'Treinador de futebol � como um banqueiro', diz Alex Ferguson
Duas mil pessoas pagaram 35 libras esterlinas (cerca de R$ 210) para ouvir um t�cnico de futebol aposentado falar. Por mais de uma hora, Sir Alex Ferguson hipnotizou a audi�ncia.
Tem sido o mesmo em todas as cidades do Reino Unido em que passou para divulgar o livro "Leading", escrito por ele em parceria com Michael Moritz, presidente da Sequoia Capital, uma das maiores empresas de capital de risco do planeta.
"Com o passar dos anos, eu estudei franc�s, aprendi sobre vinhos, comecei a tocar piano. Mas no fundo, eu s� sei falar sobre futebol", disse Ferguson � Folha ap�s o evento em Glasgow, na Esc�cia, na �ltima segunda (28).
"Leading" era para ser obra sobre lideran�a, com hist�rias que podem ser usadas no mundo empresarial. Mas � um livro sobre futebol. O veterano que comandou o Manchester United por 27 anos s� sabe bater nessa tecla. Acabou se tornando um guia para t�cnicos. Veja trechos da entrevista:
O T�CNICO DE HOJE
Embora n�o tenha sido o criador da figura do manager, foi ele quem levou mais a s�rio ser o respons�vel por todos os departamentos de futebol de um clube e seu modelo foi copiado por outros clubes brit�nicos.
"Treinador de futebol � como um banqueiro. O tempo todo administra milh�es que n�o s�o dele e precisa tomar decis�es em cima disso. Observa��o sempre foi uma parte fundamental do meu trabalho. N�o consigo acreditar que hoje em dia o t�cnico ainda d� treinos. Se ele est� no meio do campo, comandando o treinamento, deixa de ver coisas que perceberia observando de fora. � para isso que h� o assistente."
MUDAN�AS NO FUTEBOL
Cr�tico de jogadores de cabelos compridos, que usam brinco e correntes chamativas, ele reconhece que teve de se adaptar em outros aspectos. N�o gosta de tatuagens, mas teve de aceit�-las, principalmente depois que o franc�s Eric Cantona, a quem tratava como filho, lan�ou a moda em Old Trafford.
"Nos �ltimos dez anos, os jogadores est�o mais fr�geis fisicamente e mentalmente. O t�cnico precisa perceber as mudan�as e administrar as pessoas. � imprescind�vel saber observar. Hoje mais do que nunca, precisa ter um n�vel alto de teimosia."
RELA��O COM ATLETAS
Ele admite que nunca tratou todos os atletas da mesma forma e afirma que isso era uma forma eficiente de administrar o elenco.
"N�o � que o t�cnico precisa entender apenas o jogador. Ele precisa entender a pessoa e como elas s�o diferentes.
Cantona, por exemplo, era diferente dos outros. Eu o tratava diferente porque ele precisava daquilo e me respondia �quele tratamento dentro de campo. N�o h� segredo.
O mesmo vale para Cristiano Ronaldo. Ele n�o � igual aos demais. Sempre teve na cabe�a que precisava ser o melhor de todos e trabalhou incansavelmente por isso".
Mesmo seis anos ap�s ter vendido o portugu�s para o Real Madrid, Sir Alex continua f�. "Ele re�ne tudo o que voc� quer em um jogador de futebol. Talento, disciplina, vontade de trabalhar."
NOS BASTIDORES
Ferguson tem orgulho n�o apenas dos times vencedores e dos t�tulos, mas do ambiente que criou entre os funcion�rios do clube. Segundo jogadores como o ex-lateral Dennis Irwin, ele era adorado pelos empregados do centro de treinamento.
"T�cnico precisa criar um bom ambiente em todo o clube. Reconhecer as pessoas que trabalham duro, cham�-las pelo nome. Voc�s n�o fazem ideia do quanto isso � importante para que todos se sintam bem..."
"O t�cnico precisa escutar a comiss�o t�cnica, mesmo que n�o fa�a tudo o que dizem. Na final da Copa da Inglaterra de 1996, estava com problemas para escalar o time. Chamei (Peter) Schmeichel, (Steve) Bruce e (Eric) Cantona. Disse que estava pensando em jogar com tr�s zagueiros. Bruce respondeu que n�o se sentiria confort�vel com aquilo. 'Por que voc� n�o escala Keane na frente dos zagueiros?', sugeriu Cantona. Keane foi o melhor em campo sem tocar na bola."
VIDA AP�S O FUTEBOL
Dois anos ap�s ter se aposentado, continua sendo uma das figuras mais influentes do futebol. Foi chamado pela Uefa para organizar cursos para t�cnicos e aconselha ex-colegas em dificuldades.
Recebe convites para palestras, d� aulas como convidado na Universidade de Harvard, nos EUA, administra ao lado do filho Jason um escrit�rio para cuidar da pr�pria imagem e trabalha como embaixador do Manchester United. Sua renda gira na casa das 200 mil libras mensais (cerca de R$ 1,2 milh�o).
"Eu ando de bicicleta todas as manh�s com Cathy (mulher de Ferguson), depois passo algumas horas no escrit�rio. Temos alguns neg�cios na �sia e s�o tantas cartas que preciso assinar para serem enviadas que terminam com 'do seu amigo', 'um grande abra�o' que acho que posso ser presidente da China. Estou sempre ocupado".
7 A 1, UM ACIDENTE
Mesmo fora oficialmente do futebol, ele continua marcando presen�a em jogos relevantes na Europa. Acompanhou a Copa do Mundo pela TV e diz que j� imaginava o t�tulo da Alemanha. Mas n�o o 7 a 1 sobre o Brasil na semifinal.
"Os alem�es criaram uma escola, uma identidade de jogo, o que todas as sele��es deveriam buscar e um dia foi a marca do Brasil".
"Se me pergunta sobre o Brasil, acho que a preocupa��o deveria ser com isso, n�o com a derrota. Aquilo foi um acidente, um grande acidente."
E SE CONTINUASSE?
A decis�o da aposentadoria em 2013 pegou jogadores e imprensa de surpresa. Agora est� confort�vel para confirmar que largou a profiss�o por causa da mulher.
"Eu poderia ter continuado como t�cnico. Estava bem de sa�de, ainda tinha fome de vencer. Cathy aguentou minha obsess�o com o futebol por 50 anos. Foi ela quem me disse que era uma decis�o idiota quando quis abandonar tudo em 2002. Mas em 2013 foi diferente porque tinha perdido a irm�, que era a sua melhor amiga e estava se sentindo muito sozinha. Ent�o, quando disse, no Natal de 2012, que havia decidido me aposentar, ela n�o disse nada. Mas sabia que tinha ficado feliz."
RAIO-X
Alexander Chapman Ferguson
NASCIMENTO
Glasgow (Esc�cia), em 31 de dezembro de 1941 (73 anos)
PRINCIPAIS T�TULOS
Duas Ligas dos Campe�es, dois Mundiais de Clubes, uma Recopa europeia, 13 campeonatos ingleses e cinco Copas da Inglaterra
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