Pensata

L�cio Ribeiro

09/12/2005

A banda do ano

"Although you're trying not to listen
I bet your eyes are staring at the ground"
Arctic Monkeys, em "When the Sun Goes Down"

"Ainda vou te programar
Num videogame terminal
Vou tua imagem congelar
Em um sistema digital
Que jogo louco"
Azul 29, em "Video Game"

"Dans leurs yeux des dollars
Dans leurs sourires des diamants
Moi aussi un jour je serai beau comme un Dieu"
Franz Ferdinand, em "Sexy Boy"


Hey, scenester, tudo certo?

Como diz o Eminem: "Shake that".

* Seguinte. Nosso 2006 de shows internacionais descolados pode come�ar bem antes do que voc� pensa. A droga � que estou proibido de falar qualquer coisa antes da semana que vem...

* Agora que voc� j� revirou, sacudiu de alto a baixo, debulhou e decorou o novo �lbum dos Strokes, conta a� qual sua m�sica predileta. Depois que escapou para a internet e com a velocidade que foi devorado, a banda nova-iorquina resolveu antecipar o lan�amento de "First Impressions of Earth", o terceiro, para dia 2 de janeiro (Inglaterra. Nos EUA � 3). Feliz Ano Novo com os Strokes. Nos �ltimos dias o grupo andou chacoalhando a Inglaterra. Sabe qual a m�sica nova favorita dos brit�nicos: a nossa "velha" conhecida "Hawaii", que nem est� no disco.

* E, at� que enfim, o relato 200 horas com os Strokes, que apareceu na capa da corrente revista "Bizz", vai ser colocado na �ntegra l� embaixo.

* A bandinha mais legal do planeta, o Arctic Monkeys, revelou o nome de seu esperado primeiro disco, que sai em janeiro. �, aten��o, "Whatever People Say I Am, That's What I'm Not". Uma coisa boa e outra ruim. O nome � �timo. Mas ele evidencia tamb�m que o menino Alex Turner, 19 anos, considerado o ser mais cool hoje na m�sica, vem demonstrando um jeito Kurt Cobain de lidar com a fama. Primeiro falou "Don't believe the hype" no videoclipe, depois batiza assim o disco de estr�ia.
Enfim, j� ouviu "When the Sun Goes Down"?

* Voc� v� como uma banda � bacana nas pequenas coisas. Tipo o We Are Scientists, de Nova York, e sua simp�tica capa do CD de estr�ia, que j� saiu na Inglaterra e ter� lan�amento americano no come�o do ano. Chama "With Love & Squale".

* Futebol � pop. Parece que entre os v�rios festejos de abertura da Copa do Mundo do ano que vem, na Alemanha, est�o marcados shows de Oasis e Killers. Tocam em Dortmund um dia antes da abertura oficial do Mundial 2006.

* Hoje existe um milh�o de bandas indies no Brasil, mas teve um tempo, tipo nos anos 80, que tinha tr�s ou quatro. Duas delas, as cultuad�ssimas (na �poca) Harry e Azul 29, est�o ganhando sensacional relan�amento em caixas caprichadas, com os CDs originais e um libreto. � de autoria da Fiber Records (FiberOnline). A primeira caixa a sair � a do Harry, de Santos, que vem com tr�s CDs ("Taxidermy - Boxing Harry"). Est� chegando nos pr�ximos dias �s lojas. Depois vem do incr�vel Azul 29, uma banda que teve um culto underground tipo Arctic Monkeys e, exemplo mais pr�ximo, Cansei de Ser Sexy. Mas isso sem internet. E tocando no famoso por�o do Madame Sat�, o mais emblem�tico clube que S�o Paulo j� teve.

* A campanha para achar o misterioso v�deo do show do Nirvana em S�o Paulo (1993) est� comovente. Por�m, o Santo Graal do grunge, o produto mais procurado no mundo sobre a banda que virou o rock do avesso nos anos 90, ainda n�o foi achado. J� apareceram 10 minutos de imagens, incluindo longas cenas em que Kurt Cobain destr�i duas guitarras. Mas a �ntegra do show, se � que ela existe, ainda est� por ser encontrada. Enquanto isso, surgem not�cias de que um filme sobre o Nirvana vai chegar aos cinemas em 2006, em forma de document�rio e narrado pelo pr�prio Kurt Cobain. Mais sobre isso em outra oportunidade.

