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É TUDO VERDADE
Longa retrata a vida de artista goiano
Em "Arte Bruta", Walter Carvalho reencontra o "primitivo" Moacir
TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL
Em abril de 1988, os irmãos
Walter e Wladimir Carvalho percorriam o Planalto Central. Produziam "Paisagem Natural", filme sobre a beleza local no qual repetiam a dobradinha fotógrafo e
diretor, iniciada em "O País de
São Saruê", de 1971.
Decidiram fazer uma pausa para comer num povoado entre a
Chapada dos Veadeiros e Alto Paraíso (GO). "Entramos numa
vendinha, e, sobre o balcão, havia
um desenho muito original, que
chamou a minha atenção. Não era
uma cópia. O dono do lugar me
disse onde morava o artista, e fui
até lá conhecê-lo", lembra.
Walter encontrou Moacir, tema
do documentário "Moacir - Arte
Bruta". Artista "primitivo" ("na
falta de palavra melhor para defini-lo", justifica Walter), o homem
negro, esquizofrênico, de 28 anos,
habitava uma choupana de palha.
"Havia desenhos por todos os
lados, mas nenhum na parede,
mesmo porque nem havia paredes. Tudo aquilo que me interessava, enquanto ele dizia: "Leve, leve". Acabei comprando alguns."
Esse primeiro contato foi registrado pela câmera fotográfica de
Walter, seu "bloquinho de anotações". Ele foi embora sabendo
que queria transformar em filme
a história de Moacir.
Dezesseis anos se passaram até
o reencontro entre os dois. Nesse
tempo, Walter se consagrou como diretor de fotografia, trabalhou em mais de 25 longas -entre eles, "Lavoura Arcaica" e
"Central do Brasil"- e co-dirigiu
"Janela da Alma".
Em 2003, muita coisa havia mudado no vilarejo de construções
esparsas, que ganhou status de cidade, batizada de São Jorge. A
condição de Moacir também havia melhorado: passou a viver numa casa de alvenaria, com paredes ornamentadas por seus desenhos.
Moacir não se lembrava da visita de Walter. As fotos, feitas anos
antes, foram fundamentais para
estabelecer um novo contato.
O registro fotográfico acabou se
tornando importante também
para a narrativa do documentário. Moacir mostra a localização
de sua antiga casa e repete a mesma pose ao lado das irmãs.
São as entrevistas com pessoas
da comunidade e com os familiares, mãe, pai e irmãs, que vão
apresentando Moacir; é revelada
uma incrível sabedoria da vida.
Penetrar na vida de Moacir durante os seis dias que duraram as
filmagens exigiu um bocado de
delicadeza. "Ele é muito arredio e
tem crises. Às vezes, fica uma semana sem comer nem falar. Fica
amuado, como se diz."
Por isso o diretor optou por
uma equipe "mínima", de cinco
pessoas. "Dentro da casa ficavam
só eu, o técnico de som, o fotógrafo e o assistente. Trabalhamos
com muito cuidado", relata.
Para o longa, Walter promoveu
uma reunião entre Moacir e o artista Siron Franco. "Siron é goiano, e há algum viés que os une. O
trabalho de Siron de alguma maneira fala com o de Moacir", diz.
Siron já conhecia a obra de
Moacir e havia organizado uma
exposição dele em uma universidade em Goiânia. "Queria ver o
que aconteceria no encontro entre um pintor "primitivo" e um
"erudito'", revela o diretor.
No encontro, os dois fazem um
desenho em dupla. "De repente,
Siron pega um papel e o convida
para brincar, o desenho dele abraça o de Siron", conta.
"O desenho ficou comigo. Todos os que foram feitos no filme
eu comprei, é uma forma de pagar
a ele pela generosidade de me receber. Ele não tem essa noção,
mas eu tenho", explica o diretor.
Moacir - Arte Bruta
Direção: Walter Carvalho
Quando: hoje, às 18h, no MIS
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