A tarefa simples e ao mesmo tempo herc�lea � se tornar o primeiro pa�s-sede de uma Olimp�ada a conquistar mais medalhas na edi��o seguinte dos Jogos. E o Reino Unido est� perto de conseguir isso no Rio: faltando dois dias de competi��es, acumula 60 medalhas ante seu recorde hist�rico de 65 premia��es de Londres-2012. Mas, mesmo que n�o consiga, o recado est� dado, existe uma nova pot�ncia ol�mpica no planeta e ela atende pelo nome de Team GB.
Matthew Childs/Reuters | ||
Gr�-Bretanha no lugar mais alto do p�dio na gin�stica |
GB de Gr�-Bretanha, j� que, ao contr�rio do que acontece em Copas do Mundo, Inglaterra, Esc�cia e Pa�s de Gales competem em conjunto em Olimp�adas. A Irlanda do Norte tamb�m est� no grupo, assim como outros territ�rios brit�nicos sem representa��o esportiva. Cr�ticos pedem a mudan�a do nome para algo como time do Reino Unido por coer�ncia hist�rica, mas o marketing fala mais alto.
Ap�s Atlanta-1996, quando o Comit� Ol�mpico Brit�nico experimentou sua pior Olimp�ada um ouro, oito pratas e seis bronzes, fiasco para a �nica na��o do mundo a ganhar ouro em todas as edi��es dos Jogos, o ent�o primeiro-ministro John Major iniciou uma s�rie de mudan�as na pol�tica esportiva do pa�s.
Na mais t�nue delas, foi criada a marca Team GB, nome mais sonoro e vend�vel, segundo os marqueteiros do comit�. A mais dr�stica foi dividir o novo esporte brit�nico em duas frentes: alto rendimento, lastreado por investimento incentivado e loterias, e comunit�rio. O resultado apareceu em Sydney-2000: 11 ouros, 10 pratas, 7 bronzes e um d�cimo lugar no quadro de medalhas.
O total de premia��es s� aumentou desde ent�o. Foram 30 em 2004, 41 em 2008, as 65 de Londres e a atual corrida do ouro em terras cariocas. Muito dinheiro investido, mas de maneira profissional: quem ganha mais medalha conta com mais recursos no ciclo ol�mpico seguinte, quem ganha menos ou n�o ganha tem a verba reduzida ou at� cortada.
Isso explica porque o ciclismo, o atletismo e o remo brit�nicos s� crescem, e a luta, o t�nis de mesa e o v�lei s� encolhem. Uma l�gica fria, que j� merece reparos no pr�prio Reino Unido. Nesta semana, Simon Jenkins, colunista do "The Guardian", criticou em artigo "a histeria ol�mpica que transformou a Gr�-Bretanha em sovi�tica", uma alus�o ao per�odo em que esporte era pol�tica de Estado e ferramenta de propaganda na �rea sob influ�ncia da ent�o Uni�o Sovi�tica.
"Talvez seja um exagero comparar os sistemas, mas usar recurso p�blico para transformar esporte de alto rendimento em s�mbolo de sucesso do Estado lembra muito o per�odo da Guerra Fria", afirma Christopher Gaffney, 43, professor do Departamento de Geografia da Universidade de Zurique.
Marcos Brindicci/Reuters | ||
Brit�nico Andy Murray durante os Jogos do Rio |
Segundo o pesquisador americano, que passou seis anos no Brasil estudando o impacto dos grandes eventos esportivos no pa�s, o modelo brit�nico carrega um equ�voco de origem. "Esporte de alto rendimento s� serve para deixar as pessoas na frente da TV. Ele n�o as torna mais saud�veis. E uma pol�tica nacional de esportes deveria focar nisso, n�o em estudos de biomec�nica que servir�o apenas para um �nico cidad�o conseguir medalha", diz Gaffney.
"O n�mero de pessoas que fazem esporte diminui no Reino Unido no ano em que aconteceu a Olimp�ada. Isso n�o faz sentido." O investimento p�blico brit�nico, direto e indireto, no alto rendimento cresceu de 264 milh�es de libras (R$ 1,11 bilh�o) para 350 milh�es de libras (R$ 1,47 bilh�o) na compara��o entre os ciclos ol�mpicos de 2012 e 2016. No mesmo espa�o de tempo, o Reino Unido perdeu piscinas p�blicas e centros de esporte, fechados pela crise econ�mica.
"A mesma coisa acontece agora no Brasil, com a diferen�a que os dirigentes esportivos locais continuam amadores e patrimonialistas. Como o Rio pode se dizer uma cidade esportiva com quatro quadras p�blicas de t�nis para 6 milh�es de pessoas?", pergunta Gaffney.
LEQUE MAIOR DE MEDALHAS
Os brit�nicos ampliaram seu leque de medalhas, mas precisaram tamb�m de performances contundentes de suas estrelas para competir pelo segundo lugar no quadro de medalhas.
Algumas delas, contribu�ram com mais de um p�dio para fechar a conta.
O ciclismo de pista, um dos carros-chefes da delega��o e paix�o dos brit�nicos, conquistou onze medalhas no Rio, seis delas de ouro.
O time que temia sentir a aus�ncia da estrela Chris Hoy, duas vezes campe�o em casa, viu Kenny Jason, 28, assumir o posto. Ele conquistou duas medalhas douradas em provas individuais e uma por equipe.
A nata��o, mesmo com o corte de verba ap�s 2012, somou um ouro e cinco pratas. Nos �ltimos quatro anos, os brit�nicos lapidaram um dos maiores fen�menos atuais nas piscinas, Adam Peaty, campe�o dos 100 m peito, com direito a recorde mundial. Ele ainda foi fundamental para a prata no 4 x 100 medley.
Na gin�stica art�stica, Max Withlock derrotou Diego Hypolito no solo, venceu no cavalo com al�as e foi bronze no individual geral, conquistando metade das medalhas do pa�s na modalidade nos Jogos. A sele��o masculina raspou no p�dio, terminando em quarto.
O atletismo havia rendido quatro medalhas at� a tarde de sexta. A �nica dourada saiu da principal estrela da delega��o. Mo Farah n�o falhou. Nem mesmo ap�s cair durante os 10.000 m. Ele se levantou, manteve o ritmo e garantiu o bi.
A Gr�-Bretanha tem medalhas em 22 modalidades, cinco a mais do que em Londres.
Colaborou MARIANA LAJOLO, enviada especial ao Rio