|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ARTES PLÁSTICAS
Artista modifica a Millan Antonio, promovendo a integração de seu espaço com prédios da vizinhança
Renata Lucas faz galeria "desaparecer"
GABRIELA LONGMAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Um mês e meio de reformas: pedreiros, quebra-quebra, derrubada de muros. Nome confirmado
para a 27� Bienal, a paulista Renata Lucas inaugura hoje sua exposição "Atlas" na galeria Millan
Antonio. A obra? Uma nova relação espacial entre a galeria e os
prédios da vizinhança.
Para sua reconfiguração espacial, Renata, 34, pensou num prolongamento de prédios da vizinhança, fazendo com que esses
ocupassem áreas -especialmente o jardim e a sala de exposições- pertencentes à Millan Antonio. Assim,
com muros derrubados, os cachorros da casa vizinha passam
agora a circular pelo "novo" jardim e os carros da oficina mecânica da frente, ganharam novo estacionamento para seus carros.
"Trabalhar com a redistribuição
territorial e dissolução de contornos já estabelecidos significa mexer, inclusive, nas relações sociais
envolvidas", avalia a artista, que já
desenvolvia o tema em trabalhos
anteriores.
O que restou de área ocupada
pela galeria, segundo Renata, é a
unidade mínima necessária para
seu funcionamento -o escritório. O corredor que dá acesso aos
novos espaços foi pensado como
local neutro, uma espécie de prolongamento da calçada -um espaço público.
Interpretações
Muitas vezes mal-interpretada,
Renata afirma que não busca fazer críticas à galeria ou à instituição expositiva, mas repensar configurações do espaço de maneira
mais ampla.
"Atlas" é figura mitológica que
sustenta o planeta. Cada linha em
que se mexa nesse contorno gera
transformações que fogem do
meu ou do nosso controle", explica ela, para quem "mexer na
questão territorial significa tirar a
tampa do formigueiro".
A reforma contou com dois
consentimentos ousados: a do galerista André Millan e a da vizinha, a acupunturista Márcia Gomes. Se André aceitou a reforma
de seu espaço e custeou a obra orçada em cerca de R$ 50 mil, Márcia conviveu com barulho e a
poeira do quebradeira, tendo como único benefício um jardim
maior por cerca de um mês.
Relacões
"A Renata veio e me mostrou o
projeto, achei interessante a idéia.
A obra seria toda paga pela galeria
Millan Antonio, eu só ganharia
mais espaço", diz Márcia. Além
do pátio para os cachorros, seus
filhos já estudam a realização de
um luau no novo pátio.
"Renata faz parte de uma política nossa de investimentos em jovens artistas. Uma vez escolhidos,
esses artistas têm a galeria como
verdadeiro laboratório. Se não teremos retorno financeiro a curtíssimo prazo, trata-se de um trabalho contínuo de sedimentação do
mercado do artista", diz o galerista Millan, que em seu time de jovens artistas tem ainda Thiago
Rocha Pitta e Tatiana Blass.
Com tantas relações envolvidas,
é natural a apreensão por parte
dos envolvidos no processo. "É
preciso encarar o trabalho de arte
como aventura, desafio, risco. Se
não for assim, não vale à pena",
encerra Renata. Esperamos agora
para descobrir os riscos que a artista vai correr na Bienal.
Atlas
Quando: abertura hoje, das 11h às 16h;
de seg. a sex., das 10h às 19h; sáb., das
11h às 15h; até 13/4
Onde: galeria Millan Antonio (r. Fradique
Coutinho, 1.360, Vila Madalena, tel.
3031-6007)
Quanto: entrada franca
Texto Anterior: Bienal tem livro com "extras" na rede Próximo Texto: Pinacoteca inaugura hoje três mostras de fotografias Índice
|