Folha - Outra coisa o quê?
Coxon -
Não sei, só música. Por exemplo, outro dia ouvi alguém falar em prog-rock (rock progressivo). Que diabos é prog-rock? Eu não gosto desses termos. Imagine algo como post-eclectic-rock-jazz... Ou o que dizer de post-depressive-grunge? O que significa britpop?

Folha - Há alguns anos, havia aquela falsa discórdia entre Blur e Oasis. Você acha que esse tipo de promoção foi bom para ambas as bandas?
Coxon -
Sem dúvida isso chamou a atenção das pessoas. É o tipo de coisa que é patética e não tem muita consequência, porque as pessoas acabam envolvidas em fofocas. Desavenças entre bandas são uma forma de promovê-las.

Folha - Então tudo isso é fofoca e vocês não odeiam o Oasis?
Coxon -
Não odiamos o Oasis. Damon é uma pessoa muito competitiva e fazia questão de lançar os singles no mesmo dia que o Oasis. Então é culpa do Damon, não do Oasis. Damon começou tudo isso.

Folha - E como você vê a atual fase do Oasis, com a saída dos baixista e baterista originais? Um prenúncio do fim?
Coxon -
Eles deviam acabar de vez, porque pode ficar embaraçoso para eles. Está óbvio que não sai mais nada bom de lá. Eu acho que é por isso que as pessoas deixam as bandas.

Folha - Já ouviu alguma música brasileira?
Coxon -
Pantera é do Brasil?

Folha - Sepultura, talvez.
Coxon -
Claro, Sepultura... E bossa nova. Bossa nova é brasileira?

Folha - Sim, evidente. Você gosta?
Coxon -
Bossa nova... O que significa bossa nova?

Folha - Bossa é complicado traduzir, mas nova é new. New bossa.
Coxon -
(Risos) Parece o nome de um filme ultraviolento: "New Bossa!".


* "Não tem jeito, tudo o que você pode fazer é ouvi-los tocar"


Show: Blur
Quando: hoje, às 20h
Onde: Credicard Hall (av. das Nações Unidas, 17.955, Santo Amaro, tel. 5643-2500)
Quanto: de R$ 30 a R$ 45


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