A semaglutida é a grande promessa do momento contra a obesidade. E os remédios à base do composto, como o Ozempic, nem sempre são usados sozinhos por quem quer emagrecer.
Jeniffer Damásio Coelho, 28, por exemplo, aliou o medicamento ao Orlistat, capaz de inibir a absorção de gordura pelo intestino. Em seis meses a produtora rural perdeu 16kg, sem efeitos colaterais, de acordo com ela. Mas até que ponto essas combinações são seguras?
A combinação da semaglutida com outras medicações para emagrecer pode ser bem-vinda quando associada as suas duas vias de ação, apontam especialistas. A primeira inclui o sistema nervoso central por meio da sensação de saciedade, e a segunda diz respeito ao sistema digestivo, uma vez que a substância faz com que a comida fique parada no estômago por mais tempo, segundo a endocrinologista Luiza Esteves, docente da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná)
O Orlistat age nos órgãos gastrointestinais. Outros aliados podem trabalhar no cérebro, como a sibutramina, que altera a liberação de neurotransmissores e retarda a fome, afirma a especialista.
Uma terceira interação vista como segura é a associação da bupropriona com a naltexona, que também age no sistema nervoso ajudando a regular o apetite. Vendida sob o nome comercial de Contrave, o medicamento está previsto para chegar ao Brasil em maio deste ano e, enquanto esperam, pacientes têm cometido erros.
Um deles é consumir bupropiona e naltrexona separadamente. "O Contrave possui doses específicas para tratamento da obesidade. É ineficaz e perigoso usar os dois componentes separados", afirma a médica Andressa Heimbecher Soares, doutora em Endocrinologia pela USP (Universidade de São Paulo).
Outra saída usual tem sido manipular a fórmula original. A médica indicar ser necessário conhecer a farmácia de manipulação escolhida. "O remédio original foi testado em condições que não necessariamente o produto manipulado terá", diz Soares.
Especialistas destacam ainda os riscos de utilizar a semaglutida com outros da mesma ordem. Ela pertence a um grupo de medicamentos conhecidos como análogos do GLP-1, que imitam um hormônio que age no intestino.
Uma das substâncias do mesmo tipo liberada para o tratamento da obesidade no Brasil é a liraglutida. Estudos científicos, porém, comprovaram eficácia maior da semaglutida no tratamento de sobrepeso e, assim, a substância ganhou espaço na medicina e virou sensação nas redes sociais. A associação das duas, porém, oferece riscos, reforça a professora da PUC.
Mas o principal alerta dos médicos diz respeito à automedicação. Como a compra do Ozempic não demanda receita médica, ele tem sido amplamente usado sem o acompanhamento de profissionais especializados e combinado com outras substâncias de forma arriscada pelos próprios pacientes.
"Existe uma gama imensa de associações indicadas ou não para cada pessoa. Tudo precisa ser visto caso a caso", argumenta o médico Gustavo Lenci Marques, professor da UFPR (Universidade Federal do Paraná).
A sibutramina, por exemplo, embora possa ser aliada de forma segura ao Ozempic, é contraindicada para pacientes com risco cardiovascular. Os componentes do Contrave, por sua vez, não devem ser usados por aqueles que possuem distúrbio convulsivo; vivam interrupção abrupta de álcool, benzodiazepínicos, barbitúricos e fármacos antiepilépticos ou tenha diagnóstico atual ou pregresso de anorexia nervosa ou bulimia, salienta a endocrinologista Maria Augusta Kara Zellas, professora da Fempar (Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná).
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