Publicidade
Publicidade
26/01/2003
-
23h26
da Folha de S. Paulo, enviado especial a Davos
O presidente Luiz In�cio Lula da Silva prop�s ontem um "pacto mundial pela paz e contra a fome", cujo primeiro passo seria a cria��o de um "fundo internacional para o combate � mis�ria e � fome nos pa�ses do Terceiro Mundo, constitu�do pelos pa�ses do G-7 e estimulado pelos grandes investidores internacionais".
A proposta foi apresentada durante o discurso de Lula em sess�o plen�ria do encontro anual 2003 do F�rum Econ�mico Mundial e teve consequ�ncia imediata.
Klaus Schwab, o empres�rio e professor su��o que preside o f�rum, conversou com Lula sobre a cria��o de uma for�a-tarefa conjunta Davos/Porto Alegre para estudar detalhes para a implementa��o do fundo.
O ex-presidente norte-americano Bill Clinton, que tamb�m conversou ontem com Lula, classificou a proposta de "uma boa id�ia, consistente com a declara��o de Doha e com a tese de que os pa�ses ricos devem gastar mais dinheiro para ajudar os pa�ses pobres".
A declara��o de Doha � o documento final da Confer�ncia Ministerial da Organiza��o Mundial do Com�rcio, realizada na capital do Qatar, e que decidiu pela realiza��o de nova rodada de negocia��es comerciais, voltada justamente para o desenvolvimento.
Clinton afirmou que o custo seria modesto, a julgar pela avalia��o dos gastos com uma s�rie de programas sociais a favor de pa�ses pobres.
J� Nancy Birdsall, especialista em programas de combate � pobreza, enquanto foi funcion�ria do Banco Mundial, defendeu o conceito (reduzir as assimetrias entre ricos e pobres), mas criticou o instrumento (novo fundo). "� melhor aperfei�oar os mecanismos j� existentes no Banco Mundial e no pr�prio Fundo Monet�rio Internacional", acha Birdsall, hoje presidente do Centro para o Desenvolvimento Global (EUA).
O discurso de Lula em Davos foi coerente com a sua id�ia original de construir uma ponte entre os f�runs da Su��a e de Porto Alegre. "(A ponte) n�o � uma id�ia nova, mas, para dar certo, � preciso algo concreto. O fundo � uma coisa concreta que pode ser discutida pelos dois f�runs", disse depois o presidente, em uma conversa informal com um grupo de jornalistas brasileiros.
O discurso e os encontros em Davos renderam outros dividendos. Bill Gates, o legend�rio dono da Microsoft, discutiu com o presidente brasileiro a cria��o no Brasil de p�los de desenvolvimento de software (programas de computadores), claro que financiados pela Microsoft ou pela Funda��o Bill e Melinda Gates.
Seria uma empreitada semelhante � que a �ndia vem desenvolvendo com �xito h� algum tempo.
Al�m de um poss�vel investimento, Gates se disse disposto a doar software para escolas, bibliotecas e outros organismos p�blicos. Anunciou que um emiss�rio seu ir� em breve ao Brasil para discutir os detalhes.
Por fim, o megainvestidor George Soros, que havia dito � Folha em junho que o eleitorado brasileiro seria for�ado pelos mercados financeiros a escolher entre Jos� Serra, candidato do governo, e o caos, agora est� disposto a ajudar Lula.
Discutiu com o presidente brasileiro n�o o fundo internacional por ele proposto, mas um equivalente exclusivamente no Brasil.
"O senhor pretende investir nesse fundo?", perguntou a Folha a Soros: "� preciso separar as coisas. Eu tenho uma funda��o e tenho investimentos. Investimentos s�o estritamente para lucro".
Al�m do "pacto mundial pela paz e contra a fome", o discurso de Lula foi muito mais Porto Alegre que Davos, como, de resto, j� ocorrera na noite anterior, em sua fala no "Jantar Iberoamericano".
� verdade que Lula voltou a citar a Carta ao Povo Brasileiro, na qual o PT se comprometeu a respeitar contratos, manter a infla��o sobre controle e o equil�brio fiscal _todos itens sagrados para os investidores.
