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Daniel Bento Teixeira

Vinicius Jr., a masculinidade jovem e negra em jogo

Sociedade da branquitude não suporta o gozo da masculinidade negra, sua pulsão de vida em êxtase

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Daniel Bento Teixeira

Homem negro que deixou de ser jovem permanecendo vivo, contrariando as estatísticas. Advogado, Diretor do CEERT Equidade Racial e de Gênero

Mesmo quem passou a vida inteira negando ou chamando de mimimi a discriminação racial parece concordar que o que acontece com o jogador Vinicius Junior é realmente racismo.

As manifestações racistas já eram irrefutáveis em 2017 contra o então jogador do Flamengo, mas atingiram estágio mais crítico com sua chegada ao Real Madrid, o que provocou posicionamentos das autoridades do Brasil e da Espanha e campanhas contra o racismo no futebol.

Vinicius Junior com a medalha da Liga dos Campeões - Carl Recine/Reuters

É essencial ver mais de perto para entender por que o racismo surgiu de forma tão virulenta neste caso.

O ódio das arquibancadas contrasta com a alegria com que Vini Jr. joga e comemora seus gols. E é esta a chave para as reações violentas. Vini expressa a corporeidade alegre de quem comemora sorrindo. É um jovem negro retinto que encarna o jogo bonito e alegre, somado à irreverência que contesta a sisudez de quem esperaria dele expressão contida. Ante o racismo, ele comete o crime que vai além daquele descrito pelo escritor congolês JJ Bola: o involuntário ato de respirar.

A morte violenta de jovens negros, sobretudo por instituições policiais, é a materialização desse desejo de constrição e de brutalização de corpos negros masculinos. Um reflexo da afronta que certa masculinidade branca sente quando o jovem negro transborda presença, impõe seu ritmo e brinca. A sociedade da branquitude não suporta o gozo da masculinidade negra, sua pulsão de vida em êxtase. É preciso reprimir. É preciso prender. É preciso nos matar.

Felizmente, a história de Vinicius aponta para outra narrativa. O caminho da liberdade e do crescimento sem amarras do ser humano que é ainda maior do que o jogador.

É esse espírito da juventude negra brasileira que tem feito o país mudar naquilo que ainda pode gerar esperança. Nossa luta é para que instituições de todas as partes do mundo, erguidas historicamente com a argamassa do racismo, possam se beneficiar da generosidade de muitos Vinicius que vêm contribuindo para a evolução social.

E que fiquem para trás as que promovem pulsão de morte violenta, afogadas em sua própria agressividade.

Na final da Liga dos Campeões, vimos um Vini Jr. vibrante. Logo em seu primeiro lance, chamou para si a torcida, que respondeu com o mesmo entusiasmo. Depois de um jogo difícil para o Real Madrid, foi a partir de uma falha do adversário que Vinicius foi certeiro. Além do gol, veio o título de campeão e a expectativa de que possa ganhar a Bola de Ouro, mesmo já sendo considerado um dos melhores jogadores do mundo.

Esta é uma vitória não apenas esportiva, pela qual também vibrei, mas a vitória da pulsão de vida desse jovem que, como masculinidade negra que se pretende livre, é também minha, do meu pai, do meu filho.

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