* Para dar uma id�ia do que � o esfor�o coletivo pop, a busca do v�deo do Nirvana fez esta coluna receber um email at� do... Kurt Cobain. Sei l�. Chegou um de remetente kurtcobain@xxx.com.br. Fora que isso incentivou a galera a pedir campanha para coisas raras, como um v�deo do velho e famoso festival indie Junta Tribo, dos 90. E at� um de show antigo dos Tit�s. Dos Tit�s.




SEXY BOYS

Voc� vai ver mais para baixo: a enquete para apontar qual a principal banda de 2005, segundo os leitores desta coluna, levou ao topo a banda escocesa Franz Ferdinand. E o grupo de Alex Kapranos deixou os bem-amados Strokes, Arcade Fire e Oasis muito para tr�s.

Mesmo sem ter vindo ao Brasil neste ano em que (quase) todo mundo veio ao Brasil, o Franz Ferdinand conquistou 2005 porque passou pelo teste do segundo disco. Porque seus integrantes s�o muito simp�ticos, bem vestidos, sexies. Porque � a banda mais pop das bandas pop. Porque lan�ou dois clipes excelentes. E porque seus remixes que flertam com a m�sica eletr�nica (n�o s�) s�o os melhores. E porque eles j� tinham ganhado o t�tulo de principal banda de 2004 nesta mesma coluna, quando a banda apareceu para a cena.

Na �ltima segunda-feira, o grupo do figura Alex Kapranos lan�ou o segundo single de "You Could Have It So Much Better", o tal segundo disco. A m�sica escolhida para o compacto foi a linda "Walk Away", que � visualmente mostrada com um clipe inspirado no cinema do diretor Alfred Hitchcock, o que reafirma o car�ter art-rock do Franz Ferdinand.

"Walk Away", o single, carrega no lado B a cover de "Sexy Boy", hino da cultuada dupla francesa Air. A expectativa da releitura da can��o hit de 1998 rendeu at� o trocadilho de Franz FAIRdinand para a banda.

Na veia rock do FF, a m�sica, tamb�m cantada em franc�s, perdeu o clima et�reo, mas ganhou uma guitarra lis�rgica que conduz na medida o "Sexy boooooooooy" rob�tico-blas� cantado por Kapranos, se � que � o Kapranos mesmo quem canta.

Franz Ferdinand domina o notici�rio pop. Na internet circula algumas excelentes vers�es remixadas de "Do You Want to", o acachapante primeiro hit do novo disco, m�sica que, para dar uma id�ia de seu poder de cont�gio, � anunciada com entusiasmo em FMs rock-comercial�ides como a Mix, de S�o Paulo.

Quanto aos remix, um deles � do DJ ingl�s Erol Alkan, o cara que mais entende at� que ponto d� para fazer de um rock uma �tima m�sica eletr�nica, ou vice-versa. Outra vers�o extradance de matar de "Do You Want to" circula pela internet com o complemento "Whitey Remix", de autoria do excelente novo artista ingl�s Nathan Whitey.

Tamb�m nesta semana de lan�amento de single novo, a banda tocou nos est�dios da Radio One inglesa uma vers�o engra�ada que o Franz Ferdinand burilou para a dan�ante "What You Waiting For", da loirinha americana Gwen Stefani. Tem f�cil na internet.

Tamb�m acabou de chegar nas lojas inglesas e americanas o DVD "Franz Ferdinand", duplo e ao vivo, com shows, o document�rio "Tour de Franz", entrevistas, os hinos "Take Me Out" e "Matinee" (ambas do primeiro disco) para karaok�. A gravadora brasileira Trama deve lan�ar aqui at� o Natal.

O Franz Ferdinand est� agora no meio de uma turn� europ�ia. Por esses dias eles tocam na Su�cia, Dinamarca, com show de abertura da atual bandinha-fen�meno da Inglaterra, o Arctic Monkeys.

� mais do que certo que o Brasil receba shows do Franz Ferdinand em 2006. O produtor argentino Daniel Grinbank, que est� trazendo o U2 para a Am�rica Latina, afirma que o Franz Ferdinand vem junto para abrir as apresenta��es do megagrupo irland�s.

A Domino Records inglesa nega qualquer acerto com o U2, mas fala que o FF estuda mesmo quatro propostas para tocar no Brasil no ano que vem e deve baixar aqui.

Se algu�m disser que o Franz Ferdinand vai levar o pr�mio de melhor banda de 2006 entre os leitores desta coluna, pela terceira vez consecutiva, eu n�o vou ficar nada espantado.




