EUA diminuem isolamento por Covid de 10 para 5 dias

Decisão vale para pessoas sem sintomas e acontece durante crescimento da ômicron

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Benjamin Mueller Isabella Grullón Paz
The New York Times

Enquanto os casos de coronavírus nos Estados Unidos disparavam a um nível próximo do recorde, as autoridades federais de saúde reduziram pela metade na segunda-feira (27) o período de isolamento recomendado para muitos americanos infectados, esperando com isso minimizar as crescentes disrupções na economia e na vida cotidiana.

A falta de trabalhadores ligada ao vírus perturbou as viagens de fim de ano, levando ao cancelamento de milhares de voos, e agora ameaça setores tão diversos quanto atenção à saúde, restaurantes e comércio. Mas especialistas em saúde advertem que o país está apenas nos estágios iniciais de um surto de rápido avanço.

Moradores de Manhattan, em Nova York (EUA), fazem fila para serem testados devido ao aumento de casos de contágio pela variante ômicron do coronavírus
Moradores de Manhattan, em Nova York (EUA), fazem fila para serem testados devido ao aumento de casos de contágio pela variante ômicron do coronavírus - Andrew Kelly - 27.dez.21/Reuters

"A variante ômicron está se disseminando velozmente e tem o potencial de impactar todas as facetas de nossa sociedade", disse a doutora Rochelle Walensky, diretora do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC na sigla em inglês).

A agência havia recomendado anteriormente que os pacientes infectados pelo vírus ficassem isolados por dez dias depois de testados. Mas na segunda-feira ela reduziu esse período para cinco dias para as pessoas sem sintomas, ou as que não têm febre e apresentam outros sintomas em diminuição.

Os americanos que saem do isolamento devem usar máscaras perto de outras pessoas durante mais cinco dias após o período de isolamento, disseram as autoridades.

A orientação atualizada chega em meio a um aumento das infecções que ameaça inundar o sistema de saúde dos EUA, especialmente porque milhões de pessoas não foram vacinadas.

As novas recomendações "equilibram o que sabemos sobre a disseminação do vírus e a proteção oferecida pela vacinação e as doses de reforço", disse Walensky. "Essas atualizações garantem que as pessoas possam continuar levando suas vidas em segurança."

Mas o CDC não recomendou que os americanos façam testes rápidos antes de encerrar os períodos de isolamento, o que, segundo os cientistas, daria maior segurança de que as pessoas não continuarão espalhando o vírus.

As autoridades de saúde também encurtaram o período de quarentena para certos americanos não infectados que foram expostos ao vírus. Elas disseram que as pessoas que não foram vacinadas teriam de fazer quarentena durante cinco dias após a exposição, reduzindo a recomendação anterior de 14 dias. Isso também se aplica a pessoas que já completaram seis meses depois de receber a série básica de vacinas da Moderna ou Pfizer, ou dois meses depois de uma vacina da Janssen, mas que não tenham tomado a dose de reforço.

As autoridades também disseram que os americanos não infectados que receberam o reforço não precisavam fazer quarentena depois da exposição a pessoas infectadas. Mas os que foram expostos são incentivados a usar máscara perto de outras pessoas durante dez dias e ser testados cinco dias depois da exposição.

Na semana passada, o CDC reduziu, em algumas circunstâncias, o número de dias de isolamento recomendado para profissionais de saúde que testarem positivo.

A variante ômicron se espalhou com extraordinária rapidez pelos Estados Unidos, de Nova York ao Havaí, estados que relataram mais casos de coronavírus na última semana do que em qualquer outro período de sete dias da pandemia. Delaware, Massachusetts, Nova Jersey e Porto Rico também relataram recordes em aumento de casos.

No domingo (26), a média nacional de sete dias de novos casos diários subiu para mais de 214 mil, um salto de 83% em relação aos 14 dias anteriores. As mortes também aumentaram 3% durante esse tempo, para uma média semanal de 1.328, segundo um banco de dados de The New York Times.

As internações hospitalares também subiram, embora não tanto quanto os casos. Mais de 71 mil americanos estão internados com Covid-19, 18% a mais que duas semanas atrás, mas ainda bem abaixo de picos anteriores.

