Saltar para o conte�do principal

Publicidade

Publicidade

 
 
23/05/2002 - 02h44

Programa "Linha Direta" sai do ar na pr�xima semana

Publicidade

LAURA MATTOS
da Folha de S. Paulo

O "Linha Direta" comemora tr�s anos na pr�xima segunda-feira. De presente, o programa ganha a geladeira da Globo por, pelo menos, cinco semanas.

O policial -que faz reconstitui��o de crimes e instiga os telespectadores a denunciar foragidos- foi ao ar pela primeira vez no dia 27 de maio de 1999. Hoje, exibir� sua �ltima edi��o antes da "quarentena", for�ada -oficialmente- pela Copa. Mas, depois dos jogos, vem o hor�rio eleitoral, que pode manter o "Linha Direta" no freezer global. Ningu�m sabe, na verdade, at� quando fica l�.

O programa -criado para a "guerra" contra o Ratinho- j� teve �pocas �ureas no Ibope, com 35 pontos de m�dia. Mas caiu e hoje n�o consegue passar da marca dos 27, 28, nada t�o significativo para a Globo no hor�rio.

Tr�s anos depois de dizer "a partir de hoje voc� est� em linha direta com o seu direito, em linha direta com a cidadania", o apresentador Marcelo Rezende, um dos criadores da pol�mica atra��o, nem est� mais na Globo (h� um m�s foi contratado pela Rede TV!) e faz cr�ticas ao programa. Diz que casos com ricos e poderosos eram evitados. "N�o aguentava mais marido que matou mulher, mulher que matou marido."

Afirma que a gota d'�gua para que deixasse o policial, pouco mais de um ano ap�s a estr�ia, foi um epis�dio "que mudaria a hist�ria do caso Daniella Perez". Produzido e editado por Rezende, com entrevista com a autora Gl�ria Perez (m�e da atriz assassinada em 92), foi, segundo ele, barrado pela Globo.

Abaixo, Rezende fala sobre essa e outras hist�rias do "Linha Direta", programa que teve como teste a "hist�rica" entrevista com o man�aco do parque, exibida no "Fant�stico", em novembro de 98 ("uma lamban�a que n�o teve tamanho").

Folha - O "Linha Direta" foi a primeira experi�ncia na Globo de misturar jornalismo com entretenimento. Quem teve essa id�ia?
Marcelo Rezende -
O [Carlos] Schroder [hoje diretor da Central Globo de Jornalismo, na �poca, o segundo homem, abaixo de Evandro Carlos de Andrade] me disse: "O Evandro mandou te perguntar se voc� quer fazer um programa na CGP [Central Globo de Produ��o, de shows e teledramaturgia]". Encontrei-me com o [Roberto]Talma [um dos diretores da CGP". Ele n�o tinha id�ia do programa e come�amos a constru�-lo juntos. Daniel Filho sugeriu algo com procura e fotos. Mas o primeiro caso foi uma lamban�a que n�o teve tamanho. Fomos entrevistar o man�aco do parque. Editamos e levamos � dire��o da Globo. Dissemos que aquele poderia ser o formato. A Marluce [Dias da Silva, diretora-geral] quase enfarta, achou punk demais. Mas o Evandro mandou que tir�ssemos da edi��o umas maluquices para p�r no ar.

Folha - Ent�o tinha mais "maluquices" do que as que foram ao ar?
Rezende -
N�o. Na hora de editar, acabamos deixando do jeito que estava. Decidimos bancar. Botamos no ar e deu 53 de pico, �s 23h. Foi um estrondo. Pensei: "Estou com a vida feita aqui dentro, ganhei o jogo". Nunca tomei tanto esporro na vida. A imprensa quase me mata. Pedi demiss�o de tanta vergonha. Uma coisa � o entusiasmo e outra � depois que voc� reflete. � �bvio que a gente errou a edi��o. A Globo me deu f�rias e o projeto [do "Linha Direta"" micou. Mas a� o Ratinho disparou, come�ou a dar 33, 34 de m�dia, e a Globo, 20. A Marluce, ent�o, pediu que volt�ssemos com o projeto. Fechamos a primeira id�ia na casa do Talma, comendo dobradinha �s 9h.

Folha - E por que voc� saiu?
Rezende -
Eu queria mexer no programa e come�aram a barrar. Houve briga de egos. O ego mais forte era o meu. Imagine um jornalista fazendo um programa que dava quase 40 pontos! Al�m disso, eu queria participar da reconstitui��o e n�o deixaram.

Folha - Mas voc� na reconstitui��o do crime n�o poderia virar uma confus�o para o telespectador?
Rezende -
N�o. As pessoas gostam. Porque aquilo ali era muito mais a dramaturgia.

Folha - Mas n�o � problem�tico, como quando um telespectador denunciou um ator de uma reconstitui��o -achando que fosse o criminoso-, que quase foi preso?
Rezende -
Mas acontece. J� viu quando um jogador de futebol sai do est�dio e d�o pedrada nele?

Folha - Mas nesse caso as pessoas querem dar pedrada nele mesmo.
Rezende -
Mas acontecia (risos). Era natural, porque o grande barato era que os atores eram parecidos com os procurados. Era um truque para fazer com que as pessoas participassem daquilo. Voc� acha que � mole derrubar o Ratinho com 30 e tantos pontos de audi�ncia? � barra-pesada.

Folha - Do que voc� n�o gostava?
Rezende -
Os casos eram sempre com pessoas pobres ou de classe m�dia. Eu queria pegar os ricos.

Folha - Quem fazia essa sele��o?
Rezende -
A CGJ [Central Globo de Jornalismo].

Folha - Que casos tentou produzir e n�o foram aprovados?
Rezende -
Tinha um senador que eu sabia que estava envolvido num crime... Isso n�o foi bem recebido. N�o sei se � receio ou discrimina��o. Um que me aborreceu muito foi quando come�amos a levantar novamente o caso da Daniella Perez. Eu conversei com a Gl�ria v�rias vezes. Mesmo o caso j� tendo sido julgado, t�nhamos uma testemunha que at� hoje ningu�m ouviu. N�o vou contar porque uma hora eu uso. O cara estava aposentado da pol�cia, pescando em paz. Fizemos ele contar a hist�ria, editamos o programa. A Gl�ria participou. Por decis�o da CGJ, o programa n�o foi ao ar. Foi a gota d'�gua.

Folha - Isso poderia mudar a hist�ria da morte de Daniella Perez?
Rezende -
Havia uma d�vida e a testemunha modificava a hist�ria. Eu sabia que o neg�cio estava errado. A� perdi a paci�ncia. N�o ia passar o resto da minha vida mostrando crime de mulher que matou o marido ou marido que matou a mulher. Queria mais.

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da p�gina