A BANDA DO ANO

N�o � surpresa mais, deu Franz Ferdinand, o grupo-assunto do item acima. Ent�o vamos falar do resto.

O Arctic Monkeys, zero CD, chegar em quarto lugar aqui no Brasil � espetacular. Se eu fosse contar uma corrente de emails a favor do Oasis, a banda chegava pelo menos em segundo lugar. Mas limei todos os votos com cara de coisa de f�-clube. A� eu penso que esses votos todos para o Arctic Monkeys s� pode ter sido coisa de f�-clube. Mas uma banda t�o nova como o Arctic Monkeys j� ter um n�mero de f�s t�o atuantes, por mim beleza. Est� valendo. Espantou-me o fato de o U2 ter tido t�o pouca men��o (foram oito). Cachorro Grande, Los Hermanos e Na��o Zumbi foram as nacionais, al�m do CSS, que conquistaram seus votinhos.

1. Franz Ferdinand - 98 votos

2. Arcade Fire - 60 votos

3. Strokes - 53 votos

4. Arctic Monkeys - 45 votos

5. Oasis - 28 votos

6. White Stripes - 26 votos

7. Coldplay - 22 votos

8. Foo Fighters - 19 votos

9. Pearl Jam - 18 votos

10. Cansei de Ser Sexy 11 votos




O DISCO DO ANO

Sem enrola��o, a enquete da hora � esta: qual foi o disco avassalador de 2005?

J� desconfio o que vai dar, mas v� l�: do Bravery, Kaiser Chiefs? White Stripes? Maria Rita (eu n�o consigo evitar...)? Rakes? Bloc Party? Oasis?

N�o, n�o vou citar o do Arcade Fire nem do pap�o Franz Ferdinand, para n�o induzir nada a ningu�m.

Os emails que forem enviados v�o concorrer aos pr�mios que ser�o anunciados abaixo.

Vamos. Fa�a a sua parte agora.




POPLOAD TOUR

A Popload vai bater neste s�bado, 10, em Bel�m do Par�, no Norte do pa�s. A balada acontece no Caf� com Arte e o nome da festa � Que pasa?!?!, onde toca ainda a espetacular banda paulistana Los Pirata. Confere o flyer.

Divulga��o
Flyer da festa Que pasa?!?!


Este colunista volta l� em cima do Brasil no dia 16 e 17 de dezembro. Primeiro em Recife, na sexta (16), em companhia do grupo britpaulista Wry. A balada � no antigo Irm� Bertrice (rua do Lima, 100). No dia seguinte, a discotecagem rola em Fortaleza, no clube Noise 3D, onde tamb�m ter� show do grupo Montage.

A Popload Brasil Tour de 2006 come�a em janeiro, no dia 7, no "novo" James Bar, em Curitiba. Tem mais duas discotecagens marcadas, que depois aparecem aqui.




PREMIA��O DA SEMANA

Quem mandar o voto para a enquete que vai eleger o disco do ano concorre a:

* Um CD/DVD do Franz Ferdinand, "You Could Have It So Much Better", por enquanto a banda do ano com a m�sica do ano.

* Um single especial do Nirvana, com cinco m�sicas que tem no box que saiu com uma retrospectiva da carreira e raridades.

* um exemplar do "New Musical Express" especial Cool List, com o CD de 16 faixas com banda como We Are Scientists, Cribs, Antony and the Johnsons, Test Icicles etc.




LOGO MAIS

Bem aqui, a lista dos vencedores das semanas passada e retrasada. Chegue mais para conferir, nesta sexta � tarde.




NA ESTRADA COM OS STROKES

Junho de 2005:

"L�cio, aqui � Ryan Gentles, empres�rio dos Strokes. N�o sei se voc� sabe, mas estamos aqui diante de propostas para a banda excursionar pelo Brasil e pela Am�rica do Sul. Voc� pode me ligar em Nova York ou responder a este email quando voc� tiver um tempo?".

Liga��o retornada (caixa postal, recado na secret�ria) e email respondido.

"Obrigado por responder. S�o tantas ofertas que fica dif�cil saber qual a melhor para a banda aceitar. N�o estamos falando de dinheiro --n�o damos a m�nima para dinheiro. Eu quero � fazer a melhor coisa para a banda, algo que n�o v� decepcionar os f�s que temos a�. Voc� j� viu v�rios shows nossos, a banda conhece voc�. Ent�o quer�amos que voc� nos ajudasse a decidir o que � melhor para os Strokes. A gente n�o confia em palavra de gravadora. Eles t�m o interesse deles."