O presidente americano Joe Biden (à esq.) em reunião com a Associação Nacional dos Governadores para discutir as ações contra a variante ômicron nos Estados Unidos
O presidente americano Joe Biden (à esq.) em reunião com a Associação Nacional dos Governadores para discutir as ações contra a variante ômicron nos Estados Unidos - Evelyn Hockstein - 27.dez.21/Reuters

O prefeito de Nova York, Bill de Blasio, implementou na segunda-feira o que ele chamou de ordem de vacinação mais abrangente para empresas privadas no país. Todos os empregadores da cidade agora devem verificar se seus funcionários presenciais receberam pelo menos uma dose de alguma vacina.

Em Porto Rico, novas diretrizes para viagens entraram em vigor, exigindo que todos os passageiros que chegam em voos domésticos mostrem um teste negativo de Covid ao desembarcar, ou terão de pagar multa. Em Massachusetts, cujo governador, Charlie Baker, ativou a Guarda Nacional, 300 membros foram enviados na segunda para hospitais de tratamento grave e serviços de ambulância.

Em uma teleconferência com governadores na segunda, o presidente Joe Biden falou sobre cooperação em vários níveis de governo. O governador de Arkansas, Asa Hutchinson, republicano, elogiou o plano de Biden de doar 500 milhões de testes rápidos caseiros, mas disse que os esforços federais para conter as infecções devem respeitar as decisões estaduais.

"Veja, não há uma solução federal", respondeu Biden. "Isto é resolvido no nível estadual."

"Em última instância, se resume ao ponto em que o paciente precisa de ajuda, ou a evitar a necessidade de ajuda", acrescentou Biden.

É extremamente prejudicial pedir que as pessoas se isolem sem necessidade. Se for possível reduzir esse isolamento de uma maneira clinicamente responsável, acho que diminui o obstáculo para que as pessoas aceitem ser testadas

Ashish Jha

Reitor da Escola de Saúde Pública da Universidade Brown

Com os americanos cansados das restrições pandêmicas e os casos aumentando, alguns cientistas disseram que a redução dos períodos de isolamento para pessoas infectadas está atrasada.

O doutor Ashish Jha, reitor da Escola de Saúde Pública da Universidade Brown, disse que quando as pessoas testam positivo geralmente já têm alguns dias de infecção, o que encurta o período posterior em que elas continuam infectadas.

Ele também disse que os custos pessoais e sociais de períodos de isolamento de dez dias são consideráveis, citando a dificuldade que enfrentam os pais e mães solteiros, por exemplo. Ele teme que algumas pessoas, especialmente as que recebem remuneração por hora trabalhada, resistam a ser testadas por temerem o custo de faltar ao trabalho.

"É extremamente prejudicial pedir que as pessoas se isolem sem necessidade", disse Jha. "Se for possível reduzir esse isolamento de uma maneira clinicamente responsável, acho que diminui o obstáculo para que as pessoas aceitem ser testadas."

Jha disse que desejava que o CDC tivesse recomendado resultados negativos em testes rápidos antes que as pessoas terminassem o isolamento. "Mas, como os testes não estão amplamente disponíveis, esta é uma abordagem razoável", acrescentou Jha.

O doutor Michael Mina, imunologista e especialista em testes rápidos, chamou a nova orientação do CDC de "negligente". Estudos demonstraram amplas variações no período em que as pessoas permanecem contagiosas.

Dados da África do Sul e de alguns países europeus sugerem que as infecções pela ômicron foram mais brandas e estão produzindo menos internações. Mas especialistas advertem que isso talvez não seja válido para todos os lugares.

"Não podemos supor que as mesmas coisas vão acontecer nos Estados Unidos", disse Akiko Iwasaki, imunologista e pesquisador na faculdade de medicina da Universidade Yale. "Isso não é motivo para relaxarmos nossas medidas, e ainda precisamos imunizar os grupos de pessoas não vacinadas."

Bill Hanage, pesquisador em saúde pública na Universidade Harvard, advertiu que continua imprecisa a eficácia dos testes rápidos sobre a transmissibilidade da ômicron, dada a possibilidade de que níveis mais baixos do vírus também causem infecções.

Mas ele disse que as pessoas vacinadas só podem espalhar a variante ômicron "em grande quantidade durante um curto período". Ele acrescentou que a rápida disseminação da variante poderá fechar rapidamente os locais de trabalho. "Não queremos que isso aconteça no setor de saúde."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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