M�todo permite ler mente de pessoas 'presas' nos pr�prios corpos
Wiss Institute | ||
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Paciente W, 24, que teve uma acelerada degenera��o por causa da esclerose lateral amiotr�fica |
Cinco cientistas da Alemanha, EUA, China e Su��a se uniram para tentar reverter um estado neurol�gico de incapacidade de se comunicar com o mundo exterior e obtiveram um avan�o que pode ajudar milh�es de pessoas em todo o mundo.
A condi��o � a s�ndrome do encarceramento. H� tempos se tenta retardar seu aparecimento ou contornar a aparentemente irrevers�vel perda de capacidade de intera��o com o mundo exterior. Como saber se a pessoa est� feliz ou com dor? �s vezes a intui��o dos cuidadores e familiares n�o basta.
Esse � um desfecho prov�vel da doen�a neurol�gica conhecida Esclerose Lateral Amiotr�fica (ELA), que atinge, por exemplo, o f�sico Stephen Hawking, os movimentos s�o progressivamente perdidos e os m�sculos atrofiam.
A pessoa precisa ser entubada e a �nica maneira de se comunicar com o mundo exterior � mexer o olho. Em algum momento, at� isso � perdido. O mesmo pode acontecer em alguns AVCs, traumas e envenenamentos.
Para contornar a s�ndrome do encarceramento � preciso entender o que o c�rebro diz, mesmo que a informa��o n�o venha na forma de sons e gestos. A ideia � que o m�todo funcione como uma esp�cie de leitura de pensamento a partir de uma touca e de um computador. As respostas poss�veis s�o "sim" e "n�o".
Assim, o paciente pode dizer se est� confort�vel, se quer se sentar, se gostaria de ver algu�m em especial.
Importante considerar que, apesar do dano neurol�gico, essas pessoas t�m toda a capacidade sensorial. Entre os problemas dos acamados est�o escaras, provocadas pela press�o dos ossos na pele, pneumonia, trombose e embolia pulmonar.
"Essas pessoas morrem geralmente de neglig�ncia ou de infec��o. Com o cuidado adequado, por�m, podem morrer das causas que matam qualquer outra pessoa", diz � Folha Niels Birbaumer, coordenador do estudo.
Foram recrutados quatro pacientes na Alemanha, todos com ELA e vivendo em casa. Tr�s tinham idades mais avan�adas (61, 68 e 76 anos) e uma apenas 24 –ela n�o conseguiu fazer todos os testes. A fam�lia e os pesquisadores especulam que isso tenha ocorrido devido ao trauma psicol�gico e � r�pida evolu��o da doen�a (do diagn�stico � paralisa��o foram apenas seis meses).
Ap�s a coleta de dados, eles continuam usando os dispositivos, que custam cerca de US$ 50 mil, elaborados pelos cientistas. Tanto para os pacientes quanto para os familiares, foi um grande al�vio, relatam os autores.
"Os resultados desmentiram minha teoria de que pessoas que atingem o estado completo de encarceramento [em que nem os olhos se mexem] n�o eram mais capazes de se comunicar", disse Birbaumer em um comunicado.
Para o neurocirurgi�o Paulo Porto de Melo, chefe do servi�o de neurocirurgia do Ex�rcito Brasileiro, os achados s�o capazes de mudar o paradigma da �rea. "Em pa�ses onde � permitida a eutan�sia, alguns pacientes que fizeram essa escolha, ao saber dessa possibilidade, talvez mudassem de ideia."
Ao serem questionados se estariam felizes, os pacientes responderam sim ao longo das diversas sess�es. Birbaumer se disse surpreso: "Quando n�o era mais poss�vel respirar, todos os quatro aceitaram a ventila��o artificial para continuar sobrevivendo. De alguma maneira, eles j� haviam feito a escolha pela vida."
"Uma coisa � uma decis�o racional, tomada em uma discuss�o � mesa, com serenidade. Na hora H, as pessoas se apegam vida, por menor que seja a chance", diz Melo.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
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METODOLOGIA
As primeiras e at� ent�o mais bem-sucedidas tentativas de estabelecer um canal de comunica��o com pessoas completamente encarceradas nos pr�prios corpos envolviam o uso de eletrodos e do eletroencefalograma (EEG), t�cnica que mede a atividade el�trica cerebral.
O problema � que � muito dif�cil decifrar em meio ao emaranhado de sinais el�tricos algum tipo de sinal que queira dizer alguma coisa. A ideia de alguns cientistas foi inserir eletrodos dentro do cr�nio para melhorar a leitura do c�rebro. Houve grande progresso: foi poss�vel "digitar" duas letras por minuto. O estudo em quest�o foi publicado em novembro na revista "New England of Medical Journal".
A vantagem da nova proposta, que est� relatada na revista especializada "Plos Biology", � que ela n�o � invasiva e n�o requer um ambiente hospitalar para funcionar –os testes foram feitos em casa.
A touca que � colocada na cabe�a do paciente cont�m, al�m de eletrodos para realiza��o de EEG, emissores e captadores de luz em uma faixa pr�xima do infravermelho. O objetivo desse tipo de medida � investigar o metabolismo em algumas �reas do c�rebro a partir da quantidade de hemoglobina que est� carregando oxig�nio. A hemoglobina � a prote�na respons�vel por levar e trazer mol�culas de oxig�nio (O2) e g�s carb�nico (CO2), permitindo que as trocas gasosas aconte�am.
O resultado � semelhante �quele obtido em resson�ncia magn�tica funcional, com a vantagem de n�o requerer uma sala hospitalar refrigerada, com tomadas blindadas e operadores para que a "leitura de pensamento" seja realizada.
O QUE DIGO?
Para calibrar as medi��es, perguntas cujas respostas s�o conhecidas s�o feitas oralmente: "Berlim � capital da Fran�a?" e "Berlim � capital da Alemanha?", cujas respostas esperadas s�o "n�o" e "sim" por exemplo.
O paciente deve pensar na resposta –n�o na palavra escrita nem no som, mas sim no que realmente quer dizer– para que o sinal possa ser adequadamente captado pelo computador. De alguma forma, a combina��o entre sinal metab�lico e el�trico de "sim" acaba sendo diferente do sinal de "n�o".
Se a margem de acertos nas perguntas para as quais se sabe resposta � boa (maior que 70%), podem ser feitas perguntas abertas.
A fam�lia de um dos participantes aproveitou a chance para perguntar se sua filha poderia se casar com o namorado Mario, a resposta foi "n�o" em nove das dez vezes em que foi perguntado.
Ainda h� uma variabilidade n�o desprez�vel nas respostas, mas os cientistas esperam que, com o tempo e a sofistica��o da t�cnica, isso seja melhorado. O pr�ximo passo � permitir o pensamento em letras.
"O que observamos � que se essas pessoas recebem o tratamento adequado em casa, elas julgam adequada sua qualidade de vida. E � por essa raz�o que se pudermos disponibilizar essa t�cnica comercialmente, pode haver um grande impacto no dia a dia de pessoas completamente enclausuradas", disse Birbaumer.
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