'Para Bangu eu n�o vou', diz Eurico Miranda sobre acusa��es de corrup��o
Um dos mais pol�micos dirigentes do futebol brasileiro, Eurico Miranda completa 50 anos na vida pol�tica do Vasco em 2017.
Presidente do clube pelo quarto mandato, o carioca de 72 anos faz um discurso na contram�o da moderniza��o do futebol. Ele diz que o esporte est� pior do que nos anos 1960 e coloca a culpa na profissionaliza��o.
"Vejo esses executivos que v�o pulando de um clube para outro e n�o entendo. N�o existe mais a liga��o que existia antigamente. Voc� estava no clube por sentimento, por amor � institui��o", disse Eurico, respons�vel por montar grandes times vasca�nos, como os que venceram os Brasileiros de 1989, 1997 e 2000, e a Libertadores de 1998.
Fora do esporte, o dirigente colecionou den�ncias. Na CPI do Futebol, conclu�da em 2001, o cartola foi indiciado por apropria��o ind�bita do dinheiro do Vasco e falsidade ideol�gica por uso de "laranja" em desvios de recursos do clube. Ele rebate as acusa��es.
"Aquilo foi uma briga pol�tica. Ap�s a CPI, fui investigado pelo Minist�rio P�blico, pela Pol�cia Federal, mas o resultado quase ningu�m publica. Fui absolvido em tudo", defende-se o cartola, que diz estar recuperado de um c�ncer diagnosticado na bexiga e em parte do pulm�o no in�cio da d�cada.
Fumando charuto durante a entrevista de uma hora e 40 minutos na sua sala em S�o Janu�rio, Eurico n�o esconde ser um conservador.
Disse que pro�be jogadores de usarem brinco no Vasco, afirma que n�o gosta de "veado" e defende a nomea��o dos seus filhos para cargos de comando no futebol do clube. �lvaro Miranda � diretor da base. J� Euriquinho � vice de futebol.
Ele atribuiu a falta de protagonismo do Vasco � situa��o financeira ca�tica que encontrou no clube ap�s a sa�da de Roberto Dinamite do comando, mas afirma que a equipe vai se classificar para a Libertadores neste ano. Na quinta (16), no dia seguinte � entrevista, o time foi eliminado da Copa do Brasil ao ser derrotado pelo Vit�ria, por 1 a 0, em Salvador.
Deputado federal por dois mandatos, o cartola admitiu que o pagamento de propina existe na pol�tica e no mundo do futebol. Mas garante que nunca se beneficiou.
"Tenho certeza que para Bangu n�o vou", referindo-se ao complexo penitenci�rio do Rio que abriga pol�ticos como o ex-governador S�rgio Cabral (PMDB), que em 2008 apoiou a elei��o de Roberto Dinamite, advers�rio de Miranda.
*
Folha - O futebol melhorou ou piorou nos �ltimos 50 anos?
Eurico Miranda - Est� pior. Entendo o futebol, acima de tudo, como entretenimento. A c�lula principal do esporte � o clube. E vejo que a chamada "profissionaliza��o", apregoada por alguns, n�o funciona. Vejo profissionais que v�o pulando de um clube para outro. N�o existe mais a liga��o que existia antigamente. Voc� estava no clube por sentimento, por amor � institui��o. Isso acabou.
Se o futebol est� pior, o que fez o senhor voltar ao Vasco?
Voltei porque o clube precisa. Sa� daqui para me tratar [foi diagnosticado com c�ncer]. Dizem que perdi uma elei��o e me afastei. Na verdade, n�o concorri. N�o voltei para coroar a minha trajet�ria no futebol. Mas n�o aguentei ver o que acontecia no Vasco. Perdemos a condi��o de clube protagonista. O Vasco estava descendo a ladeira. Entreguei a presid�ncia com uma d�vida de R$ 109 milh�es, que, depois, falaram que era R$ 300 milh�es. Quatro anos depois, a d�vida j� estava R$ 700 milh�es. Voltei porque achava que tinha condi��o de reverter o quadro.
O senhor continua no Vasco at� quando?
Fico aqui at� o Vasco n�o precisar mais de mim. Ainda n�o sei [se vai tentar � reelei��o no final do ano]. Pode ser. Mas se aparecer algu�m aqui que consiga resolver os problemas, deixo o cargo na hora.
Se fosse na administra��o p�blica, o senhor seria acusado de nepotismo. O futebol do clube � comandado por seus dois filhos...
Mas aqui n�o � administra��o p�blica. O �lvaro conhece muito bem os atletas de base. O Philippe Coutinho, o Alex Teixeira e muitos outros passaram pelas m�os dele. O meu outro filho � muito competente. Sei que deve ter outros profissionais competentes no mercado, mas a vantagem deles � que aprenderam comigo. N�o sou modesto. Repito que sou competente. Al�m disso, eles s�o amadores e n�o ganham sal�rio.
O senhor � um conservador. Os jogadores hoje usam tatuagem, brincos. O que acha disso?
Jogador do Vasco n�o usa brinco. Se chegar, mando tirar. O Rom�rio usava brinco e tirou aqui. N�o tenho nada contra o brinco, mas usa fora daqui.
E tatuagem?
Eu n�o contrato o cara nu. Hoje em dia a tatuagem n�o interfere. Mas � claro que o atleta n�o pode ter uma tatuagem do Flamengo. Isso n�o pode.
O senhor j� contratou algum atleta gay?
Vou te dar um frase pol�mica. N�o tenho nada contra homossexual, mas contra veado.
Como assim?
Veado n�o precisa ser homossexual. � s� olhar o que � veadagem no dicion�rio.
