Manual atualiza práticas jornalísticas para os novos tempos

Vigésima segunda edição inclui verbetes e anexos para alinhar boas práticas a questões contemporâneas

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São Paulo

Liberdade de expressão, fake news e agressão a jornalistas. Diversidade, assédio, acessibilidade e podcast.

Temas e verbetes incluídos na edição do Manual da Folha que celebra os 100 anos do jornal, lançada agora, atualizam condutas, ações e formatos jornalísticos para os desafios dos novos tempos, sob novo projeto gráfico.

Debates e práticas já emergentes em 2018 —quando foi publicada a 21ª edição do Manual, logo esgotada— ampliaram sua presença no Brasil desde então. Eles impactaram o cotidiano de quem produz e consome notícias, gerando demandas urgentes que movimentaram a Folha e o jornalismo profissional de qualidade como um todo.

“Verbetes sobre liberdade de expressão, fake news e ataques a jornalistas, por exemplo, se tornaram muito mais relevantes nos últimos dois anos. E passou a ser importante elaborar diretrizes e dispositivos sobre como lidar com essas e outras questões do Brasil contemporâneo”, explica Uirá Machado, secretário-assistente de Redação e coordenador da comissão que elaborou a obra.

Além de questões de conduta e prática jornalística, Uirá aponta que a edição especial dos 100 anos ainda reflete mudanças na estrutura do jornal, ocorridas após a morte do diretor de Redação, Otavio Frias Filho, em 2018, e novas diretrizes institucionais da gestão de Sérgio Dávila, que o sucedeu, e do publisher Luiz Frias.

A principal delas foi a criação, ainda em 2019, de uma editoria de diversidade, responsável por ampliar a representatividade de gênero, raça, classe, ideologia, religião, orientação sexual e de grupos historicamente marginalizados tanto no noticiário como no corpo de profissionais da Redação, que se pretende cada vez mais inclusiva.

Grandes Redações são renomadas como ambientes elétricos e instigantes, mas também tóxicos. E foi para remediar essa último aspecto que a Folha abriu um canal de denúncias de casos de assédio sexual e moral, cujo novo verbete esclarece que as investigações ocorrerão em sigilo.

“Criar um ambiente menos hostil e mais amistoso e acolhedor é essencial para o aumento da diversidade na Redação", diz Alexandra Moraes, editora de Diversidade

Já o verbete assédio virtual reflete a era de cancelamentos e linchamentos online, tanto em movimentações espontâneas quanto naquelas orquestradas, envolvendo ou não trolls e bots. Usados também como ferramenta de intimidação e silenciamento, esses ataques virtuais têm mirado jornalistas, seja para ferir sua reputação, promover autocensura, minar sua credibilidade ou deslegitimar a imprensa como um todo.

O Manual oferece orientações sobre documentação, denúncia e busca de reparação, além de técnicas de redução dos danos para profissionais que estejam sendo alvo de episódios do tipo.

Com a explosão de agressões a jornalistas no Brasil, na esteira de casos em que autoridades públicas promoveram ou protagonizaram hostilidades a veículos e seus profissionais, o tema se impôs. Foram 428 casos de agressão em 2020, segundo a Federação Nacional de Jornais (Fenaj), o dobro do ano anterior.

E a diretriz sobre o tema, incluída na edição comemorativa, é dar publicidade aos ataques e intimidações, destacando que todo profissional pode abandonar uma cobertura que julgue ameaçar sua integridade física ou saúde mental.

A proliferação de fake news, seu grande poder de engajamento e os riscos que a desinformação impõem à democracia e à saúde pública, especialmente em tempos de pandemia, tornaram este também um verbete incontornável.

Ele estreia nesta edição especial do Manual, ao mesmo tempo em que o anexo temático sobre Saúde ganha verbetes relacionados ao novo coronavírus e a questões científicas, médicas e sanitárias que orbitam o tema.