Outubro de 2005:

"Boa noite, meus irm�os brasileirooos." Da frase em portugu�s do emocionado baterista Fabrizio Moretti, assim que acabou o show de S�o Paulo no Tim Festival, at� a frase "Voc� precisa ouvir essa banda", que veio em ingl�s de um emocionado amigo de Londres l� atr�s, no comecinho de 2001, passaram-se pouco mais de quatro anos.

Mas parece que j� faz uns 20.

H� 20 anos, o grupo nova-iorquino The Strokes, "essa banda", deu uma sacudida t�o forte no rock que voou grupos novos para todo lado. Grupos novos, revistas novas, lugares novos para sair, roupas novas.

H� 20 anos, o Brasil esperava por um show desse "dinoss�urico" quinteto cuja m�dia de idade � 25 e que finalmente visitou o pa�s neste "final" de carreira.

� como se fizesse mesmo 20 anos. Porque hoje em dia, com a velocidade da informa��o potencializada a mil gra�as � internet, um grupo como o canadense Arcade Fire j� � velho. M�sica nova vem agora de bandas como a americana Giant Drag - que � nova at� o m�s que vem. E que, n�o ser� surpresa, vai estar no festival brasileiro do ano que vem tamb�m.

E, dessa era virtual que transformou o jeito de consumir m�sica, e que criou a gera��o Napster devoradora de MP3 tanto quanto de arroz e feij�o, os Strokes s�o o primeiro grande fruto, pode-se dizer.

O grito de "Last Nite" que o vocalista Julian Casablancas deu em um bar sujo de Nova York em 2000 chamou a aten��o de um produtor musical ingl�s que estava bebendo no lugar. O tal produtor, ao final da apresenta��ozinha tosca dos Strokes, chegou junto � banda e pediu uma demo. Logo, a demo estava em Londres, entregue pelo tal produtor a um tal amigo na gravadora ca�a-talentos Rough Trade. Logo, os Strokes embarcavam para a Inglaterra para lan�ar o single --n�o para gravar o single. A Rough Trade decidiu n�o esperar para colocar a banda no est�dio. Usou a demo mesmo como single oficial. The Modern Age saiu em janeiro de 2001.

Do famoso show no festival do seman�rio New Musical Express, no m�s seguinte, quando a febre Strokes come�ou, a uma capa do caderno Ilustrada da Folha de S.Paulo, levou pouco mais de dois meses.

"De repente, surgiu muito interesse nos Strokes. E isso d� medo. Mas ao mesmo temo nos d� felicidade. N�o temos nada a perder!", disse em 2001 o baterista Moretti, em entrevista por telefone de Nova York, quando a banda s� tinha tr�s m�sicas e o primeiro �lbum completo, Is This It, ainda estava a oito meses de dist�ncia.

"� �bvio que eu n�o tenho do que reclamar e faria tudo de novo. Mas eu perdi algumas coisas, sim. Pelo menos deixei de fazer coisas por ter sido tragado para uma vida em alta velocidade. Estes foram anos absurdos. Parece que eu vivi 20 anos em quatro", disse em 2005 o mesmo Moretti, em entrevista em Nova York, durante sess�es de audi��o para a imprensa do terceiro �lbum dos Strokes, First Impressions of Earth, que, enquanto voc� l�, ainda est� a algumas semanas de dist�ncia.

A conversa agora aconteceu uma semana antes de a banda embarcar para o Brasil para uma turn� in�dita de quatro apresenta��es - esta que acabou de ocorrer. Exatamente um ano e duas semanas depois do �ltimo show do grupo, ainda pela turn� do segundo CD, The Room Is on Fire, �lbum t�o bom, t�o cheio de energia e de tanta vivacidade quanto o primeiro, mas j� sem a absurda carga de "hype" que praticamente vinha como selo na capa de Is This It. Mas, neste papo recente em Nova York, com um disco novo j� vazando para a internet e �s portas dos concertos no Brasil, a palavra que estava presente no dia-a-dia da banda era uma s�: tens�o.

"Cara, voc� n�o tem id�ia de quanto estou nervoso com toda essa expectativa", confessa Moretti. "Eu e o Julian conversamos todo dia sobre essa turn� pelo Brasil." Fabrizio Moretti � brasileiro. Quer dizer: meio-brasileiro. O pai, diretor de multinacional, levou o garoto para Nova York aos 4 anos. E exatamente h� quatro anos ele fala em vir tocar no Brasil. E h� quatro anos o Tim Festival tenta traz�-los para o Brasil. Fabrizio tem av�, tia, pai, primos e irm�o morando na cidade em que nasceu, Rio de Janeiro.

