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30/04/2010 - 07h01

"Filho do Hamas" vira espi�o israelense ap�s dias de tortura; veja trecho de biografia

da Livraria da Folha

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Desde a inf�ncia, Mosab Hassan Yousef viveu nos bastidores do grupo fundamentalista isl�mico Hamas e testemunhou as manobras pol�ticas e militares que contribu�ram para acirrar a sangrenta disputa no Oriente M�dio. Por ser o filho mais velho do xeique Hassan Yousef, um dos fundadores da organiza��o, todos acreditavam que ele seguiria os passos do pai.

Divulga��o
A hist�ria real do filho do fundador da organiza��o que virou espi�o
A hist�ria real do filho do fundador da organiza��o que virou espi�o

�s v�speras de completar 18 anos, movido pela raiva e pelo desejo de vingan�a, Mosab decide assumir um papel mais ativo no combate a seus opressores e acaba sendo preso e levado para o mais terr�vel centro de interrogat�rios israelense.

Depois de dias sob tortura, ele recebe uma proposta do Shin Bet, o servi�o de intelig�ncia interno de Israel: sua liberdade em troca da colabora��o para identificar os l�deres do Hamas respons�veis por ataques terroristas. A princ�pio, considera a oferta absurda. Afinal, como poderia trair sua religi�o e seu povo e ajudar seus inimigos?

"Filho do Hamas" � o relato impressionante do caminho inesperado que Mosab resolve seguir ao questionar o sentido de um conflito que s� traz sofrimento para os inocentes, sejam eles palestinos ou israelenses. No livro, ele revela como se tornou espi�o do Shin Bet, narra passagens da vida dupla que levou durante dez anos e fala das escolhas arriscadas que fez para conter a viol�ncia de uma das organiza��es terroristas mais perigosas do mundo.

Esta � tamb�m uma hist�ria de transforma��o pessoal, uma jornada de redescoberta espiritual que come�a com a participa��o de Mosab num grupo de estudos b�blicos e culmina na sua convers�o ao cristianismo e na cren�a de que "amar seus inimigos" � o �nico caminho para a paz no Oriente M�dio.

Veja abaixo um trecho de "Filho do Hamas".

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Cap�tulo 1: Capturado

1996

Ao volante de meu pequeno Subaru branco, dobrei a esquina de uma das ruas estreitas que desembocam na estrada principal que sai da cidade de Ramallah, na Cisjord�nia. Pisando de leve no freio, me aproximei lentamente de um dos in�meros postos de controle espalhados pelas estradas que levam a Jerusal�m e saem de l�.

- Desligue o motor! Pare o carro! - algu�m gritou em um �rabe prec�rio.

Sem avisar, seis soldados israelenses pularam dos arbustos e bloquearam meu carro, cada um deles empunhando uma metralhadora, todas apontadas para a minha cabe�a.

Senti o p�nico subir por minha garganta. Parei o carro e joguei as chaves pela janela aberta.

- Sai da�! Sai!

Sem perder tempo, um dos homens abriu a porta com um tranco e me jogou no ch�o poeirento. Mal tive tempo de cobrir a cabe�a antes que a surra come�asse. Embora eu tentasse proteger o rosto, os pesados coturnos dos soldados logo encontraram outros alvos: costelas, rins, costas, pesco�o, cabe�a.

Dois dos homens me puseram de p� e me arrastaram at� o posto de controle, onde fui for�ado a me ajoelhar atr�s de uma barricada de cimento. Minhas m�os foram amarradas �s costas com um lacre pl�stico apertado demais. Algu�m me vendou e me jogou no ch�o da parte de tr�s de um jipe. Senti o medo se misturar � raiva enquanto eu me perguntava aonde eles estavam me levando e quanto tempo eu ficaria l�. Eu tinha pouco mais de 18 anos e faria minhas provas finais do ensino m�dio dali a poucas semanas. O que iria acontecer comigo?

Depois de um trajeto razoavelmente curto, o jipe parou. Um soldado me puxou para fora do ve�culo e removeu a venda. Apertando os olhos por causa do sol forte, percebi que est�vamos na Base Militar de Ofer, centro de defesa do Ex�rcito israelense e uma das maiores e mais seguras instala��es militares da Cisjord�nia.

No caminho para o edif�cio principal, passamos por v�rios tanques cobertos por lonas. Aqueles monstruosos ve�culos pareciam rochas imensas, desproporcionais, e sempre me intrigavam todas as vezes que eu os via do outro lado dos port�es.