� igualmente verdade que jogou a isca da amplia��o da infraestrutura no Brasil, "com a participa��o de capitais estrangeiros".
Mas a ess�ncia da fala foi ou social ou de cr�tica �s desigualdades tanto no plano interno como entre pa�ses.
Exemplo: "Mais de dez anos ap�s a derrubada do Muro de Berlim, ainda persistem muros que separam os que comem dos famintos, os que t�m trabalho dos desempregados, os que moram dignamente dos que vivem na rua ou em miser�veis favelas, os que t�m acesso � educa��o e ao acervo cultural da humanidade dos que vivem mergulhados no analfabetismo e na mais absoluta aliena��o". Criticou duramente o protecionismo dos pa�ses ricos: "De nada valer� o esfor�o exportador que venhamos a desenvolver se os pa�ses ricos continuarem a pregar o livre com�rcio e a praticar o protecionismo".
Acrescentou, j� na fase de perguntas e respostas: "Podem ficar certos de que voc�s v�o ouvir falar muito de um presidente briguento e que defende os interesses de seus pa�s. N�o queremos ser tratados como cidad�os de segunda categoria. Respeito � bom, n�s damos e gostamos de receber".
Terminada sua experi�ncia no F�rum de Davos, motivo de pol�mica no PT e em c�rculos ligados ou simp�ticos ao partido, Lula ironizou: "O fant�stico � que vou voltar para o Brasil e meus companheiros do F�rum Social Mundial v�o perceber que estou voltando inteiro, ningu�m comeu nenhum peda�o de mim. E o Lula n�o comeu nenhum peda�os deles (o pessoal de Davos)". Foi prolongadamente aplaudido.
Veja tamb�m o especial sobre os f�runs globais
Em Davos, Lula prop�e fundo internacional contra a fome
CL�VIS ROSSIda Folha de S. Paulo, enviado especial a Davos
O presidente Luiz In�cio Lula da Silva prop�s ontem um "pacto mundial pela paz e contra a fome", cujo primeiro passo seria a cria��o de um "fundo internacional para o combate � mis�ria e � fome nos pa�ses do Terceiro Mundo, constitu�do pelos pa�ses do G-7 e estimulado pelos grandes investidores internacionais".
A proposta foi apresentada durante o discurso de Lula em sess�o plen�ria do encontro anual 2003 do F�rum Econ�mico Mundial e teve consequ�ncia imediata.
Klaus Schwab, o empres�rio e professor su��o que preside o f�rum, conversou com Lula sobre a cria��o de uma for�a-tarefa conjunta Davos/Porto Alegre para estudar detalhes para a implementa��o do fundo.
O ex-presidente norte-americano Bill Clinton, que tamb�m conversou ontem com Lula, classificou a proposta de "uma boa id�ia, consistente com a declara��o de Doha e com a tese de que os pa�ses ricos devem gastar mais dinheiro para ajudar os pa�ses pobres".
A declara��o de Doha � o documento final da Confer�ncia Ministerial da Organiza��o Mundial do Com�rcio, realizada na capital do Qatar, e que decidiu pela realiza��o de nova rodada de negocia��es comerciais, voltada justamente para o desenvolvimento.
Clinton afirmou que o custo seria modesto, a julgar pela avalia��o dos gastos com uma s�rie de programas sociais a favor de pa�ses pobres.
J� Nancy Birdsall, especialista em programas de combate � pobreza, enquanto foi funcion�ria do Banco Mundial, defendeu o conceito (reduzir as assimetrias entre ricos e pobres), mas criticou o instrumento (novo fundo). "� melhor aperfei�oar os mecanismos j� existentes no Banco Mundial e no pr�prio Fundo Monet�rio Internacional", acha Birdsall, hoje presidente do Centro para o Desenvolvimento Global (EUA).
O discurso de Lula em Davos foi coerente com a sua id�ia original de construir uma ponte entre os f�runs da Su��a e de Porto Alegre. "(A ponte) n�o � uma id�ia nova, mas, para dar certo, � preciso algo concreto. O fundo � uma coisa concreta que pode ser discutida pelos dois f�runs", disse depois o presidente, em uma conversa informal com um grupo de jornalistas brasileiros.