Nos quatro anos e tanto que os Strokes foram assuntos no rock, qualquer entrevista para jornalista brasileiro vinha com a promessa de que shows no pa�s iriam ocorrer, sim. Mas o "agora vai" nunca aconteceu. "Essa burocracia est�pida de gravadora sempre nos impediu de tocar no Brasil. Uma vez, no come�o de 2003, pensamos em tocar durante nossas f�rias, armar por nossa conta, alugar os instrumentos e tocar em lugares pequenos. N�o deu certo porque o Albert n�o poderia ir. Seriam shows 'fam�lia'", revelou o baterista. "Shows para a nossa fam�lia."

Agora, o "agora vai" foi. Os Strokes receberam em 2005 quatro convites oficiais para vir ao Brasil. Tim Festival, festival Claro Q � Rock, Curitiba Rock Festival e para turn� particular, provavelmente feito pelo grupo CIE. A op��o final da banda pelo Tim Festival se deu 1) porque o evento quebraria seu padr�o de exclusividade e permitiria que os Strokes tocassem em tr�s lugares de importantes bases de f�s no Brasil; 2) para um p�blico muito maior que os minguados 4.000 que os veriam no Rio antes de se confirmar o show extra e 3) permitir uma "temporada carioca" para a banda, que permitissem a Julian e Fabrizio uns dias perto dos parentes.

FABRIZIO, N�O ESQUECE O CASACO

A banda desembarcou no Rio de Janeiro em 18 de outubro, tr�s dias antes do primeiro dos shows no Tim Festival. De dia, os cinco Strokes ficavam cinco horas dentro de um est�dio de Jacarepagu�, ensaiando as m�sicas novas para os shows. � noite, jantavam na churrascaria Porc�o e circulavam por bares do Rio, principalmente o Emp�rio.

Fabrizio, quando n�o estava ensaiando, ou com a fam�lia, ou nos bares ou comendo empadinha de frango ("Cara, isso � melhor que toda a comida americana junta"), passeava por Ipanema com a namorada, a pantera Drew Barrymore. "Ela � praticamente uma brasileira. Se sente t�o � vontade com a minha fam�lia que �s vezes eu penso que eles est�o falando em portugu�s. Estivemos aqui h� tr�s anos, quando ela conheceu todo mundo. No dia em que chegou, o Brasil tinha ganhado a Copa do Mundo e havia toda aquela festa na rua, gente alegre e bebendo. Ela disse: 'Acho que sei agora porque me apaixonei por voc�'." Fabrizio est� falando �timo portugu�s. "Sempre pratiquei portugu�s com a minha m�e, por telefone, ela no Brasil, eu em Nova York. 'Fabrizio, ouvi dizer que est� frio em Nova York. N�o esquece a jaqueta quando sair!'."

Julian, quando n�o estava ensaiando ou no Porc�o ou em lugares como o Cristo Redentor, estava com os Casablancas. O vocalista dos Strokes pediu 40 ingressos da primeira noite do Tim e um lugar para estacionar um �nibus. Na plat�ia, a trupe de familiares e amigos brasileiros de Julian n�o paravam de pular no show dos Strokes. At� os min�sculos Johnzinho e Fernando, meio-irm�os do cantor, subiam aos ombros para dan�ar ao som do grupo. Faziam contraponto com a av� de 72 anos e a tia de Fabrizio, que comandavam a "torcida" do baterista, do outro lado.

Diferentemente do p�blico e da imprensa, os Strokes n�o curtiram o primeiro show brasileiro, no Museu de Arte Moderna. Ou, pelo menos, gostaram bem mais do segundo, o do Armaz�m do Cais do Porto, incendiado por uma plat�ia em n�mero igual, 4 mil pessoas, e com a m�dia de idade bem mais perto da adolesc�ncia. "Ontem est�vamos mais nervosos, travados, havia o pessoal da fam�lia. N�o ia sair um show perfeito, mesmo. Mas serviu para nos confrontarmos com as m�sicas novas. Podemos dizer que na sexta elas deixaram de ser estranhas para n�s. Deram-nos confian�a de que o disco novo vai ser bom", disse Julian Casablancas, no hotel, horas antes do show no Porto, no s�bado.

