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25/07/2006 - 09h34

Anatoli Vassiliev reafirma busca por teatro espiritual em Avignon

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VALMIR SANTOS
da Folha de S.Paulo, em Avignon

Localizada na Europa Oriental, a R�ssia � a nascente do teatro psicol�gico disseminado no lado ocidental daquele continente e no restante do planeta. Os respons�veis por isso foram os mestres do Teatro de Arte de Moscou (1898), Constantin Stanislavski e Vladimir Nemirovitch-Dantchenko --e depois Meyerhold. Eles legaram estudos fundamentais sobre a arte do ator.

Na Moscou de hoje, mais afeita ao capitalismo, um dos artistas que mais dialogam com aquela tradi��o � Anatoli Vassiliev, cuja vitalidade est� na dimens�o espiritual (e ritual) com que trata a cena, em chave metaf�sica.

Seus espet�culos s�o impregnados de conte�dos sobre religi�o (n�o o dogma, mas a liturgia) e filosofia (Plat�o), transmut�veis pela a��o f�sica e pelo canto, invariavelmente na forma de coros. Foi o que se viu nos dois trabalhos que apresentou no 60� Festival de Avignon, principal evento mundial das artes c�nicas, que segue at� quinta-feira, no sul da Fran�a.

"Mozart e Salieri" (2004) e "A Il�ada - Canto 23" (2003) foram levadas ao ar livre, numa pedreira desativada a 20 minutos do centro da cidade, a Carri�re de Boulbon, m�tico espa�o onde o ingl�s Peter Brook mostrou sua vers�o para o poema �pico indiano "Mahabharata".

A pe�a "Mozart e Salieri" (1826), de Aleksander Pushkin, versa sobre o embate entre os dois g�nios --na fic��o, o �ltimo teria envenenado o primeiro. Na "Il�ada" (s�culo 8 a.C.), �pico de Homero considerado fundador da civiliza��o e do "esp�rito" gregos, o recorte � pelo canto (ou cap�tulo) em que acontecem os funerais de P�troclo e os jogos militares.

Ambos os textos s�o em versos, sobre os quais Vassiliev trabalha ritmo e entona��o. Notam-se ainda os fios da ortodoxia como dado cultural da R�ssia --n�o recha�ado, mas relido. Tamb�m est�o presentes os movimentos corais, com direito a t�cnicas de lutas marciais em "A Il�ada" --a diretora Maria Tha�s, da cia. Teatro Balagan (SP), trabalhou com Vassiliev e co-assina a coreografia.

No espa�o c�nico em que as paredes de pedra direcionam o olhar para o c�u, sob o som noturno das cigarras, despontam os cerca de 40 int�rpretes em cada um dos espet�culos, entre atores, cantores e m�sicos. "O trabalho n�o � fruto de experi�ncias casuais, mas direcionado por teorias e pr�ticas anteriores do teatro psicol�gico russo. Eu sa� dessa base. O per�odo de pesquisa da pr�tica espiritual levou anos, at� que uma metodologia exata foi formada", afirma Vassiliev, 64.

As primeiras experi�ncias para uma pr�tica espiritual no teatro datam dos anos 90, com o drama lit�rgico "A Lamenta��o de Jeremias" (1995). Um ano antes, aconteciam os primeiros estudos para "A Il�ada".

A vers�o mostrada em Avignon foi finalizada em 2003: um processo de quase dez anos. "Eu simplesmente ocupei uma lacuna que foi deixada no teatro russo, que come�ou a partir do drama secular. O drama lit�rgico existia somente junto aos monast�rios, o chamado drama escolar. Restaurei esse per�odo que foi deixado em branco, quase uma reconstru��o. Havia resist�ncia quanto ao drama metaf�sico, o realismo c�nico era mais forte", explica Vassiliev, em russo, traduzido pela atriz brasileira Marina Tenorio, integrante da Escola de Arte Dram�tica que ele coordena em Moscou desde 1987.

Ao sintetizar passado e presente, Vassiliev abriu novas portas para o teatro contempor�neo nas �ltimas duas d�cadas. Herdou e recriou a figura do encenador-pedagogo da escola russa. "O diretor e o pedagogo s�o a mesma coisa, porque a encena��o n�o � entendida sem a pedagogia. Diferente da escola europ�ia, que se relaciona com o ator como um objeto. O encenador-pedagogo lida com o ser humano e � a partir desse ponto que � desenvolvida toda a terminologia." Um teatro da utopia, como ele diz.

O rep�rter VALMIR SANTOS viajou a convite do Consulado-Geral da Fran�a em S�o Paulo

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