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30/04/2003 - 07h46

Marcelo D2 critica o sucesso f�cil e reverencia o samba

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Folha de S.Paulo

Est� no ar o primeiro CD brasileiro oficialmente numerado pela ind�stria fonogr�fica. Coincid�ncia ou n�o, � o segundo disco solo do rebelde rapper carioca Marcelo D2, 35, do Planet Hemp.

"� Procura da Batida Perfeita" expande o interesse de D2 em utilizar bossa nova e samba como matrizes fundadoras de sua m�sica, ao lado dos habituais funk e rap norte-americanos.

Brincando com a id�ia de o hip hop ser "o pesadelo do pop", ele j� abre o disco criticando os programas televisivos tipo "Fama", Faust�o, Hebe Camargo e a vit�ria da obsess�o por sucesso e dinheiro sobre a "mera" m�sica.

Para D2 o hip hop �, sim, o pesadelo do pop -usa o rapper branco americano Eminem para exemplificar. "Ele � o pesadelo do pop, � tudo que podia dar errado no pop, fala um monte de merda. Ningu�m gosta daquilo que ele diz, mas nossos filhos compram."

Seu filho Stephan, 11, adora Eminem, ele pr�prio nem tanto. Mas acha que pode, sim, ser o pesadelo do pop no Brasil. "Sou um cara na Sony Music falando mal do Faust�o e da Hebe e defendendo o uso de maconha..."

Mas, se nos EUA Eminem j� � o pr�prio pop, D2 admite que tamb�m procura isso no Brasil -ser o pesadelo de si pr�prio. Por isso � que tenta puxar para si o samba, em refer�ncias e samples recorrentes durante o disco todo.

� algo que diz que rejeitou quando era mais jovem e que n�o poderia fazer no Planet Hemp, que prioriza um hip hop mais ligado ao rock e ao punk. Mas sabe que sua identidade passa por ali.

Por isso em "A Maldi��o do Samba" ele bole zombeteiramente com a sina sambista brasileira, mas termina com sample de pito de Paulinho da Viola: "T� legal, eu aceito o argumento/ mas n�o me altere o samba tanto assim...".

D2 conta que suou frio ao pedir autoriza��o a Paulinho. "No outro disco a mulher do Tom Jobim negou uma autoriza��o e ainda achou que era uma afronta, um desrespeito. Quando Paulinho pediu para ler a letra, pensei: 'Fodeu'". Mas n�o. Ele autorizou.

D2 admite uma rela��o amb�gua com os sambistas, que em geral renegam americaniza��es e fus�es pop. "Sinto que Beth Carvalho me v� com olhos de 'o que est� acontecendo?'. Mas � outra �poca, outra favela, outro asfalto, outra guerra", afirma, dizendo entender que n�o exista muita gente fazendo samba de raiz.

Cria-se o paradoxo: o samba rejeita D2, que rejeita samplear, por exemplo, a tropic�lia, basti�o da "impureza" na MPB. "Os conflitos n�o precisam ser inaceit�veis, a gente tem que conviver com os diferentes", ensina.

O assunto pula para a viol�ncia no Rio de Janeiro e a m�dia de tr�s vezes por semana em que D2 diz ser parado e revistado pela pol�cia. Conta, algo sorridente, que chegou a ter de descer do carro, filha pequena no colo, diante de policiais armados de fuzis.

"Convivo com isso h� muito tempo, �s vezes at� luto para falar que acho isso meio natural. Mas � claro que � uma puta agress�o", reconhece, remetendo � letra de "Vai Vendo". Ali, cita em tom cr�tico os personagens marginais do filme "Cidade de Deus". "Quis dizer algo como 'Z� Pequeno � o caralho, existe tamb�m o D2'".

Nem tudo tem funcionado pela �tica da viol�ncia. H� poucos dias, o Planet Hemp enfrentou em Linhares (ES) uma passeata contra sua presen�a na cidade.

Ainda sim, fez show lotado, sem qualquer confronto com a pol�cia. D2 foi a um programa evang�lico de r�dio se defender em pessoa. "Pelo menos j� rola conversa, n�o � mais aquela parada da pol�cia entrando e prendendo."
Sobre a poss�vel lei de criminaliza��o do jab� (dinheiro pago por gravadoras para executar m�sicas em r�dio e TV), � sua vez de subir em cima do muro: "N�o quero me meter nisso. Acho bom que minha m�sica toque, n�o quero saber se com jab� ou n�o".

O jornalista Pedro Alexandre Sanches viajou a convite da gravadora Sony.
 

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