L�cio Ribeiro
Fernando, meio-irm�o brasileiro de Julian Casablancas, nas alturas durante o primeiro show dos Strokes no Rio


Enquanto o disco novo todo come�ava a aparecer na internet, a banda mostrava em primeira m�o aos brasileiros, ao vivo, as can��es "Hawaii-Aloha", "You Only Live Once", "Razor Blade", "Heart in a Cage" e "Juicebox". O que � essa "Hawaii-Aloha" que voc�s tocaram?, perguntei a Fabrizio no s�bado, antes do show do Armaz�m. Ela n�o estava na audi��o do disco, em Nova York, duas semanas antes. "O que voc� achou? Ela � uma m�sica que nasceu de uma brincadeira nossa e vamos us�-la como lado B do single de 'Juicebox'. Vai se chamar ou 'Hawaii' ou 'Aloha', n�o decidimos ainda", respondeu.

A conversa agora era entre Julian e Fabrizio. "Voc� viu que tinha gente que sabia cantar 'Juicebox'?", perguntou o baterista. "O que me espantou mesmo foi ver uma menina cantar 'You Only Live Once' com todas as palavras", respondeu Julian, come�ando um racioc�nio. "Eu nem sabia que essa m�sica j� tinha vazado. � por isso que eu n�o posso ficar contra a internet. A gente depende de uma garota assim como ela, que vai no computador dela buscar uma m�sica nossa na internet e depois vai ao nosso show para cantar junto com a gente. Talvez n�o estiv�ssemos tocando aqui no Brasil se aquela menina n�o baixasse m�sica na internet. Enquanto ela n�o baixar o ingresso pelo computador, tudo bem para mim".
Durante o papo dos dois Strokes, o resto da banda chegava numa su�te presidencial do hotel Caesar Park para uma entrevista para a MTV e uma sess�o de fotos para a BIZZ. O guitarrista Albert Hammond Jr., filho do famoso compositor, trouxe um amigo junto. "Rapazes, tem algu�m que quer conhecer voc�s." E eis que entra o senhor Elvis Costello. Todos os Strokes sentados levantam rapidamente. E acontecem os apertos de m�o e o elogio m�tuo. Costello marca uma cerveja em Buenos Aires, onde o artista e a banda tocariam depois do Brasil, e sai t�o r�pido quanto entrou.
Encontros dos Strokes com a velha gera��o do rock n�o s�o t�o freq�entes, segundo os caras da banda. Tidos como emuladores do proto-punk de Nova York, enxertado com sangue novo dos anos 00, os Strokes se encontrariam nos palcos do Tim Festival com uma esp�cie de "av�s" da banda, o veterano grupo Television.

"Nunca fui de ouvir muito Television", afirma Julian. "Mas sei bem quem foi Tom Verlaine. A primeira vez que eu me encontrei com ele foi agora, no aeroporto de Nova York ou no Brasil, n�o lembro. Me aproximei dele e disse 'Oi'. Ele respondeu, simp�tico: 'Oi'. Acho que essa foi a rela��o de mais proximidade que pode ter havido em Strokes e Television". Assim Casablancas explicou os paralelos do velho e do novo rock.

GRIPA? WHATEVER...

J� estava chegando a hora do show do Cais Porto, que ficou marcado como o de melhor apresenta��o da banda no Brasil e tamb�m o que arrebentou a enferrujada garganta de Casablancas. Somada a uma gripe "dos tr�picos", Julian chegou baleado e reclam�o ao palco do Anhembi, no domingo, no show paulistano da banda. E, ao microfone, soltou uma desculpa pelas escorregadas na voz que rendeu uma cena engra�ada: "Estou com 'gripa'", disse ele.

"Voc� acha que as pessoas perceberam que minha voz estava ruim?", quis saber, dois dias depois, na ter�a, no avi�o indo a Porto Alegre, rumo ao derradeiro show da banda no Brasil. Respondi que, bem, n�o conhecia uma pessoa que n�o tenha gostado de ver os Strokes em S�o Paulo. E que, se por um lado a voz estava prejudicada, ele tinha contado com um "backing vocal" gigantesco.

