Uma bebedeira de dias a fio é o que define zapói. Não é de hoje que o alcoolismo é o calcanhar de aquiles da Rússia, mas não deixa de ser um elemento cultural. Familiar ao universo etílico russo, Serguei Dovlátov (1941-1990), um dos escritores mais icônicos do país, descreve em "Parque Cultural": "Para os outros, a vodca é domingo. Para mim, são dias de semana monótonos... Ora desintoxicação, ora xadrez, dissidência pura... A esposa, claro, está descontente. Vamos arranjar uma vaca, diz ela... Ou uma criança... Desde que não beba. Mas, por enquanto, eu me abstenho. Quer dizer, sigo bebendo...", na tradução de Yulia Mikaelyan.
Para o autor, que não conseguia ser publicado na URSS, a bebida simbolizava boemia, contracultura e consolo. Dostoiévski também não se absteve da questão: "O russo bêbado gosta de beber por desgosto e de chorar. Quando cai na farra, não celebra, apenas provoca desordens. Sem exceção, vai se lembrar de uma ofensa qualquer e passar um reproche no ofensor, com este presente ou não".
Mesmo sem palavras, é possível convidar um camarada para beber. Acenar dois dedos (indicador e médio) com a palma grudada a local pouco visível, como ao casaco, significa que você já tem um sobutýlnik, companheiro de farra, e está em busca de um terceiro.
Um peteleco no pescoço também é um convite para conversar com a garrafa ou uma indicação de que o esteve fazendo. Diz a lenda que o sinal remete a Pedro 1º, um bom copo. Segundo uma das versões, o czar teria recompensado um artesão com uma carta oficial que lhe dava o direito de beber de graça nas tabernas, mas, como este sempre a perdia, cravaram-lhe uma marca no pescoço, seu salvo-conduto.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.