Do caldo atual de desinformação, ataques virtuais e extremismos despontou o debate sobre liberdade de expressão, termo explorado agora de maneira aprofundada num verbete que está entre os mais longos dos 888 que constam desta edição do Manual.

“Trata-se de uma questão ontológica do jornal, que não pode ser contra a liberdade de expressão”, aponta o colunista e editorialista Hélio Schwartsman, organizador do novo verbete. “Portanto faz parte do DNA da Folha defender versões mais fortes de liberdade de expressão que aquelas praticadas juridicamente no Brasil.”

Ele destaca que esse é um debate antes restrito aos meios acadêmicos, jurídicos e de teoria do Estado, que ganhou premência a partir do advento das redes sociais e também do uso do termo pela direita, que lança mão do princípio da liberdade de expressão para justificar discursos de ódio.

O verbete esclarece que a liberdade de expressão não pode ser salvaguarda para o cometimento de outros crimes e explica como essa liberdade se aplica ao caso de autoridades públicas dos três Poderes.

O projeto gráfico é assinado pelo designer Fernando Sciarra, que troca a sobriedade de edições anteriores por traços e tons vibrantes. O Manual traz ainda um novo anexo temático sobre mobilidade urbana, com verbetes ligados à acessibilidade, ao ciclismo e ao uso de tecnologia no transporte particular e público. Seu conteúdo deriva de um curso para jornalistas criado pela Folha em parceria com a 99 Táxi.

Lançado em agosto de 1984, o primeiro Manual da Redação era parte do Projeto Folha, implementado por Otavio Frias Filho, e que incluía também crítica interna, controle de erros, avaliação profissional e metas. Na época, suas diretrizes e padronizações foram consideradas como uma camisa de força por parte da Redação.

Seis meses após sua implementação, um terço dos repórteres, redatores e editores do jornal subscreveu a um abaixo-assinado que criticava o projeto e o Manual, ao qual o então jovem diretor de Redação respondeu: “Posso esclarecer que esse grau de exigência vai ser exacerbado. Permanentemente exacerbado porque precisamos fazer a cada dia um jornal melhor”.

A edição do Manual comemorativa do centenário da Folha evidencia que essa é uma perseguição constante desde então.

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888 verbetes

Exemplos de verbetes para os desafios de hoje

Assédio sexual
Crime que não deve ser tolerado em nenhum ambiente. A Folha encoraja que eventuais vítimas ou testemunhas de assédio relatem o caso ao Departamento de Recursos Humanos pelo email eticaeconduta@grupofolha.com.br. Após apuração, conduzida de forma sigilosa, o jornal tomará as providências cabíveis, incluindo resposta formal a quem denunciou e apoio à vítima. Outras formas de constrangimento na Redação –como assédio moral ou perseguição– também devem ser relatadas pelo mesmo canal

Assédio virtual
Expressão que engloba práticas como insultos, perseguição virtual, roubo de informações pessoais, ameaças de violência e discurso de ódio (como misoginia, sexismo, racismo, homofobia) contra um alvo determinado nas redes sociais. A ação pode ser coordenada, envolvendo trolls e bots, ou espontânea. (...)

Diversidade
O conteúdo publicado pela Folha, em todas as suas seções e plataformas, deve refletir a variedade da vida social no Brasil, com especial atenção para os atores historicamente marginalizados.

Provocação
Autoridades e militantes políticos às vezes procuram desestabilizar o jornalista por meio de provocações (insultos, ironias, perguntas maliciosas etc.). Embora sejam mais frequentes no ambiente online, elas também ocorrem presencialmente. O jornalista deve reagir a essas situações com profissionalismo, sem destratar quem quer que seja

12 anexos temáticos

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MANUAL DA REDAÇÃO

  • Preço R$ 79,90 (512 páginas)
  • Editora Publifolha (22ª edição, 2021)
  • Onde comprar https://manualdaredacao.folha.com.br/
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