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14/09/2003
-
08h14
da Folha Online
Leia a seguir um trecho do in�dito "Budapeste", de Chico Buarque de Hollanda, que ser� lan�ado pela editora Companhia das Letras. � seu terceiro romance, em que o cantor e compositor "mergulha" em uma "literatura paralela", a dos escritores an�nimos, ao descrever o universo de um "ghost-writer" atormentado.
O trecho abaixo � do segundo cap�tulo, e come�a na p�gina 25 de "Budapeste".
"Artistas, pol�ticos e escroques famosos batiam � minha porta, mas eu me dava ao luxo de atender somente personagens t�o obscuros quanto eu mesmo. Clientes que me lembravam aqueles da sala tr�s por quatro do centro da cidade, exceto por serem ricos o suficiente para pagar o cach� extorsivo que o �lvaro estipulava, al�m de custearem a tiragem do livro para distribui��o entre parentes e amigos. Tipos como o velho criador de zebu dos cafund�s do pa�s, cujas mem�rias reescrevi com muito sexo, transatl�nticos, coca�na e �pio, proporcionando-lhe algum conforto num leito de hospital.
O homem estava mesmo nas �ltimas, e mal teve for�as para me autografar um exemplar do seu Invent�rio Passional, que levei para o encontro de autores an�nimos em Istambul.
Selecionei as melhores passagens para leitura p�blica, mas meus pares exigiram que eu o lesse de cabo a rabo; se eu n�o tinha uma celebridade a assin�-lo, tinha quantidade delas dentro do relato, e enquanto relacionava as atrizes de cinema, primeiras-damas, senhoras do jet set e um ou outro pr�ncipe que o velho levara para a cama, escutava o rebuli�o e as gargalhadas na plat�ia.
Minha produ��o era ent�o copiosa, e j� �s v�speras de partir para a Turquia tinha me comprometido a p�r em livro as aventuras cariocas de um executivo alem�o, que agora me aguardava na ag�ncia. Mas eu estava com pregui�a, vim pela praia devagar, vim olhando as meninas de bicicleta, parei para tomar um coco, quase dormi em cima do balc�o, e quando cheguei o alem�o tinha acabado de ir embora.
Fiquei um tempo plantado na recep��o, sem saber o que fazer, e a voz aguda do �lvaro atravessava as paredes: mas a id�ia de distribuir laranjas foi do governador. . . a� teria que numerar todos os cavalos. . . claro, ningu�m pega herpes pelo telefone. . . o.k., cara, se voc� quiser, eu providencio uma tr�plica. . . ent�o vamos deixar para l�, tchau tchau. . . al�!. . . A recepcionista queria me anunciar ao �lvaro, mas n�o precisava, era muita a pregui�a, era o fuso hor�rio, era o jet lag, era vontade de ir para casa."
Budapeste
Autor: Chico Buarque
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 29,50 (174 p�gs.)
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Leia um trecho de "Budapeste", novo livro de Chico Buarque
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Leia a seguir um trecho do in�dito "Budapeste", de Chico Buarque de Hollanda, que ser� lan�ado pela editora Companhia das Letras. � seu terceiro romance, em que o cantor e compositor "mergulha" em uma "literatura paralela", a dos escritores an�nimos, ao descrever o universo de um "ghost-writer" atormentado.
O trecho abaixo � do segundo cap�tulo, e come�a na p�gina 25 de "Budapeste".
"Artistas, pol�ticos e escroques famosos batiam � minha porta, mas eu me dava ao luxo de atender somente personagens t�o obscuros quanto eu mesmo. Clientes que me lembravam aqueles da sala tr�s por quatro do centro da cidade, exceto por serem ricos o suficiente para pagar o cach� extorsivo que o �lvaro estipulava, al�m de custearem a tiragem do livro para distribui��o entre parentes e amigos. Tipos como o velho criador de zebu dos cafund�s do pa�s, cujas mem�rias reescrevi com muito sexo, transatl�nticos, coca�na e �pio, proporcionando-lhe algum conforto num leito de hospital.
O homem estava mesmo nas �ltimas, e mal teve for�as para me autografar um exemplar do seu Invent�rio Passional, que levei para o encontro de autores an�nimos em Istambul.
Selecionei as melhores passagens para leitura p�blica, mas meus pares exigiram que eu o lesse de cabo a rabo; se eu n�o tinha uma celebridade a assin�-lo, tinha quantidade delas dentro do relato, e enquanto relacionava as atrizes de cinema, primeiras-damas, senhoras do jet set e um ou outro pr�ncipe que o velho levara para a cama, escutava o rebuli�o e as gargalhadas na plat�ia.
Minha produ��o era ent�o copiosa, e j� �s v�speras de partir para a Turquia tinha me comprometido a p�r em livro as aventuras cariocas de um executivo alem�o, que agora me aguardava na ag�ncia. Mas eu estava com pregui�a, vim pela praia devagar, vim olhando as meninas de bicicleta, parei para tomar um coco, quase dormi em cima do balc�o, e quando cheguei o alem�o tinha acabado de ir embora.
Fiquei um tempo plantado na recep��o, sem saber o que fazer, e a voz aguda do �lvaro atravessava as paredes: mas a id�ia de distribuir laranjas foi do governador. . . a� teria que numerar todos os cavalos. . . claro, ningu�m pega herpes pelo telefone. . . o.k., cara, se voc� quiser, eu providencio uma tr�plica. . . ent�o vamos deixar para l�, tchau tchau. . . al�!. . . A recepcionista queria me anunciar ao �lvaro, mas n�o precisava, era muita a pregui�a, era o fuso hor�rio, era o jet lag, era vontade de ir para casa."
Budapeste
Autor: Chico Buarque
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 29,50 (174 p�gs.)
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