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06/09/2003 - 09h51

"Revolu��o dos Bichos" � mais do que s�tira a comunismo

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M�RCIO SENNE DE MORAES
da Folha de S.Paulo

� primeira vista, "A Revolu��o dos Bichos", de George Orwell --que chega amanh� �s bancas-- , � s� uma genial s�tira � Revolu��o Russa (1917). Sua narrativa relaciona pessoas, animais e eventos �s transforma��es ocorridas na R�ssia (ou URSS) no s�culo 20. Todavia, embora Orwell tenha buscado mostrar uma �poca espec�fica, sua obra pode --e deve-- ser vista como uma alegoria a qualquer revolu��o em que os mais fracos tomam o poder e, em seguida, s�o por ele corrompidos.

A a��o ocorre na Granja do Solar, dirigida pelo Sr. Jones, que tem s�rios problemas de alcoolismo e maltrata seus animais. Publicada em 1945, no auge do regime stalinista, "A Revolu��o dos Bichos" j� come�a com essa alus�o ao final do czarismo. Afinal, o czar Nicolau 2� era conhecido por seu pouco apre�o pela popula��o, preferindo falar franc�s a russo, segundo relatos hist�ricos, e tinha uma queda pelo �lcool.

N�o faltam paralelos entre personagens do livro e da Revolu��o Russa. O velho Major, porco s�bio e professoral, � uma mistura de Karl Marx, famoso por ter transmitido suas cren�as socialistas por meio de textos, repletos de conte�do revolucion�rio, baseados na economia e na filosofia, com o L�nin idealista do princ�pio da revolu��o. � Major que espalha as sementes da revolu��o na Granja do Solar, que se tornar� a Granja dos Bichos.

A exemplo de Marx, foi s� ap�s a morte de Major que seus ideais igualit�rios foram aplicados. A� surgem Bola-de-Neve e Napole�o, os dois porcos que comandar�o o levante dos animais contra o Sr. Jones. Napole�o, partid�rio do totalitarismo, foi criado para representar St�lin, o mais sanguin�rio dos l�deres sovi�ticos. Bola-de-Neve tem destino similar ao de Tr�tski, transformando-se, � custa de muita propaganda, no "inimigo da revolu��o".

Os cavalos Sans�o e Quit�ria representam o proletariado. Sem acesso �s informa��es, eles cr�em no que lhes conta Garganta, porco que � uma alegoria aos sistemas de propaganda dos regimes totalit�rios (um tipo de "Pravda" de quatro patas). Sans�o � a encarna��o irracional do mito criado em torno de Alexei Stakhanov, o mais famoso trabalhador sovi�tico por seu empenho e por sua dedica��o.

Ademais, Napole�o se cerca de c�es ferozes, "verdadeiros defensores da revolu��o", que funcionam como a KGB (a pol�cia secreta sovi�tica) ou suas antecessoras, n�o permitindo dissens�o nem oposi��o ao poder central.

H� ainda, na obra-prima de Orwell, v�rias alus�es a fatos da Revolu��o Russa. As sempre inating�veis metas dos planos quinquenais de St�lin s�o representadas pela constru��o do moinho de vento: o sonho imposs�vel dos moradores da Granja dos Bichos.

Os expurgos stalinistas aparecem no momento em que a subleva��o dos animais est� em perigo por conta de ataques do mundo exterior (dos homens). Assim, in�meros animais acabam mortos, num banho de sangue que faz com que os outros revolucion�rios da granja se lembrem do Sr. Jones --talvez como o proletariado sovi�tico pensou nas for�as de seguran�a de Nicolau 2� durante os expurgos realizados por St�lin.

Contudo, como lembra o aforismo do final da obra ("Todos os animais s�o iguais, mas alguns animais s�o mais iguais que os outros"), que se torna o �nico mandamento da Granja dos Bichos, a ilus�o revolucion�ria � breve, e o poder absoluto corrompe aqueles que o exercem.

� a� que Orwell, um socialista de convic��es democr�ticas, conforme sua defini��o, dirige sua s�tira corrosiva para qualquer sistema desgovernado. E os porcos (classe dominante) passam a lembrar os homens, seus maiores inimigos inicialmente.

A Guerra Fria transformou "A Revolu��o dos Bichos" num cl�ssico da propaganda anticomunismo, mas suas li��es s�o mais atuais que nunca, pois a concentra��o de poder, a manipula��o das informa��es e as desigualdades s�o cada vez mais graves.

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