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BLUR
"Nós não somos britpop", diz Graham Coxon
MARCELO NEGROMONTE
da Redação
"There's no other way, all you can
do is watch them play"*, Blur em
"There's No Other Way" (91)
Se há uma banda que nasceu e
cresceu durante esta década e
ainda é um dos melhores grupos
de rock que existe, ela se chama
Blur -e mantém-se cada vez
mais sólida, como poucas.
A primeira vez no Brasil é uma
vantagem para os paulistanos: o
Blur vai traçar um breve histórico
da banda, se apresentando ao
país com um apanhado dos hits
dos primeiros álbuns, como
"Song 2" (você sabe qual é),
"Country House", "Girls and
Boys", "There's No Other Way",
"Parklife", mais "Coffee & TV",
"Tender", do último, "13", entre
outras. Todos ecoarão no Credicard Hall hoje, "Sunday Sunday".
Os ingleses Damon Albarn,
Graham Coxon, Alex James e Dave Rowntree estrearam em álbum à época do grunge norte-americano, foram peças-chave
do britpop (passaram pela ascensão e extermínio do gênero), quase terminaram com a banda, se
bandearam para o indie rock (tatuando um dos hinos desta década, "Song 2") e estão no ápice -
hoje, no "End of a Century".
Foi com o terceiro álbum, "Parklife" (94), que o Blur começou a
emergir do mar de guitar bands
que inundavam a Inglaterra, com
"Girls & Boys" de carro-chefe, seguido dos singles da faixa-título e
"To the End".
Em 95, com uma pequena ajuda do seu "inimigo", o Oasis, Blur
encarou a rixa de araque, antecipando o lançamento do single
"Country House" em uma semana apenas para coincidir com a
data de lançamento de "Roll with
It", dos Gallagher. Pronto. Ganharam ambos com a promoção.
Depois de "The Great Escape"
(95) -o Oasis estava "vencendo"
fácil com "What's the Story
(Morning Glory)"- a banda entrou em crise e quase acabou, em
96. Eis que surgiu "Blur" (97),
com a potente "Song 2", disco
que começou a fugir das amarras
britpop -e a "Magic America"
ficou mais receptiva ao quarteto.
O redirecionamento musical
do Blur chega a "13" (99), disco
de amor partido, revigorante e
surpreendente -os já trintões
não envelheceram.
Fatos da "Pop Scene" recente:
este mês, o Blur foi escolhido pela
revista inglesa "Q" como a melhor banda do mundo (e William
Orbit, o melhor produtor por
"13"), Damon Albarn é pai há sete semanas, fez uma apresentação vibrante no último Reading
Festival, na Inglaterra, e "13" é
um dos melhores discos da banda. E Blur segue com o cetro da
herança inglesa das guitar bands
da dinastia dos Kinks, Who, Jam,
Madness, Smiths. Enquanto isso,
o "Fool" Oasis...
Leia abaixo entrevista com o
guitarrista Graham Coxon, que
lançou um disco solo no ano passado, enfrentou problemas com
o álcool e tem participação mais
ativa em "13": cantou e compôs
"Coffee & TV" e "Tender" (backing vocals) e fez a pintura que
ilustra a capa do disco.
Falando de Camden Town,
Londres, depois de a secretária
eletrônica atender com recado
junkie, Coxon conversou com a
Folha. "Estamos numa fase mais
tranquila."
Folha - O que você espera do
público daqui e como vai ser o
show?
Graham Coxon - Bem, não sei...
Queremos nos divertir. Vamos
tocar muito do novo disco, "13",
que é um dos meus favoritos,
junto com "Blur". Vamos tocar
velhos singles porque nunca estivemos aí antes. Talvez seja parecido com o show do Reading.
Folha - Você acha que Blur é a
melhor banda do mundo, como
a "Q" elegeu?
Coxon - (Risos) Não sei. Acho
que fazemos bem-feito. Talvez
não sejamos a melhor banda,
mas uma das melhores. A lista é
longa.
Folha - Uma vez Ian McCulloch, do Echo & The Bunnymen, disse que as bandas de
britpop eram merda. O que você acha?
Coxon - Merda? Concordo.
Folha - Você acha que britpop
é uma merda?
Coxon - Claro que sim.
Folha - Até Blur?
Coxon - Blur não é britpop. É
como chamar um escocês de inglês.
Folha - O que é britpop afinal?
Coxon - São várias bandas que
não prestam que aparecem em
Londres, principalmente, e que
lançaram discos de que ninguém
se lembra mais.
Folha - Mas em meados desta
década Blur e Oasis eram o retrato do britpop.
Coxon - Sim. Acho que todas as
bandas deveriam ter o direito de
dizer o que elas fazem, não os jornalistas. Os jornalistas é que chamam algo indevidamente. Britpop... Eu não gosto da palavra
brit, não gosto da palavra pop.
Folha - Por que você não gosta da palavra pop?
Coxon - Porque é muito generalizante. É muito fácil dizer que
algo é música pop. Tudo é música
pop. Isso é falta de imaginação.
Blur faz músicas pop, mas a
maioria das músicas do Blur é
outra coisa.
Folha - Outra coisa o quê?
Coxon - Não sei, só música. Por
exemplo, outro dia ouvi alguém
falar em prog-rock (rock progressivo). Que diabos é prog-rock?
Eu não gosto desses termos. Imagine algo como post-eclectic-rock-jazz... Ou o que dizer de
post-depressive-grunge? O que
significa britpop?
Folha - Há alguns anos, havia
aquela falsa discórdia entre
Blur e Oasis. Você acha que esse
tipo de promoção foi bom para
ambas as bandas?
Coxon - Sem dúvida isso chamou a atenção das pessoas. É o tipo de coisa que é patética e não
tem muita consequência, porque
as pessoas acabam envolvidas em
fofocas. Desavenças entre bandas
são uma forma de promovê-las.
Folha - Então tudo isso é fofoca e vocês não odeiam o Oasis?
Coxon - Não odiamos o Oasis.
Damon é uma pessoa muito
competitiva e fazia questão de
lançar os singles no mesmo dia
que o Oasis. Então é culpa do Damon, não do Oasis. Damon começou tudo isso.
Folha - E como você vê a atual
fase do Oasis, com a saída dos
baixista e baterista originais?
Um prenúncio do fim?
Coxon - Eles deviam acabar de
vez, porque pode ficar embaraçoso para eles. Está óbvio que não
sai mais nada bom de lá. Eu acho
que é por isso que as pessoas deixam as bandas.
Folha - Já ouviu alguma música brasileira?
Coxon - Pantera é do Brasil?
Folha - Sepultura, talvez.
Coxon - Claro, Sepultura... E
bossa nova. Bossa nova é brasileira?
Folha - Sim, evidente. Você
gosta?
Coxon - Bossa nova... O que significa bossa nova?
Folha - Bossa é complicado
traduzir, mas nova é new. New
bossa.
Coxon - (Risos) Parece o nome
de um filme ultraviolento: "New
Bossa!".
* "Não tem jeito, tudo o que você pode fazer
é ouvi-los tocar"
Show: Blur
Quando: hoje, às 20h
Onde: Credicard Hall (av. das Nações
Unidas, 17.955, Santo Amaro, tel. 5643-2500)
Quanto: de R$ 30 a R$ 45
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