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Programação atrai meninas, que querem futuro mais feminino na tecnologia

Escolas unem diferentes linguagem com jogos para incentivar jovens a terem outra relação com aparelhos eletrônicos

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São Paulo

A criatividade, gosto por jogos e por desenhar formaram um combo perfeito para Naomi Y., de 10 anos, se interessar por tecnologia e pelo universo da programação. Ela, assim como outras meninas, começou a estudar o tema desde cedo e está no caminho de tornar a área mais aberta ao público feminino.

Foram jogos como Minecraft e Roblox, ambos personalizáveis e com diversas ferramentas que permitem criar diferentes mundos, que despertaram o interesse de Naomi por tecnologia. Ela começou com um curso de férias e agora é aluna de uma escola de programação há um ano.

Naomi Y., 10 anos, estuda programação e gosta de criar jogos - Karime Xavier/Folhapress

No curso que ela faz, na escola SuperGeeks, Naomi já criou o próprio jogo de atirar em bichinhos, com personagens que ela mesma desenhou. A jovem agora está aprendendo a programação escrita, usando diferentes linguagens para criar instruções para o computador realizar uma tarefa.

"A criança sai da frente da telinha como jogador para ver o outro lado como desenvolvedor", diz Cássia Ban, CEO da SuperGeeks.

Cássia conta que existem dois tipos de alunos na escola: aqueles que entram já gostando de tecnologia, e aqueles que são incentivados pela família.

Naomi é uma mistura dos dois. Sua mãe, Fabiana, vê a importância de a filha aprender a usar o computador dessa forma. "Depois que ela entrou na escola, vi uma evolução tremenda. Realmente acho que é uma carreira que ela pode estar trilhando."

Quando perguntada o que quer ser quando crescer, Naomi diz sem hesitar: "programadora".

Mas a presença de meninas como ela na SuperGeeks ainda é pouca. A escola tem 7.200 alunas, o que equivale a 15% dos alunos matriculados na rede. Ban diz que isso é um reflexo do mercado da tecnologia, que conta com poucas mulheres, e por isso as alunas acabam sentindo como se não pertencessem a este universo.

"Tem um certo estereótipo [ conceito ou imagem preconcebida, padronizada e generalizada] de gênero na área, que é masculina e, às vezes, até o ambiente de trabalho acaba ficando hostil. Isso impacta o número de alunos", diz.

Em 2021, a presença feminina no setor de TIC (Tecnologia da Informação e Comunicações) no Brasil era de 39%, das quais 11,6% são mulheres negras e 20% mulheres brancas, aponta relatório da Brasscom .

Esse cenário é visto como um desafio por Rebeca N., 17 anos, que pensa em um futuro como programadora. "As pessoas colocam esse estereótipo que pensar muito nessas coisas de matemática não é tão a cara de uma mulher", diz. "É um preconceito antigo, está desaparecendo, mas ainda está aí."

Desde pequena, Rebeca gosta de coisas artísticas e criativas e de lógica. Além disso, teve influência da mãe, que trabalha com programação.

Rebeca começou a estudar programação quando entrou no ensino médio, há dois anos, na Ctrl+Play. A escola une programação e uma de suas paixões, o RPG de mesa. Ela afirma que é preciso ser criativo nessa área porque não existe uma fórmula pronta a ser aplicada. "Eu quero inovar, pensar em uma coisa diferente. Isso é uma meta minha e um desafio também no meu trabalho", diz.

A paixão dela por games é antiga, tanto que pensou em ser desenvolvedora de jogos, mas vê a programação como um caminho ideal. "Com toda essa coisa de inteligência artificial, deep learning, machine learning, tudo isso, eu tenho dúvidas sobre qual a área que vou atuar mesmo", afirma.

Na Ctrl+Play, as meninas são cerca de 15% entre os alunos matriculados. Aumentar esse número é um desafio constante para a escola, segundo seu fundador Henrique Nobrega. "No fim das contas, é uma luta. A gente segue tentando, mas acho que tem bastante coisa para a sociedade evoluir como um todo", diz.

O lugar atende alunos de 7 a 17 anos e acha a programação hoje tão importante quanto o inglês era anos atrás. Para Nobrega, é uma forma de tentar aproveitar e direcionar o interesse das crianças —que já passam horas vendo vídeos no YouTube ou jogando online. "Eu acredito que a tecnologia pode ir por um caminho além do que só esse do consumo de forma passiva."

Agatha V., 14 anos, estuda programação na Crtl+Play e conta que não desgruda do celular. Mas, ela percebe que houve uma mudança na forma como lida com os aparelhos eletrônicos, principalmente o computador. "Fico surpreendida com o que eu consigo fazer", diz.

Nas aulas, ela faz projetos e um dos quais se orgulha é um site de vendas de carros utilizando CSS —linguagem Cascading Style Sheet (ou Folhas de Estilo em Cascata), que permite personalizar uma página na internet. "Isso demorou um tempinho, mas a gente conseguiu", diz Agatha.

Ela conta que sua turma é composta por três meninos e outra menina, e que elas duas sempre trabalham juntas.

Caroline Capitani, VP de estratégia e inovação da ilegra diz incentivar as meninas desde cedo é importante. Ela acha que os desafios das mulheres nessa área são de vários tipos. "Um deles é o ingresso e formação de mais mulheres nas áreas", diz.

Outro seria a falta de referências, ou seja, em quem se inspirar —algo que meninas como Naomi, Rebeca e Agatha pretendem mudar.

"No começo todo mundo vai achar que é muito chato, porque se você é mulher vai ter você e um monte de homens. E você vai se sentir deslocada", afirma Agatha. "Depois você vê que consegue mudar isso, que consegue trazer mais pessoas para esse campo, mais mulheres para esse campo."

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Texto com este selo é indicado para ser lido por responsáveis e educadores com a criança

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