São Paulo, sábado, 18 de março de 2006

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ARTES PLÁSTICAS

Artista modifica a Millan Antonio, promovendo a integração de seu espaço com prédios da vizinhança

Renata Lucas faz galeria "desaparecer"

GABRIELA LONGMAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Um mês e meio de reformas: pedreiros, quebra-quebra, derrubada de muros. Nome confirmado para a 27� Bienal, a paulista Renata Lucas inaugura hoje sua exposição "Atlas" na galeria Millan Antonio. A obra? Uma nova relação espacial entre a galeria e os prédios da vizinhança.
Para sua reconfiguração espacial, Renata, 34, pensou num prolongamento de prédios da vizinhança, fazendo com que esses ocupassem áreas -especialmente o jardim e a sala de exposições- pertencentes à Millan Antonio. Assim, com muros derrubados, os cachorros da casa vizinha passam agora a circular pelo "novo" jardim e os carros da oficina mecânica da frente, ganharam novo estacionamento para seus carros.
"Trabalhar com a redistribuição territorial e dissolução de contornos já estabelecidos significa mexer, inclusive, nas relações sociais envolvidas", avalia a artista, que já desenvolvia o tema em trabalhos anteriores.
O que restou de área ocupada pela galeria, segundo Renata, é a unidade mínima necessária para seu funcionamento -o escritório. O corredor que dá acesso aos novos espaços foi pensado como local neutro, uma espécie de prolongamento da calçada -um espaço público.

Interpretações
Muitas vezes mal-interpretada, Renata afirma que não busca fazer críticas à galeria ou à instituição expositiva, mas repensar configurações do espaço de maneira mais ampla.
"Atlas" é figura mitológica que sustenta o planeta. Cada linha em que se mexa nesse contorno gera transformações que fogem do meu ou do nosso controle", explica ela, para quem "mexer na questão territorial significa tirar a tampa do formigueiro".
A reforma contou com dois consentimentos ousados: a do galerista André Millan e a da vizinha, a acupunturista Márcia Gomes. Se André aceitou a reforma de seu espaço e custeou a obra orçada em cerca de R$ 50 mil, Márcia conviveu com barulho e a poeira do quebradeira, tendo como único benefício um jardim maior por cerca de um mês.

Relacões
"A Renata veio e me mostrou o projeto, achei interessante a idéia. A obra seria toda paga pela galeria Millan Antonio, eu só ganharia mais espaço", diz Márcia. Além do pátio para os cachorros, seus filhos já estudam a realização de um luau no novo pátio.
"Renata faz parte de uma política nossa de investimentos em jovens artistas. Uma vez escolhidos, esses artistas têm a galeria como verdadeiro laboratório. Se não teremos retorno financeiro a curtíssimo prazo, trata-se de um trabalho contínuo de sedimentação do mercado do artista", diz o galerista Millan, que em seu time de jovens artistas tem ainda Thiago Rocha Pitta e Tatiana Blass.
Com tantas relações envolvidas, é natural a apreensão por parte dos envolvidos no processo. "É preciso encarar o trabalho de arte como aventura, desafio, risco. Se não for assim, não vale à pena", encerra Renata. Esperamos agora para descobrir os riscos que a artista vai correr na Bienal.


Atlas
Quando: abertura hoje, das 11h às 16h; de seg. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 11h às 15h; até 13/4
Onde: galeria Millan Antonio (r. Fradique Coutinho, 1.360, Vila Madalena, tel. 3031-6007)
Quanto: entrada franca


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