Na periferia de S�o Paulo, movimento cultural mistura futebol com poesia
Volante frustrado nos campos de terra batida da zona sul paulistana nos anos 1980, o hoje bem sucedido poeta S�rgio Vaz, 49, usa h� cerca de um ano a t�tica de misturar o futebol de v�rzea com a poesia para refor�ar o time dos amantes da palavra escrita na periferia de S�o Paulo.
Capit�o da Cooperifa (Cooperativa Cultural da Periferia), Vaz assistia a um jogo na v�rzea quando foi provocado por um jogador, com o fardamento j� surrado: "A�, mano, por que voc�s da Cooperifa n�o descolam uns jogos de camisas pra n�s?"
De bate-pronto, Vaz, conhecedor do dialeto falado na periferia, devolveu a bola no peito do boleiro: "Arrumo, mano, � s� o pessoal do time colar [frequentar] nos saraus da Cooperifa e n�s vamos correr atr�s de camisas. A rapa a� aceita ir l� ouvir poesia?".
Da conversa malandreada � beira do terr�o nasceu o "V�rzea Po�tica", a��o na qual a Cooperifa doa jogos de camisas para times de v�rzea. A contrapartida dos times � fazer com que seus boleiros, sempre acompanhados de parentes, frequentem os saraus da Cooperifa, iniciados h� 12 anos e que acontecem toda quarta-feira no Bar do Z� Batid�o, na Ch�cara Santa, zona sul de S�o Paulo.
Leonardo Soares/Folhapress | ||
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O CDHU Jardim S�o Lu�s, com uniforme listrado patrocinado pela Cooperifa, joga contra o Juventude F.C. |
"A Cooperifa � periferia dentro da periferia. N�o somos um n�cleo intelectual das quebradas, queremos apenas mudar as quebradas. O futebol de v�rzea � uma cultura muito forte na periferia e foi uma das ferramentas encontradas para levar aquele cara do campo de terra ao encontro da poesia", disse Vaz.
Em m�dia, cada sarau re�ne 250 pessoas. De 15 a 20 delas s�o varzeanos e parentes. Toda vez que vai ao evento, o boleiro ganha um livro.
"Muitos boleiros que v�o hoje ao sarau imaginavam a literatura como algo inating�vel, que o evento cultural n�o era para eles, mas mostramos que estamos no mesmo barco, no mesmo pa�s, o pa�s das quebradas", disse o poeta, tamb�m chamado de Dom Quixote de La Perifa.
At� agora, o "V�rzea Po�tica" conseguiu doar sete jogos de camisas novos, todos de marcas usadas por clubes profissionais. Um foi bancado pela Global Editora, que edita livros de Vaz, um pelo Ita� Cultural e os outros quatro pela pr�pria Cooperifa.
Unidos do Morro, Ponte Preta do Jardim Leme, Sossego F.C., Aliados F.C., Jardim Let�cia F.C. e CDHU Jardim S�o Lu�s, todos da regi�o metropolitana de SP, entraram no "V�rzea Po�tica". Outros oito times querem entrar no projeto, mas a Cooperifa busca apoio financeiro para bancar as camisas.
"O jogador volta a ser moleque quando v� o uniforme de profissional. Ele se sente valorizado e sente nossa verdadeira inten��o de apresentar um novo mundo para ele, o da literatura", continua Vaz, que j� recebeu v�rios t�tulos por a��es culturais.
Cartola do CDHU Jardim S�o Lu�s, o comerciante Jos� das Gra�as da Silva, 56, o Zez�, disse que a maior parte dos seus 30 atletas s� teve contato com poesia quando foi ao evento da Cooperifa.
Leonardo Soares/Folhapress | ||
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Integrante da Cooperifa recita poesia durante sarau na periferia paulistana |
Orgulhoso por j� ter contado com os gols do atacante Hernane (hoje jogador profissional no Flamengo) na linha de frente do seu S�o Lu�s, Zez� brinca ao afirmar que seus comandados ainda n�o conseguiram o mesmo desempenho dos campos de v�rzea nos saraus da Cooperifa.
"O time ainda est� t�mido para fazer poesia, mas presta aten��o. Sonhamos com o dia em que teremos os primeiros versos recitados por algu�m do time do S�o Lu�s no sarau da Cooperifa", disse.
"�s v�speras da Copa do Mundo no Brasil, talvez o V�rzea Po�tica seja o �nico evento de futebol para a periferia. Fifa e CBF n�o fazem nada para contemplar quem n�o ter� dinheiro para participar diretamente da Copa. N�s n�o estaremos representados na Copa", protestou Vaz.
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