Sabe aquela história sobre um cachorro que comeu uma lição de casa e, por causa disso, olha que pena, não deu para entregar a tarefa à professora no dia seguinte? Pois uma escola de São Paulo resolveu transformar em exercício as desculpas esfarrapadas que os alunos costumam dar para não entregar o dever.
Os professores da Escola Estadual Brasílio Machado, na Vila Madalena, na zona norte, propuseram a 300 crianças do Ensino Fundamental o tema "Minha Tarefa Comeu o Meu Cachorro", uma piada com a clássica justificativa. A ideia era brincar com a criatividade na escrita e inventar em uma redação uma desculpa dessas bem cabeludas para atrasar a entrega de uma obrigação.
Antes do exercício, os professores contam que já ouviram coisas do tipo "A chuva molhou a lição", "Derrubei suco no meu caderno", "Fiz no meu computador e apaguei sem querer", "Tive dor de barriga" etc. Agora, alunos entre o 1º e 5º ano pensaram em situações de mentirinha para escrever seus textos.
"E o vento levou", por exemplo, é o título da redação de Isabel G. M. S., do 4º ano. "Estava eu na minha casa fazendo meu trabalho, até que… Minha mãe me ofereceu um copo d'água, e eu, como uma bela filha [que] sou, não pude recusar", escreveu.
"Como sempre, estava muito focada, já que um trabalho é muito importante! Mas, sem querer, quando fui dar o último gole… Splash! Caiu água pra todo lado! O que eu tenho de beleza eu tenho de inteligência! Então, pus o trabalho na janela para secar, mas… O vento levou!".
A série de Isabel, e também o 5º ano, trabalhou com textos individuais, ou seja, cada um fazia o seu. Já os alunos em processo de alfabetização, ou seja, que cursam o 1º, 2º e 3º anos, foram incentivados a criar histórias coletivas.
A turma do 2º A, por exemplo, escreveu um texto em conjunto que falava sobre uma sequência de desafortunados desastres. "Cheguei em casa e fui direto para minha mesa onde eu faço minhas atividades. A mesa fica bem próxima à janela do meu quarto", começava a redação.
"Nesse dia, estava muito calor e de repente o tempo mudou e começou a ventar que parecia um ciclone. Ele veio tão forte que carregou a folha da minha lição. Corri para a janela [para] tentar pegar, mas não consegui, apenas vi que caiu no meio da rua numa poça d'água, em seguida um carro passou em cima."
Para a diretora da escola, a professora Simone Romano, a proposta de exercício é descobrir pequenos talentos na criatividade e engajar estudantes no aprendizado. "Crianças têm muita criatividade e elas precisam ser motivadas para que isso não se perca. Nós pegamos uma dificuldade e transformamos em uma atividade divertida, colaborativa e de estímulo à leitura e escrita", diz a professora.
Gabriela S. U., do 5º B, escreveu: "Um dia, eu tinha acabado de ver um filme de magia, e fui fazer minha lição de casa porque minha mãe pediu. Até que quando eu estava na última linha, minha tarefa começou a criar vida! Com pernas, braços e uma cara com uma boca bem grande".
Kaio G., do 4º A, deu o título "Minha lição de casa caiu no aquário". "Estava no escritório da minha mãe, era um dia ensolarado de sábado. Queria dormir um pouco mais, só que acordei cedo, porque a professora pediu para fazer a lição de casa", começava a redação.
"A lição era difícil. Olhei a matéria e me dei conta que era uma avaliação, gastei dois dias com essa 'lição'. Estava desesperado porque tinha que fazer rápido, já tinha perdido todo meu tempo, só que… já sei! Vou arrumar uma desculpa, joguei minha [redação] no aquário, ficou encharcada e levei pra escola."
A turma do 1º ano criou coletivamente o enredo "Eu sou o Patrick e tinha um encontro com Lula Molusco!". "Na segunda-feira Patrick pulou pela janela e foi para a escola. A professora perguntou para o Patrick 'Onde está a sua lição?', e Patrick respondeu: 'Fiquei no quarto e a lição estava na sala!'", diz o texto.
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