J� dentro do edif�cio, um m�dico se aproximou de n�s e me deu uma olhada r�pida, aparentemente para se certificar de que eu estava apto a suportar o interrogat�rio. Devo ter passado no exame, pois, minutos mais tarde, as algemas e a venda foram recolocadas e fui novamente empurrado para dentro do jipe.

Enquanto eu me contorcia na pequena �rea geralmente reservada aos p�s, um soldado parrudo p�s seu coturno bem em cima do meu quadril e pressionou a boca do seu fuzil M16 contra o meu peito. O cheiro forte de combust�vel queimado tomava conta do ch�o do ve�culo, fechando a minha garganta. A cada vez que eu tentava me acomodar no espa�o apertado, o soldado afundava ainda mais o cano da arma no meu peito.

De repente, uma dor lancinante atravessou meu corpo e fez com que os dedos dos meus p�s se encolhessem. Era como se um foguete estivesse explodindo dentro do meu cr�nio. A for�a do golpe viera do banco dianteiro, e percebi que um dos soldados devia ter usado a coronha do fuzil para acertar minha cabe�a. Por�m, antes que eu tivesse tempo de me proteger, ele me golpeou outra vez, com ainda mais for�a, no olho. Tentei sair do seu alcance, mas o soldado que havia me usado como apoio para os p�s me arrastou e me colocou reto.

- N�o se mexa ou atiro! - gritou.

Mas eu n�o conseguia evitar me mover. A cada vez que seu companheiro me acertava, eu involuntariamente recuava.

Sob a venda �spera, meu olho estava come�ando a inchar at� se fechar, e senti que meu rosto ficava dormente. O sangue n�o circulava em minhas pernas. Minha respira��o se resumia a arquejos superficiais. Eu nunca havia sentido tanta dor. No entanto, pior do que a dor f�sica era o terror de estar � merc� de algo t�o cruel, brutal e desumano. Minha mente vagava enquanto eu me esfor�ava para entender os motivos que levavam meus algozes a fazer aquilo comigo. Eu compreendia que era poss�vel lutar e matar motivado pelo �dio, pela raiva, pela vingan�a ou at� mesmo pela necessidade. Mas eu n�o tinha feito nada �queles soldados. N�o mostrara resist�ncia e fizera tudo o que mandaram. Eu n�o era uma amea�a para eles: estava amarrado, vendado e desarmado. O que havia, dentro daquelas pessoas, que fazia com que tivessem prazer em me machucar? At� mesmo o animal mais vil mata por um motivo, n�o apenas por divers�o.

Pensei em como minha m�e se sentiria quando soubesse que eu havia sido detido. Depois que meu pai foi mandado para uma pris�o israelense, eu me tornara o homem da fam�lia. Ser� que eu ficaria preso por meses, ou at� anos, como havia acontecido com ele? Nesse caso, como minha m�e iria se virar sem mim? Comecei a entender como meu pai se sentia, preocupado com a fam�lia e triste ao saber que est�vamos preocupados com ele. Meus olhos se encheram d'�gua quando imaginei o rosto tenso da minha m�e.

Tamb�m me perguntava se todos os anos de escola estavam prestes a ser desperdi�ados. Se eu realmente estivesse sendo levado para uma pris�o israelense, faltaria �s provas finais no m�s seguinte. Uma torrente de perguntas e gritos atravessou minha mente enquanto eu continuava a ser golpeado: Por que voc�s est�o fazendo isso comigo? O que eu fiz? N�o sou um terrorista! Sou apenas um garoto. Por que est�o me espancando?

Tenho quase certeza de que desmaiei v�rias vezes, mas, sempre que voltava a mim, os soldados ainda estavam l�, me batendo. Eu n�o podia me esquivar dos golpes. A �nica coisa que podia fazer era gritar. Senti a bile subindo pela minha garganta, me causando uma �nsia insuport�vel, ent�o vomitei sobre mim mesmo.

Uma tristeza profunda tomou conta de mim antes que eu perdesse mais uma vez a consci�ncia. Seria o fim? Eu iria morrer antes de minha vida ter realmente come�ado?

*

"Filho do Hamas"
Autor: Mosab Hassan Yousef
Editora: Sextante
P�ginas: 288
Quanto: R$ 29,90
Onde comprar: Pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha

 
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