Mas pode jogar no Vasco?
N�o vou verificar se � ou n�o. Sou contra o gay espalhafatoso. Todos t�m direito de ter a sua op��o. S� n�o pode agredir o outro.
Ser homossexual � uma agress�o?
O cara espalhafatoso me agride. Mas acredito que nunca contratei um gay.
O senhor usou o clube para se eleger deputado federal duas vezes. O que o senhor achou de Bras�lia?
Falo com tranquilidade. Nunca mexi com um centavo de dinheiro p�blico. Nunca nomeei ou pedi nomea��o de uma pessoa. Meu procedimento foi esse. Ao tomar posse, fui claro. Disse que estava l� para defender o Vasco. Nos oito anos [de mandato], participei das discuss�es do esporte, mas n�o de outros temas. Eu seguia as decis�es do meu partido, o PP [um dos partidos mais citados na Lava Jato].
O senhor recebeu propina antes de alguma vota��o pol�mica?
Eles t�m dificuldade de chegar perto de mim. Que isso existe, existe. J� ouvi insinua��es, mas nunca dei chance de que as coisas chegassem ao ponto. Todos sabem que [propina] existe.
O senhor foi investigado pela CPI do Futebol. Em 2011, o relat�rio final apontou que o senhor cometeu uma s�rie de crimes...
Falaram de tudo na �poca. Depois daquilo, fui investigado pelo Minist�rio P�blico, pela Pol�cia Federal, mas o resultado quase ningu�m publica. Fui absolvido. Me investigaram a fundo. Tanto no Brasil como fora. A conclus�o foi que n�o deu em nada.
Alfredo Mergulh�o/Folhapress | ||
![]() |
||
� esquerda, Ricardo Teixeira, que comandou a CBF, e Eurico Miranda no vel�rio de Jo�o Havelange |
O futebol brasileiro foi protagonista no maior esc�ndalo de corrup��o envolvendo a Fifa. Dois ex-presidentes e o atual presidente da CBF foram denunciados fora do Brasil...
Antes de voc� concluir a pergunta. Quero fazer uma declara��o. Eu tenho certeza que para Bangu n�o vou. Disse isso aos dirigentes dos clubes aqui do Rio numa reuni�o na Federa��o de Futebol do Rio. Mas falo isso na frente deles [cartolas da CBF] tamb�m.
O senhor conheceu muitos desses personagens. J� lhe ofereceram "dinheiro doce", como o Eugenio Figueredo, ex-presidente da Conmenbol, chama a propina?
Nunca me ofereceram e nem pediram. Neste setor, sou um cara complicado. Eles t�m dificuldade de se aproximar.
O senhor trabalhou com o Ricardo Teixeira na CBF. � amigo dele?
N�o sou. Mas fui para a CBF em 1989 a pedido do Jo�o Havelange. Ele me queria ao lado do Ricardo, que era genro dele. Falei que iria ajudar, mas n�o deixaria o Vasco. Fui pelo respeito ao Jo�o Havelange, n�o quero saber o que aconteceu com ele [a Justi�a su��a afirmou que o ex-presidente da Fifa recebeu propina]. Vou continuar respeitando o Havelange at� o �ltimo dia da minha vida. Neste curto per�odo, criei a Copa do Brasil, que � um sucesso at� hoje, ganhamos a Copa Am�rica depois de um jejum de 40 anos e classificamos a sele��o para a Copa de 1990. Antes do Mundial, tive que optar entre o Vasco e a CBF. Na hora, n�o hesitei cinco segundos. Voltei para o Vasco. Naquela �poca, o Ricardo n�o sabia nada de nada.
Voc� ficou surpreso com o esc�ndalo da Fifa?
N�o. S� fiquei surpreso que o caso veio � tona. Sempre me manifestei contra [era cr�tico ao empres�rio J. Hawilla, um dos respons�veis por pagar propina aos cartolas]. Nunca fizeram transa��o comigo.
O senhor acha que o Marco Polo del Nero pode comandar a CBF sem deixar o Brasil?
Cada um tem seu estilo. Eu n�o me encolheria. Ia enfrentar, mas n�o fa�o ju�zo de valor dos outros.
O senhor disse isso a ele?
Questiono. E ele disse que prefere n�o enfrentar. Prefere dar tempo ao tempo. Ele diz que est� com a consci�ncia tranquila.
Qual foi a sua maior alegria?
Esportivamente, tive muitas. Mas aquela vit�ria de virada contra o Palmeiras [por 4 a 3], na final da Copa Mercosul, em 2000, em S�o Paulo, foi a maior.
E a maior tristeza?
Tristeza mesmo � perder do Flamengo. Quando isso acontece, eu deveria decretar luto por alguns dias.
Nos �ltimos anos, o Vasco foi rebaixado tr�s vezes. Quanto tempo o senhor projeta para o time voltar a brigar pelo t�tulo do Brasileiro?
Pode escrever. Este ano o time chega � Libertadores. Vai ter seis vagas. E se bobear, ganhamos o t�tulo.
Erbs Jr./Folhapress | ||
![]() |
||
Eurico Miranda na apresenta��o de Lu�s Fabiano, refor�o do Vasco para 2017 |
RAIO-X
Nascimento
7 de junho de 1944 (72 anos), no Rio
Primeiro cargo no Vasco
Diretor de cadastro, em 1967
Principais cargos
- Vice-presidente do Vasco (1986-2001)
- Presidente do Vasco (2001-2008 e desde 2014)
- Deputado federal (1995-2003)
Livraria da Folha
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenci�rio
- Livro analisa comunica��es pol�ticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade