Luciano Cabral da Silva, 42: Com educa��o a dist�ncia, detento descobre voca��o para professor
Joel Silva/Folhapress | ||
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Luciano Cabral da Silva, 42, preso da penitenci�ria 1 de Serra Azul, perto de Ribeir�o Preto (SP) |
Foi atr�s das grades que Luciano Cabral da Silva, 42, descobriu sua voca��o: a pedagogia. Condenado por assalto � m�o armada, ele � um dos tr�s detentos que fazem faculdade a dist�ncia dentro da penitenci�ria 1 de Serra Azul, na regi�o metropolitana de Ribeir�o Preto (SP).
Desde 2010, o pres�dio, com 1.875 detentos, tem conv�nio com o centro universit�rio Claretiano. Das 168 unidades prisionais do Estado de S�o Paulo, 3 t�m projetos de ensino superior a dist�ncia –apenas masculinas. Hoje, cinco presos s�o atendidos.
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Fui preso pela primeira vez em 1994 na cidade de Cravinhos (292 km de SP), onde nasci. Cumpri tr�s anos por tr�fico de drogas, e, quando sa�, minha mente ainda era a mesma. O crime tinha se tornado a minha vida.
Passei pela pris�o outras duas vezes, por tentativa de furto e, de novo, tr�fico. Mas o ano mais cr�tico para mim foi 2007, quando pratiquei v�rios roubos para sustentar o meu v�cio em coca�na e crack.
Fui preso de novo, abracei a f� em Deus e consegui me livrar das drogas. Dois anos depois, deixei o pres�dio disposto a mudar de vida. O problema � que as condena��es pelo que eu tinha feito n�o pararam de chegar.
Faz quatro anos e cinco meses que estou na penitenci�ria 1 de Serra Azul. Minha pena total � de 53 anos.
Logo que vim para c�, j� procurei trabalho. Depois de passar pelo a�ougue e pela f�brica de sacolas de papel, consegui uma vaga na faxina da escola do pres�dio. Quando sobrava tempo, aproveitava para ler na biblioteca.
S� tinha feito at� a s�tima s�rie. Os estudos eram um assunto encerrado na minha vida. Mas o ambiente escolar despertou em mim a vontade de aprender mais.
Descobri que, dentro da penitenci�ria, podia fazer provas para concluir o ensino fundamental e o m�dio –o Encceja (Exame Nacional para Certifica��o de Compet�ncias de Jovens e Adultos) e o Enem (Exame Nacional do Ensino M�dio).
Estudei com os livros did�ticos da biblioteca e, em 2014, consegui ser aprovado nas duas provas. Ent�o, surgiu uma vaga de monitor na escola e, junto com isso, a oportunidade de participar do projeto da faculdade a dist�ncia, que funciona aqui dentro da unidade, em parceria com o centro universit�rio Claretiano.
O curso que me ofereceram foi o de pedagogia. Decidi aceitar, mesmo sem saber direito do que era. Nunca tinha pensado em fazer faculdade, nem sabia o que escolher.
Mas, aos poucos, fui me identificando. Hoje, fico t�o envolvido com as mat�rias que �s vezes at� esque�o que estou preso. � como se estivesse debaixo d'�gua e conseguisse dar uma saidinha para respirar.
A sala em que eu e outros dois colegas fazemos EaD tem tr�s computadores. A gente tem acesso s� � plataforma da universidade. Por mensagens, consigo tirar as minhas d�vidas com o tutor da faculdade, que vem at� aqui aplicar as provas uma vez por semestre.
Recebemos uma bolsa de 50% de desconto na mensalidade. O resto � pago com o meu sal�rio de monitor.
De segunda a quinta, dou um curso que trabalha o desenvolvimento pessoal, profissional e social dos detentos. A ideia � que eles tenham novos comportamentos para que n�o sejam mais exclu�dos pela sociedade.
O que eu aprendo na faculdade, coloco em pr�tica na sala de aula. At� agora j� consegui melhorar muito a minha did�tica.
Assim que sair daqui, quero dar palestras em casas de recupera��o, igrejas e escolas sobre o perigo das drogas e a for�a da educa��o. Quando estava no mundo do crime, n�o enxergava outra alternativa. Hoje, me vejo capaz de fazer algo �til para as outras pessoas.
Eu nasci para ser pedagogo, s� n�o sabia disso.
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