C�mera barata 'l�' olhos de pessoas com ELA e facilita a comunica��o
Canind� Soares/Folhapress | ||
Jo�o Lemos, diagnosticado h� sete anos com ELA, usa nova tecnologia para escrever: "Eu estou feliz" |
"Do que eu sinto mais falta? Da liberdade, balbucia, com esfor�o, Jo�o Batista Lemos, 45, portador de Esclerose Lateral Amiotr�fica (ELA). Ele est� testando uma nova tecnologia desenvolvida por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em Natal. O objetivo � libertar pacientes que n�o conseguem mais falar da necessidade de equipamentos caros para se comunicar.
A nova etapa do projeto teve os primeiros resultados na semana passada. Com uma webcam comum, os cientistas conseguiram captar e transformar o "piscar de olhos" de Lemos em uma esp�cie de "mouse".
Na tela de um simples computador port�til, ele "digitou" com os olhos a frase: "Meu nome � Jo�o. Eu estou feliz".
O f�sico Stephen Hawking j� usa tecnologia semelhante h� alguns anos para que o piscar de olhos seja comunica��o de pacientes com ELA.
Conhe�a a esclerose lateral amiotr�fica
A novidade da pesquisa desenvolvida pelo Laborat�rio de Inova��o Tecnol�gica em Sa�de (Lais) � que essa intera��o ser� sem equipamentos complexos, como eletroencefalograma e oculograma, capazes de captar sinais cerebrais e de m�sculos dos olhos.
O projeto � �nico no pa�s, j� que o Minist�rio da Sa�de afirma n�o conhecer iniciativas semelhantes para facilitar e baratear a comunica��o de pessoas com ELA.
Hoje, os aparelhos dispon�veis para essa capta��o e processamento custam entre R$ 4.500 e R$ 80 mil e dependem de padroniza��o para cada paciente.
A meta do Projeto Autonomous, como foi batizada a pesquisa, � liberar, at� 2020, o software para download no site do Minist�rio da Sa�de e como aplicativo para celular nas vers�es Android e iOS.
A c�mera dos aparelhos far� a leitura do movimento dos olhos. "Nossa meta � oferecer gratuitamente para todos os pacientes com ELA a liberdade de comunica��o e autonomia dispon�veis apenas a quem tem mais recursos financeiros", diz Ricardo Valentim, coordenador do Lais e respons�vel pelo projeto.
O sistema funciona de forma simples. Com o software desenvolvido instalado no computador port�til, a webcam visualiza o rosto do paciente, identifica e registra o movimento dos olhos. A partir da�, uma tela com o desenho de um teclado se abre.
O paciente consegue escrever com o piscar de olhos, que � captado pela c�mera.
O movimento ocular comanda duas linhas que, ao se cruzarem na letra escolhida, digita automaticamente em uma caixa de texto.
Segundo os cientistas, com o desenvolvimento do projeto, esse m�todo ser� utilizado n�o apenas para escrever, mas para navegar na internet, fazer chamadas de emerg�ncia em celulares e enviar e-mail.
A pesquisa est� na terceira etapa e n�o conta com financiamento –os pesquisadores s�o volunt�rios.
UNIVERSALIZA��O
O estudo come�ou em 2012 como um projeto de doutorado. No in�cio, a pesquisa usou sensores que captavam sinais cerebrais e dos m�sculos dos olhos dos pacientes para permitir um meio de intera��o. Mas acabou engavetada por falta de recursos, apesar do sucesso dos testes.
Foi retomada em 2015 com uma nova metodologia. Os cientistas passaram a usar um sensor com duas c�meras que leem os movimento dos olhos, conhecido como eye-tracker. Chegaram a desenvolver um prot�tipo de uma tiara fabricada em impressora 3D, mas desistiram devido ao alto custo da produ��o, que inviabilizaria o acesso � maioria dos pacientes.
A terceira etapa do projeto come�ou este ano e elimina qualquer equipamento extra. Com os novos resultados obtidos esta semana, o coordenador do projeto vai apresent�-lo � Secretaria de Ci�ncia, Tecnologia e Insumos Estrat�gicos do Minist�rio da Sa�de. "Tamb�m vamos tentar sensibilizar a iniciativa privada que pode financiar projetos na �rea de pesquisa."
Hoje, pacientes com ELA atendidos pelo SUS n�o t�m acesso a tecnologias de comunica��o. "Queremos implantar uma pol�tica p�blica de sa�de. Os pacientes com ELA vivem presos em seus corpos e em determinando est�gio, nem conseguem expressar o que sentem", ressalta o coordenador do Lais.
Quando sentiu os primeiros sintomas da doen�a, Jo�o Batista Lemos estava com 38 anos, era motorista e jogava futebol duas vezes por semana. Hoje, sete anos ap�s o diagn�stico, n�o tem movimento nos bra�os e m�os, mant�m um pouco do movimento nas pernas e consegue, com muito esfor�o, balbuciar palavras.
Todo o atendimento recebido por Lemos no SUS, com exce��o do acompanhamento da equipe do Hospital Universit�rio Onofre Lopes, s� foi conseguido ap�s reivindica��o na Justi�a.
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Como funciona
Pesquisa quer aumentar autonomia de pacientes com ELA
> Iniciado h� um m�s, sistema utiliza uma webcam conectada a um notebook para captar o movimento dos olhos do paciente
> O sinal da piscada do olho, captado pela c�mera, � lido pelo software que d� acesso a um teclado para escrever mensagens
Pr�ximos passos
Transformar o programa em um app de celular e permitir que o paciente fa�a atos mais complexos, como navegar na internet
2 a 5 anos � o tempo de sobrevida ap�s diagn�stico
Especialistas ainda n�o sabem as causas espec�ficas da doen�a. O cientista Stephen Hawking � um dos casos famosos da doen�a
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Outras tentativas
Em 2012
> Projeto desenvolveu uma tiara com um sistema de sensores baseados em um eletroencefalograma e um oculograma
> Equipamento capta sinais cerebrais e movimento dos m�sculos dos olhos
> Atrav�s disso, paciente consegue fazer atos simples, como ligar e desligar a TV
Por que parou?
Leitura por est�mulo cerebral � imprecisa, requer um acompanhamento individual para cada paciente
Em 2015/2016
> Tiara foi substitu�da por um sensor com duas c�meras, conhecido como eye-tracker
> Elas conseguem rastrear o movimento dos olhos do paciente
> Assim, o paciente consegue interagir com o mouse e o teclado de um computador -o movimento do olho funciona como o de um mouse
Por que parou?
A solu��o n�o era in�dita e o custo individual do equipamento, entre R$ 4.500 e R$ 80 mil, foi considerado muito alto
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