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Vídeo viral engana ao dizer que sono demais perto de parceiro é sinônimo de química entre casal

Post com mais de 13 milhões de visualizações foi publicado em perfil que vende cursos sobre o 'resgate feminino'

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São Paulo

"Acabei de descobrir que, se você sente muito sono quando está próximo do seu parceiro, significa que vocês são quimicamente ligados. Seu corpo libera hormônios como serotonina e dopamina quando vocês estão juntos, o que faz você se sentir mais sonolenta! Isso é a coisa mais linda que eu já escutei." Seria lindo, se fosse verdade.

Visualizado mais de 13 milhões de vezes em um perfil de Instagram que vende cursos sobre "o resgate feminino", o post erra em dois pontos. O mais simples deles é que a serotonina e a dopamina não são hormônios. Chamada popularmente de hormônio da felicidade, a serotonina é, na verdade, um neurotransmissor (responsável por conexões entre neurônios), assim como a dopamina.

Foto mostra mãos negras entrelaçadas. Um braço usa manga longa em tom azul e, o outro, pulseira colorida com letrinhas formando a palavra "Gitau"
Post desinforma ao afirmar que sentir muito sono perto do parceiro significa que o casal está quimicamente ligado - Pexels/Git Stephen Gitau

O outro ponto é que a relação "muito sono" e "boa conexão entre o casal" não faz muito sentido, segundo especialistas consultados pela Folha.

"Não podemos afirmar que esta ligação entre excesso de sono e proximidade do parceiro ocorre exatamente da forma como mostra o vídeo", disse Alicia Carissimi, representante do Conselho de Psicologia da ABS (Associação Brasileira do Sono).

De acordo com a psicóloga, ficar perto de uma pessoa amada contribui para o surgimento de sensações de prazer e relaxamento, mas dormir bem depende de outras variáveis. "Excesso de iluminação, barulho, preocupações, estresse, ansiedade e tristeza podem dificultar o início do sono, mesmo na presença de um parceiro", explicou.

Você pode até viver com alguém que ama e preferir dormir separadamente. Como a Folha mostrou, há casais que optam pelo que ficou conhecido como "divórcio do sono". "Algumas pessoas têm mais dificuldade de dividir a cama e o ambiente do quarto, seja por preferências pessoais ou condições de saúde. Isso não significa que não exista uma conexão com o parceiro ou que há algo errado no relacionamento", afirmou Carissimi.

Especialistas em outras áreas de conhecimento também encontraram problemas na mensagem exibida no vídeo. Ana Claudia Latrônico, chefe do departamento de endocrinologia da USP (Universidade de São Paulo), também disse que o post é um conteúdo de desinformação, assim como Itor Finotelli Júnior, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana.

De acordo com Finotelli, "a área da sexualidade é frequentemente marcada por visões polarizadas, e isso é um campo propício para a disseminação de opiniões infundadas e notícias falsas, motivadas por interesses econômicos, entre outros".

Procurada pela reportagem, a autora do post, Cristina Portugal, não respondeu até a publicação deste texto.

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