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Serra do Cachimbo pode ser local de provas nucleares
[Reportagem publicada em 8 de agosto de 1986]


das Sucursais
e da Reportagem Local

O governo brasileiro est� construindo instala��es subterr�neas na serra do Cachimbo, sul do Par�, limite com Mato Grosso, para fins militares. S�o covas e cisternas que pelas suas caracter�sticas se prestam a testes nucleares de diversos tipos e ao armazenamento de lixo at�mico de usinas.

Desde 1981 t�m sido realizados levantamento geol�gicos e hidrol�gicos na �rea. No m�s passado foi conclu�da a constru��o de um po�o de 320m de profundidade por um metro de di�metro. A �rea de testes dever� ser conclu�da em 1991.

Ontem � noite, ao ser informado pela Folha que o jornal publicaria esta not�cia na edi��o de hoje, o presidente Jos� Sarney reagiu, segundo o jornalista Fernando C�zar Mesquita, seu secret�rio de Imprensa, com estas palavras: "Por esta mesa, nunca passou qualquer documento deste tipo". O ministro-chefe do Gabinete Militar, general Rubem Bayma Denys disse _ ainda segundo Mesquita_ que a informa��o � "absolutamente inver�dica". O brigadeiro Hugo de Oliveira Piva, diretor do Centro T�cnico Aeroespacial, de S�o Jos� dos Campos (SP), foi chamado com urg�ncia a Bras�lia no in�cio da noite de ontem. A regi�o onde est�o sendo constru�das as cisternas e covas � �rea militar delimitada por decreto durante o governo Geisel (1974-1979), cortada pela rodovia Cuiab�-Santar�m (BR 163), e fica a 720 km de Bel�m (PA) e a 670 km de Manaus. As tr�s regi�es florestais mais pr�ximas mais pr�ximas s�o as reservas florestais Munduruc�nia, a 180 km, a reserva ind�gena Ba�-Mencranotire a 60 km e o Parque Nacional do Xingu, a 300 km.

O projeto da �rea de teste � do Estado-Maior das For�as Armadas (Emfa) e conta com o apoio de pesquisadores de dois �rg�os vinculados ao Centro T�cnico Aeroespacial (CTA, do Minist�rio da Aeron�utica, situado em S�o Jos� dos Campos, a 97 km a nordeste de S�o Paulo): o Instituto de Atividades Espaciais (IAE) e Instituto de Estudos Avan�ados (IEAV). A seguran�a da �rea militar � responsabilidade da For�a A�rea Brasileira, que j� dispunha, na regi�o, de pistas de pouso de 3.200 metros.

A escolha da serra do Cachimbo deveu-se �s condi��es geol�gicas da regi�o. Trata-se de um conjunto de plat�s com uma altitude m�xima de 640 metros acima do n�vel do mar, cobertos por arenito, com uma espessa camada de rochas �gneas (imperme�veis, portanto) e sem o risco de atingir len��is fre�ticos (len��is d'�gua). A regi�o militar da serra do Cachimbo est� localizada no munic�pio de Itaituba, o maior do Brasil, com 700 km de extens�o.

As pesquisas geol�gicas feitas na �rea s�o taxativas: n�o h� recursos minerais a serem explorados. As caracter�sticas do subsolo conferem ao local das escava��es a solidez necess�ria para a constru��o dos dep�sitos de lixo at�mico e das cisternas para testes nucleares. A reserva militar da serra do Cachimbo j� vem sendo utilizada pelas For�as Armadas para testes com materiais b�licos como bombas fragmentadoras, foguetes e m�sseis convencionais.