O discurso e os encontros em Davos renderam outros dividendos. Bill Gates, o legend�rio dono da Microsoft, discutiu com o presidente brasileiro a cria��o no Brasil de p�los de desenvolvimento de software (programas de computadores), claro que financiados pela Microsoft ou pela Funda��o Bill e Melinda Gates.
Seria uma empreitada semelhante � que a �ndia vem desenvolvendo com �xito h� algum tempo.
Al�m de um poss�vel investimento, Gates se disse disposto a doar software para escolas, bibliotecas e outros organismos p�blicos. Anunciou que um emiss�rio seu ir� em breve ao Brasil para discutir os detalhes.
Por fim, o megainvestidor George Soros, que havia dito � Folha em junho que o eleitorado brasileiro seria for�ado pelos mercados financeiros a escolher entre Jos� Serra, candidato do governo, e o caos, agora est� disposto a ajudar Lula.
Discutiu com o presidente brasileiro n�o o fundo internacional por ele proposto, mas um equivalente exclusivamente no Brasil.
"O senhor pretende investir nesse fundo?", perguntou a Folha a Soros: "� preciso separar as coisas. Eu tenho uma funda��o e tenho investimentos. Investimentos s�o estritamente para lucro".
Al�m do "pacto mundial pela paz e contra a fome", o discurso de Lula foi muito mais Porto Alegre que Davos, como, de resto, j� ocorrera na noite anterior, em sua fala no "Jantar Iberoamericano".
� verdade que Lula voltou a citar a Carta ao Povo Brasileiro, na qual o PT se comprometeu a respeitar contratos, manter a infla��o sobre controle e o equil�brio fiscal _todos itens sagrados para os investidores.
� igualmente verdade que jogou a isca da amplia��o da infraestrutura no Brasil, "com a participa��o de capitais estrangeiros".
Mas a ess�ncia da fala foi ou social ou de cr�tica �s desigualdades tanto no plano interno como entre pa�ses.
Exemplo: "Mais de dez anos ap�s a derrubada do Muro de Berlim, ainda persistem muros que separam os que comem dos famintos, os que t�m trabalho dos desempregados, os que moram dignamente dos que vivem na rua ou em miser�veis favelas, os que t�m acesso � educa��o e ao acervo cultural da humanidade dos que vivem mergulhados no analfabetismo e na mais absoluta aliena��o". Criticou duramente o protecionismo dos pa�ses ricos: "De nada valer� o esfor�o exportador que venhamos a desenvolver se os pa�ses ricos continuarem a pregar o livre com�rcio e a praticar o protecionismo".
Acrescentou, j� na fase de perguntas e respostas: "Podem ficar certos de que voc�s v�o ouvir falar muito de um presidente briguento e que defende os interesses de seus pa�s. N�o queremos ser tratados como cidad�os de segunda categoria. Respeito � bom, n�s damos e gostamos de receber".
Terminada sua experi�ncia no F�rum de Davos, motivo de pol�mica no PT e em c�rculos ligados ou simp�ticos ao partido, Lula ironizou: "O fant�stico � que vou voltar para o Brasil e meus companheiros do F�rum Social Mundial v�o perceber que estou voltando inteiro, ningu�m comeu nenhum peda�o de mim. E o Lula n�o comeu nenhum peda�os deles (o pessoal de Davos)". Foi prolongadamente aplaudido.
Veja tamb�m o especial sobre os f�runs globais
Publicidade
As �ltimas que Voc� n�o Leu
Publicidade
+ Lidas�ndice
- Nomea��o de novo juiz do Supremo pode ter impacto sobre a Lava Jato
- Indica��o de Alexandre de Moraes vai aprofundar racha dentro do PSDB
- Base no Senado exalta curr�culo de Moraes e elogia indica��o
- Na USP, Moraes perdeu concursos e foi acusado de defender tortura
- Escolha de Moraes s� possui semelhan�a com a de Nelson Jobim em 1997
+ Comentadas
- Manifestantes tentam impedir fala de Moro em palestra em Nova York
- Temer decide indicar Alexandre de Moraes para vaga de Teori no STF
+ Enviadas�ndice