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19/12/2002 - 07h26

Exterm�nio de jovens � recorde; crime se organiza em fac��es

FERNANDA DA ESC�SSIA
da Folha de S.Paulo, no Rio

O assassinato de jovens, uma heran�a deixada pelos anos 80, atingiu no governo de Fernando Henrique Cardoso o pior n�vel em 20 anos: com a escalada de viol�ncia no pa�s, 38% das mortes de jovens de 15 a 24 anos, em 1999, resultavam de homic�dios. Os n�meros s�o do Claves (Centro Latino-Americano de Estudos de Viol�ncia e Sa�de Jorge Careli), n�cleo especializado da Fiocruz (Funda��o Oswaldo Cruz), a partir de dados do Minist�rio da Sa�de.

O Claves ainda n�o fez an�lise dos dados de 2000, 2001 e 2002. Em 1980, a taxa de homic�dios entre jovens era de 17,2 por 100 mil habitantes. Em 1990, era de 38,8. Em 1999, 48,5. Mas o �ndice pode ser ainda maior.

A Unesco (Organiza��o das Na��es Unidas para a Educa��o, Ci�ncia e Cultura) estima para 2000 uma taxa de homic�dios de jovens de 52,1 por 100 mil habitantes. Isso significa, de 1980 a 2000, um crescimento de 202,9%. No total da popula��o, a taxa de homic�dios subiu 130,9% no mesmo per�odo -tamb�m um crescimento elevado.

A explos�o da criminalidade coincidiu com um per�odo de crescente organiza��o dos criminosos. S�o Paulo viu a eclos�o do PCC (Primeiro Comando da Capital); no Rio, fac��es travam guerras urbanas pela disputa de territ�rio.

Para coibir a banaliza��o da viol�ncia, o governo federal lan�ou o Plano Nacional de Seguran�a P�blica. Mas os resultados foram limitados (leia ao lado).

De 1980 a 1990, os homic�dios de jovens cresceram 12,5% ao ano. Subiram em ritmo mais lento de 1990 a 1994 (1,16% ao ano em rela��o a 89), e aceleraram novamente seu crescimento de 1995 a 1999 (5,52% ao ano em rela��o a 1994).

Armas e exclus�o
Entre 60 pa�ses analisados na pesquisa da Unesco, s� Col�mbia e Porto Rico t�m mais assassinatos de jovens que o Brasil - 101,3 e 58,4 por 100 mil habitantes, respectivamente. A taxa � de 14,6 nos EUA. Para o total da popula��o, informa a Unesco, s� a Col�mbia tem taxa de homic�dios maior que a brasileira (60 por 100 mil habitantes). Nos EUA, a taxa � de 6,6 por 100 mil habitantes.

Os homic�dios de jovens s�o a parte mais grave de um problema nacional: as mortes pelas chamadas "causas externas", ou seja, homic�dios, acidentes de tr�nsito, suic�dios, quedas, afogamentos e acidentes em geral. Em 2000, segundo a Unesco, as causas externas eram respons�veis por cerca de 12,2% das mortes no pa�s e 70,3% das mortes de jovens.

Para a psic�loga Edinilsa Ramos de Souza, diretora do Claves, o que se viu nos anos FHC foi a continuidade de uma heran�a de viol�ncia vinda dos anos 80, sem resultados concretos na redu��o dos homic�dios.

Ela destaca a exclus�o social, e de jovens em particular, como principal causa do aumento dos homic�dios, junto com a falta de controle sobre armas de fogo e o processo de urbaniza��o desordenada, que se intensificou nos anos 90. "Em todo o pa�s h� din�micas de viol�ncia, as pessoas est�o comprando armas para se defender", afirma.

Estudo do Iser (Instituto de Estudos da Religi�o) a partir dos dados do Minist�rio da Sa�de mostra que a taxa de mortes por arma de fogo no Brasil subiu de 7,2 por 100 mil habitantes em 1980 para 18,7 em 1999. A Unesco atribui ao Brasil a maior taxa de mortes por arma de fogo entre 60 pa�ses analisados. Nos EUA, segundo colocado, o �ndice � de 10,5 por 100 mil habitantes.

Outras pesquisas j� realizadas no Brasil mostram que a v�tima mais frequente dos homic�dios � homem jovem, negro e pobre.

Estudo realizado pelo soci�logo Ignacio Cano, professor da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), mostrou que, em 1998, os homic�dios roubavam um ano e dois meses de vida do homem brasileiro. Entre as v�timas de homic�dio, 91% eram do sexo masculino.

Cano mostra que, em 1998, 44,5% das v�timas de homic�dios eram pardas (mais que a propor��o de 39,5% de pardos no total da popula��o). Os que se diziam pretos eram 5,7% da popula��o e 9,7% das v�timas; j� os brancos, que eram 54% da popula��o, eram 45,1% dos mortos.

"A viol�ncia afeta primordialmente os negros e pobres. Para tentar se proteger da viol�ncia, o rico pode comprar seguran�a ou mudar de bairro. O pobre n�o tem sa�da", afirma o soci�logo.
 

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