E a hist�ria do "gripa"?, zoei. "Ah, 'whatever'. Perguntei para algu�m da produ��o como se falava quando a pessoa estava fazendo 'Atchim'. Entendi que era 'gripa'. Isso � uma palavra que existe em portugu�s?", indagou o vocalista, com uma manga de blusa enrolada no pesco�o como cachecol, demonstrando mais preocupa��o com a "gafe internacional" do que qualquer das 25 mil pessoas que viram o show de S�o Paulo. N�o mesmo; "gripa" em portugu�s, eu desconhe�o. "Melhor assim", aliviou-se. "Poderia ser algum palavr�o, de repente. Como, por exemplo, 'diarr�ia'. Eu poderia estar dizendo ali no palco. 'Desculpem pela minha voz, mas � que estou com diarr�ia.' Vai saber..."

Um pouco antes do embarque para Porto Alegre, e uma vez que os Strokes s�o amiguinhos da internet e de quem baixa nela suas m�sicas, mostrei a Fabrizio, no iPod, que a garotada brasileira n�o brinca com esse assunto: "Escuta isso. Uma faixa do show de voc�s no Rio, 'Hawaii-Aloha'. Ontem j� tinha umas cinco p�ginas de f�s brasileiros dos Strokes com faixas ao vivo e os v�deos extra�dos da MTV".

"Voc� est� brincando! Deixa eu ouvir... (ouvindo)... (ouvindo e batendo as m�os no ar como se estivesse na bateria)... Ficou bom, hein? D� para adiantar at� a parte em que eu solo? Albert, ouve isso!", convidou Fabrizio. Albert ouviu, achou normal. Fabrizio estava mais entusiasmado. "Posso ouvir mais uma vez?"

L�cio Ribeiro
Fabrizio Moretti ouvindo "Hawaii" pirata no iPod do colunista. E adorando


Sempre penso que o avi�o pode cair quando estou nele. Talvez seja por causa do seriado "Lost". "Nunca penso isso. Acho que ele nunca cairia comigo dentro, porque ainda tenho muito a fazer", viaja Fabrizio. Assim que o avi�o pousou na capital ga�cha, o que Fabrizio e os outros Strokes tinham a fazer era tentar escapar da recep��o beatleman�aca que os esperavam no sagu�o do Aeroporto.

Aguardavam a banda nova-iorquina um ex�rcito de f�s compostos de 90% de garotinhas "Capricho" e 10% de meninos-clones de Strokes. Depois de alguns minutos conversando com a seguran�a particular deles, que j� estudava uma sa�da estrat�gica, a banda resolveu encarar. Os guitarristas Albert e Nick Valensi e o baixista Nikolai Fraiture passam ilesos. Mas o gal� e o brasileiro pararam no bloqueio feminino.

Horas mais tarde, essas meninas, multiplicadas por milhares, eram as mesmas que obrigaram a seguran�a tamb�m a se multiplicar na hora em que o grupo subiu ao palco, para segurar a grade que separava o p�blico do palco. O fosso dos fot�grafos, na hora em que os Strokes come�aram a tocar em Porto Alegre, tinha mais seguran�as do que c�meras.

Os Strokes chegaram ao Pavilh�o (um antigo hangar ao lado do Aeroporto Internacional Salgado Filho, que agora serve a raves e a shows de rock), por volta das 22h. Todos, menos Julian, que ficou repousando no hotel por causa da "gripa" e s� chegaria em cima da hora de a banda entrar em cena.

Fabrizio, Nick e Nikolai assistiram, na parte lateral do palco, a apresenta��o toda dos canadenses do Arcade Fire. "Acho que � a sexta vez que eu vejo o show deles. Nada no rock me bota t�o para cima quanto um concerto do Arcade Fire", elogiou Fabrizio. Pouco antes de os canadenses fecharem sua passagem brasileira em pandem�nio, os Strokes s�o avisados do hor�rio e se trancam na tenda-camarim, montada � beira da rampa do palco. Julian chega de van, j� vestido com o casaco estilo militar, em companhia do empres�rio Ryan Gentles e de um seguran�a. P�ra para dar um aut�grafo para um dos integrantes do Ac�sticos & Valvulados, atra��o ga�cha que abriu a noite, e entra para a "concentra��o".

Enquanto isso, no palco, o Arcade Fire estava terminando sua apresenta��o quando, na �ltima m�sica, "Rebellion (Lies)", um dos integrantes subiu com um bumbo numa das altas arma��es laterais do Pavilh�o. E ficou tocando longe da banda, por cima do p�blico, bem longe do palco. At� que uns "guris" da plat�ia escalaram a parede tamb�m e ficaram dan�ando com o canadense no estreito corredor que ligava os pilares de sustenta��o do galp�o. Enquanto o m�sico n�o descia, o resto do Arcade Fire ficou segurando a m�sica s� nos "Uhhhhhhhs" e "Ohhhhhhhs" vocais, na espera do retorno. O show canadense acabou em alta temperatura.

