O Ministério da Saúde está construindo um plano de distribuição de insumos próximos ao vencimento. Vacinas, remédios e equipamentos hospitalares entram no rol desses produtos, que serão enviados até mesmo a outros países na tentativa de evitar que sejam completamente descartados.
Ethel Maciel, secretária de vigilância em saúde e ambiente, afirmou nesta terça (18) que visitou o depósito localizado em Guarulhos, região metropolitana de São Paulo, com esses materiais em 2 de abril.
"Verificamos que havia muitos insumos que normalmente não são comprados pelo Ministério da Saúde para distribuição", disse. Alguns exemplos são seringas, capotes e luvas.
A secretária esteve em São Paulo, onde também teve uma reunião com a AMB (Associação Médica Brasileira) durante a manhã. À tarde, ela conversou com jornalistas acerca do desperdício de insumos.
Um relatório foi escrito a partir dessa visita, e um grupo de trabalho foi criado pela secretaria executiva do Ministério da Saúde. No último dia 13, técnicos desse grupo também visitaram o local.
Agora, o grupo prepara um plano para distribuição desses insumos. A previsão é de que o documento fique pronto entre o final de abril e o começo de maio.
Mesmo sem o relatório pronto, a pasta já sabe que muitos materiais não serão utilizadas no país. Vacinas de doenças contra febre amarela, raiva e Covid, por exemplo, deverão ser incorporadas no país, mas a quantidade é maior do que a demanda interna. Outra parte ainda maior deve ser doada para outros países. Segundo Maciel, conversas já estão ocorrendo com a Opas (Organização Panamericana de Saúde) para efetuar essas doações.
Outra medida encontrada na tentativa de solucionar o problema foi entrar em contato com os secretários de saúde de estados e municípios. A proposta é direcionar os insumos para aquelas regiões com maior necessidade. Um levantamento também está sendo feito para enviar os materiais para hospitais federais.
A iniciativa busca minimizar a quantidade de produtos que devem ser incinerados, mas não será possível acabar totalmente com o desperdício. Maciel explicou que, quando o relatório já estiver pronto, será possível observar o quantitativo de insumos que serão descartados.
"Ao final desse grupo de trabalho, nós teremos exatamente o que vai ser possível ser reabsorvido, tanto pela nossa rede federal quanto por estados e municípios, e também o que infelizmente não vamos conseguir aproveitar."
No caso de vacinas, Maciel afirmo que existem múltiplas causas que explicam o porquê desse cenário de doses próximas ao vencimento. "A gente observa que não necessariamente houve um erro na compra. Os erros aconteceram depois disso, por uma falta de articulação [da gestão federal passada com os] estados e municípios", afirmou.
Segundo ela, a falta de organização do governo federal durante a gestão Bolsonaro prejudicou os índices de vacinação no país "e a própria campanha de desestímulo que fez com que as pessoas comparecessem menos aos postos de saúde para serem vacinadas".
Conforme a Folha já mostrou, 39 milhões de doses de vacinas contra Covid foram descartadas no país por causa do vencimento. O total desperdiçado foi de cerca de R$ 2 bilhões.
Além dos imunizantes, outros produtos, como remédios e testes, também se encontram parados e pertos de serem inutilizados. Para Maciel, programas foram desarticulados no Brasil, o que explica esse cenário.
"A desarticulação de programas que eram políticas públicas muito fortes, vou dar o exemplo da política contra a Aids, fez com que houvesse uma diminuição de diagnóstico, de procura por esses medicamentos", afirmou.
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