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Liga de beisebol dos EUA recria partida do filme 'Campo dos Sonhos'

Em Iowa, os White Sox ofereceram um final hollywoodiano em jogo contra os Yankees

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Tyler Kepner
Dyersville, Iowa (EUA) | The New York Times

Seu filme nunca pareceu um sucesso garantido, exatamente. Mas o que os cuidadores de "O Campo dos Sonhos" sempre tiveram é um senso de dever, como se fossem os gestores de algo precioso. Kevin Costner sentiu isso quando filmou no local, 33 anos atrás, e o sentiu de novo antes da sequência ao vivo, ou quase isso, na última quinta-feira (12) à noite.

"É matizado, e é com amor, dá para ver", disse Costner. "Acho que 'Campo dos Sonhos', o tempo todo, do filme até este momento, se beneficiou de pessoas que são muito cuidadosas."

Mas apesar de todo o planejamento e todos os floreios cinematográficos que a MLB (Major League Baseball) aplicou na encenação de um jogo real em um novo campo escavado nos mesmos milharais, a realidade poderia ter se intrometido —uma tempestade, um choque, um ferimento.

Atletas do White Sox e do Yankees saem do milharal em direção ao campo
Atletas do White Sox e do Yankees saem do milharal em direção ao campo - Johnny Milano/The New York Times

Nos esportes, você não sabe o roteiro até que os créditos rolem no final.

O filme acabou com um simples jogo de bola. A partida, afinal, terminou com uma volta completa de Tim Anderson, do Chicago White Sox. Com uma dentro e uma fora no final da nona entrada, ele rebateu uma bola rápida de Zack Britton, do New York Yankees, para o fundo do campo direito. A bola desapareceu no milho além da cerca; os White Sox ganharam, por 9 a 8, e os fogos explodiram sobre Dyersville, em Iowa (centro-norte dos EUA).

Anderson, 28, nasceu em Alabama quatro anos depois do lançamento de "O Campo dos Sonhos". Ele é negro, por isso não poderia ter jogado no campeonato segregado de 1919, quando os apostadores subornaram alguns dos atletas do White Sox para perder o campeonato diante do Cincinnati Reds.

O personagem de Costner, Ray Kinsella, constrói o campo como um refúgio para os malditos, mas muitos outros da velha guarda (todos brancos) também aparecem para jogar.

Kevin Costner (dir.) e Ray Liotta (esq.) em cena do filme 'Campo dos Sonhos'
Kevin Costner (dir.) e Ray Liotta (esq.) em cena do filme 'Campo dos Sonhos' ORG XMIT: 5884738r - Reprodução

A mulher de Anderson viu o filme, mas ele mesmo não, segundo disse. Ele assistiria agora, como o astro de seu renascimento?

"Eu poderia, não sei", disse ele, sorrindo. "Mas eu dei a todo mundo uma lembrança esta noite, com certeza. Deixar uma marca é uma grande realização para mim, e estou grato por aquele momento, é claro."

Os White Sox venceram o campeonato apenas uma vez desde a expulsão de Joe Jackson, o "Descalço", e sete outros atletas, mas eles esperam ganhar outro neste outono. Estão 20 jogos com índice acima de .500 nas rebatidas, os líderes disparados na Liga Central Americana.

Costner os apresentou na quinta como os "primeiros colocados", e chamou seus adversários de "os poderosos Yankees".

Os Yankees não ocupam um lugar na final agora, mas foram de fato muito fortes na quinta. Aaron Judge fez duas corridas completas, Brett Gardner conseguiu a outra, e Giancarlo Stanton —que praticou as rebatidas com espigas de milho de suvenir nos bolsos de trás— desferiu uma à esquerda para uma rebatida de desempate com duas corridas e dois outs na nona entrada.

Partida entre os Yankees e os White Sox, realizada no estádio 'Campo dos Sonhos', em Dyersville, no estado do Iowa (EUA)
Partida entre os Yankees e os White Sox, realizada no estádio 'Campo dos Sonhos', em Dyersville, no estado do Iowa (EUA) - Johnny Milano/The New York Times

Não foi suficiente, porém, porque os White Sox venceram os Yankees em seu próprio campo: Jose Abreu, Eloy Jimenez e Seby Zavala fizeram home runs contra o arremessador titular Andrew Heaney antes do golpe final de Anderson. Os fantasmas no milharal devem ter se abaixado para se proteger.

Eles também poderiam estar confusos, e não apenas pelos capacetes dos rebatedores, as câmeras de TV e os nomes multiculturais de hoje. Os Yankees rebateram fora 14 vezes na quinta, quatro a mais que o número de Jackson na temporada de 1919. Quatro arremessadores trabalharam em rodízio para os White Sox, equiparando-se a seu total do campeonato mundial de 1919. O beisebol pode ser um jogo atemporal, mas o tempo o modificou.

Por uma noite, de qualquer modo, ninguém se queixou dos strikeouts e das mudanças nos arremessos. Os dois times pareciam emocionados por estar ali. Assim que chegaram, quiseram aparecer.

"Eu sei que alguns caras estão querendo passar algumas noites aqui", disse Judge. "Só porque é tão tranquilo —ter a chance de sair da cidade, ficar no campo e ver todo esse milho que temos aqui."

Os jogadores abriram um caminho no milharal para explorar o local do filme antes do treino de rebatidas. Britton disse achar incrível os pés de milho mais altos que Judge, que tem 1,98 m. Liam Hendriks, o fechador do Chicago, passeou pela pequena casa de fazenda do filme e fez questão de se sentar no balanço na varanda.

Os jogadores eram turistas ávidos, e ao mesmo tempo foram uma curiosidade coletiva durante a viagem de ônibus desde o aeroporto em Dubuque.

"Há algo majestoso nisso", disse Aaron Boone, o gerente dos Yankees. "É bacana, não? Você vê as pessoas diante das casas com bandeiras e placas, almoçando e acenando com seus telefones. Eles nos filmam, nós os filmamos. Foi muito legal."

Boone transmitiu ou gerenciou muitas excursões da MLB: jogos em uma base militar em Fort Bragg, na Carolina do Norte; em Williamsport, na Pensilvânia, lar do campeonato mundial da Pequena Liga; e em Londres, com os Yankees em 2019. Este evento foi recebido tão calorosamente, segundo o comissário Rob Manfred, que a liga faria mais um jogo em Dyersville em 2022.

"Você nunca mexe com uma sequência vencedora", disse Costner, sentado ao lado de Manfred em uma entrevista coletiva. "Parece que todos os times vão querer chegar nisso."

Mesmo na derrota, Boone disse que podia reconhecer o poder do cenário.

"Foi o cenário mais especial e emocionante de um jogo de beisebol de que me lembro de ter participado", disse Boone, membro da terceira geração da Major League Baseball. "Quando atravessamos os milharais e vimos o estádio, aquela noite perfeita, é um momento do qual vou me lembrar para o resto da vida."

Anderson, porém, tinha o melhor motivo de todos para lembrar. Ele não precisou ver o filme para fazer mágica.

"Os torcedores vieram ver um espetáculo", disse, "e nós lhes demos um show esta noite."

Quando deixou o palco após a entrevista, Anderson se encontrou com autoridades do Hall da Fama em Cooperstown, em Nova York. Ele levou um presente para eles que parecia muito apropriado: seus sapatos com travas.

Tim Anderson, o "Descalço"? Quase isso.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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