L�cio Ribeiro
Os Strokes tendo seu dia de Beatles na chegada a Porto Alegre


Assim que limparam o palco para a montagem do aparato sonoro dos Strokes, a temperatura tinha subido ainda mais. A gritaria quando qualquer roadie com apar�ncia stroke surgia no palco era inacredit�vel. Ondas humanas balan�avam o p�blico no pelot�o da frente. E, neste per�odo, por duas vezes, Fabrizio abandonava a tenda para fumar, do lado de fora. "� inacredit�vel como essa 'vibe' ainda contagia. Minhas pernas at� tremem!", entregou, visivelmente nervoso demais para quem j� tocou nos principais festivais europeus, americanos e japoneses.

Aconteceram dois shows dos Strokes em Porto Alegre. Um que s� a banda viu, ca�tico, dando tudo errado, cheio de incidentes. E outro que o p�blico conferiu: insano, intenso, cheio de energia. A cada final de can��o, Julian corria at� a bateria e tomava um copo de u�sque... cheio de ch�. At� a hora em que parei de contar, no meio do show, foram uns dez. Ele engolia e segurava a garganta, como se estivesse com dor. Fabrizio espancava e olhava para o cara da mesa de som, como se tivesse pedindo alguma ajuda. Nick Valensi passou o tempo todo amaldi�oando a guitarra, at� jog�-la para tr�s do palco, espatifando-a em duas. O que para a banda era um problema, para o p�blico tinha mais cara de atitude rock'n'roll.

O programado, pela lista de m�sicas, era o show acabar na quarta m�sica do bis, "I Can't Win", mas Julian deu o sinal de que n�o ag�entava mais. Foram tr�s. Os Strokes sa�ram do palco depois da terceira, "Reptilia", a grande explos�o popular da noite, mais at� que "Last Nite", que teve uma roupagem algo diferente no vocal e no andamento da bateria, em rela��o � conhecida vers�o do disco.

O show acabou. Julian saiu tonto, com a m�o na garganta. Fabrizio quase caiu ao descer da bateria. O comportado Albert jogou a guitarra no ch�o. Nick destruiu sua segunda guitarra e chutou seu d�cimo cavalete, desceu � plat�ia e entregou seu instrumento para uns meninos no gargarejo, para que fosse destru�do em segundos. A banda desceu a rampa do palco, entrou na van que os esperavam toda aberta e desapareceu ainda enquanto a galera aplaudia, talvez sonhando com mais um bis que n�o veio.

Nem duas horas depois da confus�o, os Strokes e os Arcade Fire bebiam caipirinha tranquilos, uma atr�s da outra, no bar do hotel Sheraton, em Porto Alegre. "Uma banda gosta da outra e j� chegamos a tocar nos mesmos lugares, mas esta � a primeira vez que nos reun�mos para nos conhecer", conta o baixista Nikolai Fraiture, enquanto Fabrizio usa seu "jeitinho brasileiro" para arrastar os canadenses para uma balada em um bar de Porto Alegre, o Ocidente. Logo, alguns Strokes e meio Arcade Fire, que n�o foram dormir, eram pegos cantando "Booooooooooorn to Be Wiiiiiiiiiild", no Ocidente, bebendo cerveja brasileira.

"Hoje � noite deu tudo errado, n�o? Foi nosso pior show no Brasil...", lamentou o baterista. Expliquei minha teoria da "confus�o rock'n'roll", que muitas vezes encanta o p�blico, como encantou na apresenta��o de Porto Alegre. Ele riu, tipo concordando. Quase seis da manh� de quarta, 26, um sonado Fabrizio Moretti � devolvido pela van da BIZZ de volta ao hotel. Abre a porta do seu quarto e encontra no ch�o um papel com a programa��o futura dos Strokes. Manh� e tarde de folga, depois viagem para Buenos Aires. A aventura beatleman�aca dos Strokes no Brasil, quando ele acordasse, iria acabar.
L�cio Ribeiro, 41, � colunista da Folha especializado em m�sica pop e cinema. Tamb�m � DJ, edita a revista "Capricho" e tem uma coluna na "Bizz". Escreve para a Folha Online �s quartas.

E-mail: lucio@uol.com.br

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