Considerado por muitos o maior skatista de todos os tempos, Tony Hawk, 51, criou manobras que entraram para a história do esporte, como o 900 (dois giros e meio em seu próprio eixo).
Depois de vencer centenas de campeonatos (incluindo dez títulos nos X Games), o americano iniciou uma parceria com a empresa Activision e criou um jogo de videogame que leva o seu nome.
Desde 1999, os games de Tony Hawk renderam US$ 1,4 bilhão em vendas (R$ 5,7 bilhões). Seu sucesso comercial fez com que ele protagonizasse campanhas publicitárias de várias empresas e estrelasse filmes em que interpretou a si mesmo. Também tornou-se personagem do desenho “Os Simpsons”.
Em São Paulo, onde participou de uma exibição no bairro Bom Retiro no último fim de semana, o astro se disse cético em relação à estreia olímpica do skate, que acontecerá nos Jogos de Tóquio-2020.
“Não vai mudar o que o skate é e não vai mudar a razão pela qual as pessoas praticam o esporte. Eu acho que a Olimpíada vai ser a oportunidade para mostrar o esporte para um público novo. Eu acredito que os Jogos Olímpicos precisem mais do skateboard do que nós precisamos deles”, afirmou à Folha.
O americano mostra resistência a uma possível mudança do perfil dos praticantes. “O skate não precisa do status olímpico. Somos um esporte ligado à contracultura. Minha preocupação com o skate na plataforma olímpica é que de alguma forma isso inspire as pessoas a andar só por fama ou fortuna”, disse.
Para entrar no mundo olímpico, o esporte teve que se adequar às regras de controle da Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês). Até então, por questões financeiras e culturais, a modalidade costumava fazer seus eventos sem esses testes para detecção de substâncias proibidas.
A Wada veta o uso de maconha durante competições, mas não fora delas (o limite hoje é de 180 ng/mL).Por outro lado, nomes de destaque do esporte, como o brasileiro Bob Burnquist, 42, ex-atleta e presidente da Confederação Brasileira de Skate até junho, são fortes defensores do uso medicinal da droga. Questionado pela reportagem sobre o assunto, Tony Hawk não quis se manifestar.
Já quando perguntado sobre nomes de brasileiros que têm boas chances em Tóquio, ele destacou os de Leticia Bufoni, 26, Felipe Gustavo, 28, e Rayssa Leal, 11. Desde os 7 anos, a garota publica em redes sociais vídeos e fotos de suas manobras. As postagens não tardaram para chamar a atenção do astro americano, que compartilhou uma delas.
Rayssa foi convidada neste ano para integrar a seleção brasileira de skate e tem boas chances de disputar a Olimpíada aos 12 anos —seria a mais nova do país a fazer isso.
Precisa estar entre as 16 melhores do ranking mundial em junho do ano que vem (atualmente é a segunda colocada) ou ficar entre as três primeiras do Campeonato Mundial que será realizado em São Paulo no próximo mês.
“Ela é um bom exemplo de como o skate pode ir longe. Rayssa é muito boa e está melhorando nas competições, ganhando cada vez mais confiança. Pode inclusive representar o Brasil muito bem lá fora”, afirmou Tony Hawk.
Aos 51 anos, o americano mostra nas suas apresentações que o skate permite a longevidade dos atletas. No halfpipe de sua última apresentação no Brasil, ele fez uma pirueta em forma de mortal e caiu em cima do deck sem o skate, que deslizou pela rampa.
A plateia urrou e levantou os seus skates em forma de reverência. Um das fãs era Sabrina Marcondes Gonçalves, 14, que saiu do evento com um prêmio. A paulistana da região da Brasilândia, zona norte da capital, conseguiu, entre centenas de pessoas, levar para casa o skate arremessado pelo americano.
“Isso só vai me incentivar a andar mais. Meu sonho era andar junto com ele. Vou levar esse troféu pra casa com muito carinho”, disse.
Rayssa e Sabrina fazem parte de uma nova geração de mulheres no skate. Elas ainda são minoria entre as praticantes da modalidade, mas para Tony Hawk isso começa a mudar no mundo.
“Nos últimos cinco anos está havendo mais equidade, e agora nós temos prêmios iguais e eventos similares. Na Olimpíada do ano que vem vamos ter as mesmas categorias para homens e mulheres. Temos skatistas mulheres do Brasil que serão superstars num futuro próximo, como Leticia e Rayssa. Eu acho que estamos no caminho certo pra incentivar mais mulheres”, afirmou.
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