O primeiro po�o constru�do ficou pronto em julho deste ano. Ele tem 320 metros de profundidade e um metro de di�metro. A Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais (CPRM, do Minist�rio das Minas e Energias) come�ou a fazer os levantamentos geol�gicos e hidrol�gicos da regi�o em 1981, por solicita��o do Centro T�cnico Aeroespacial (CTA, do Minist�rio da Aeron�utica). Os primeiros ge�logos deslocados para a �rea foram da Superintend�ncia da CPRM de Minas Gerais. Desde o in�cio, o projeto foi cercado de todas as medidas de seguran�a e os funcion�rios que nele trabalharam tinham conhecimento de que era "secreto".

O po�o pronto levou um ano para ser perfurado e revestido porque a CPRM n�o dispunha de tecnologia para perfur�-lo por causa do tamanho do di�metro e o CTA teve de importar uma coluna de perfura��o dos Estados Unidos. Este po�o est� localizado a 17 km da estrada Cuiab�-Santar�m. At� 40 pessoas chegaram a trabalhar, em alguns momentos, na sua constru��o. Somente a dire��o da CPRM teve acesso �s informa��es sobre o trabalho, que recebeu a denomina��o interna de "Projeto Pedra do �ndio". Desde que foi contratada para o servi�o pelo CTA, a CPRM teve tr�s presidentes: Jos� Raimundo de Andrade Ramos, general Salvador Mandin e Jos� Carlos Boa Nova, o atual.

Pesquisadores do IAE, EEAV e da Marinha continuam a fazer levantamentos no terreno para marcar os locais onde ser�o constru�das as futuras cisternas e covas . Este levantamento tem seu t�rmino previsto para o final deste ano. As cisternas ter�o dimens�es semelhantes ao do po�o conclu�do no m�s passado. S� que este foi revestido, at� agora, de concreto e as cisternas receber�o, al�m do concreto, chumbo e amianto. J� as covas, onde ser�o guardados os lixos at�micos, ter�o profundidade entre 100 e 150 metros e seu interior ser� revestido somente de concreto. A explica��o � que devido � profundidade os riscos de vazamento s�o m�nimos.

O Brasil poder� ser at� o final de 1991 o primeiro pa�s ao sul do Equador a possuir �reas reservadas para testes nucleares e armazenamento de lixo at�mico. O projeto do EMFA tem como objetivo principal o dom�nio do setor de tecnologia de ponta (estudos avan�ados ou f�sica pura), ao qual somente as na��es desenvolvidas t�m acesso e que nunca � repassada. Desde novembro do ano passado o EMFA conta com o apoio de pesquisadores de dois �rg�os subordinados ao CTA, o Instituto de Atividades Espaciais (IAE) e o Instituto de Estudos Avan�ados (IEAV). Estes �rg�os, junto com o Centro de Pesquisas da Marinha e com a colabora��o do Instituto de Pesquisas Nucleares da Universidade de S�o Paulo (USP) est�o trabalhando h� alguns anos para adquirirem dom�nio sobre as mat�rias primas essenciais para a fabrica��o de artefatos nucleares: o plut�nio e o ur�nio enriquecido.

Dois objetivos principais levaram o EMFA a levar adiante o projeto: em breve as usinas nucleares de Angra estar�o em funcionamento e o pa�s ter� de armazenar lixo at�mico (ur�nio usado no reator, material radioativo, mais produtos e ur�nio n�o queimado que recebe grande quantidade de neutrons e vira plut�nio), sem causar riscos � popula��o das cidades. O segundo objetivo, � o de construir m�sseis at�micos. A segunda fase deste projeto _ a constru��o de uma ogiva at�mica _, considerada a mais importante, tamb�m j� est� em andamento. No ano passado foi firmado um acordo entre os governos do Brasil e da Rep�blica Popular da China para a troca de tecnologia que permitir� o desenvolvimento de m�sseis de ataque com ogivas at�micas de combust�vel s�lido _similares aos usados pelos EUA na d�cada de 60.
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Reprodu��o da Primeira P�gina de 13/5/1987, com furo sobre licita��o da ferrovia Norte-Sul
Fac-s�mile da capa de 13/5/ 1997, com texto sobre venda de votos na emenda da reelei��o

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