Escolas j� come�am a alfabetizar crian�as 'com letras da internet'
Diego Padgurschi/Folhapress | ||
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Alunos do col�gio Santa Am�lia escrevem com letra de f�rma |
A forte presen�a no dia a dia de crian�as de recursos tecnol�gicos como tablets, joguinhos e aplicativos de telefones celulares, al�m dos v�deos musicais com legendas, tem ampliado rapidamente uma mudan�a na forma de alfabetiza��o das escolas.
Para se encaixar � realidade dos pequenos, que muitas vezes j� chegam � sala de aula reconhecendo as letras, aprender a ler e a escrever agora pode come�ar com a chamada letra bast�o ou de f�rma: a letra da internet.
N�o existem sinais de total abandono da letra cursiva no Brasil, o que j� acontece em pa�ses europeus e nos EUA, mas ela j� n�o � prioridade absoluta de ensino e � aprendida em um segundo momento em parte dos col�gios. No col�gio Santa Am�lia, na Sa�de (zona sul), as salas do primeiro ano do ensino fundamental s�o decoradas com letras bast�o, tamb�m tidas como letras de imprensa.
Das anota��es da professora no quadro � cartilha da molecada, tudo remete � grafia com que os alunos tem familiaridade seja por meio do teclado do computador dos pais, seja pelos joguinhos eletr�nicos e pelas anima��es.
"A letra bast�o traz para a escola o mundo real da crian�a, a letra que ela v� no dia a dia e que, com a tecnologia, se tornou ainda mais presente, mais refer�ncia", diz Adriane Ideta, coordenadora pedag�gica do col�gio.
Segundo ela, quando a crian�a estiver alfabetizada, inicia-se o ensino da letra cursiva que, "culturalmente, � ainda forte no Brasil". "� fun��o da escola dar � crian�a ferramentas para que ela decida, no futuro, que tipo de letra prefere para escrever e que fa�a isso corretamente, sem v�cios de escrita."
O col�gio Dante Alighieri, na regi�o da av. Paulista (zona oeste), segue o mesmo princ�pio pedag�gico do Santa Am�lia, mas h� escolas que optam por come�ar com o ensino da cursiva (leia abaixo) e as que ensinam os estilos diferentes ao mesmo tempo.
Diego Padgurschi/Folhapress | ||
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Estudantes est�o familiarizados com a letra bast�o |
ASSINATURA
Francisca Maciel, doutora em educa��o pela UFMG e especialista em alfabetiza��o, explica que � mais f�cil alfabetizar pela letra bast�o ou, como ela prefere chamar, "de imprensa, mai�scula".
"Quando a crian�a est� no in�cio do processo de aprendizado, � mais f�cil distinguir as letras, saber qual � qual, quando se usa a de imprensa, que tamb�m tem o tra�ado mais simples e � favor�vel � coordena��o motora", diz.
Para a especialista, aprender a letra cursiva posteriormente n�o traz nenhum preju�zo aos alunos. Mas � importante que ela seja ensinada em algum momento.
"A cursiva � um desenho, n�o acrescenta nada especial, mas � mais r�pida e d� uma certa identidade. Sem a manuscrita, como ficariam as assinaturas?".
J� Leopoldo Leal, doutor em design pela USP e que j� trabalhou apresenta��o de tipografias na rede municipal, "o [estilo] cursivo nada mais � que o reflexo de uma �poca em que se usava pena e nanquim para escrever".
"Hoje em dia, digitamos muito mais do que escrevemos. Quantos e-mails e mensagens trocamos e quantas anota��es � m�o fazemos no mesmo dia? A justificativa para n�o abolir o cursivo na alfabetiza��o � a n�o inclus�o digital total e tamb�m a press�o de pais que querem que as crian�as sejam educadas exatamente como eles foram."
O pensador Umberto Eco, em artigo de 2009 para a revista cultural "Opera Mundi", mostrou preocupa��o com o fim da letra manuscrita.
Em trecho do texto, ele diz que "� verdade que as crian�as escrever�o mais e mais em computadores e telefones celulares. Entretanto, a humanidade est� aprendendo a redescobrir como esporte e prazer est�tico muitas coisas que a civiliza��o havia eliminado como desnecess�rio".
O MEC informou que livros did�ticos de alfabetiza��o, aprovados pelo Programa Nacional do Livro Did�tico, em geral, apresentam propostas para a inser��o, de maneira gradativa, do reconhecimento e uso dos diferentes tipos de letras que as escolas t�m autonomia para decidirem como ir�o alfabetizar.
RESIST�NCIA
O caminho para a alfabetiza��o dos cerca de 270 alunos da rede de col�gios vicentinos de S�o Paulo � "complexo e dif�cil", nas palavras de sua pr�pria coordena��o pedag�gica, que defende a maneira de ensinar com a letra cursiva.
A linha pedag�gica dessas escolas, a primeira fundada h� 108 anos, segue o que consideram tradi��o,"sem apelos ao modismo", e baseia-se em pesquisas que indicam que a letra manuscrita estimula a cogni��o e a reflex�o.
"Sem a quebra das letras, que acontece com a letra bast�o, que exige tirar a m�o do papel, o aluno d� sequ�ncia ao pensamento, ao racioc�nio, � elabora��o de ideias", afirma Soreny de Esp�rito Santo, 54, pedagoga no col�gio S�o Vicente de Paulo, na Penha, zona leste.
Especializada em alfabetiza��o, Soreny defende que, se � verdade que as crian�as se identificam com a tecnologia, tamb�m o � que eles t�m curiosidade para saber a maneira como os pais escrevem no papel.
A op��o pela letra manuscrita n�o quer dizer que os col�gios vicentinos tenham aberto m�o do apoio tecnol�gico na educa��o. As escolas possuem, inclusive, aulas de rob�tica.
"As coisas que s�o boas e d�o resultado devem ser preservadas. Temos a tecnologia em nosso dia a dia nas escolas e discutimos seus benef�cios, por�m aquilo que capacita bem o nosso aluno, que d� resultado, n�o deixamos de lado", diz a pedagoga. Os alunos, por�m, n�o deixam de aprender a letra bast�o.
"A crian�a � como uma esponja e absorve o conhecimento rapidamente, � aberta � aprendizagem. �s vezes o adulto � quem acha tudo complicado", diz.
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SOPA DE LETRINHAS
Letras do tablet e do celular t�m mudado formas de aprender a ler e a escrever
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- � mais comum ser chamada de letra de f�rma ou letra de imprensa
- Tem tra�os mais simples e exige menos coordena��o motora
- � mais lenta para escrever, porque n�o tem continuidade
- Tem a refer�ncia da internet, por isso crian�as est�o mais familiarizadas
- Tem ganhado cada vez mais espa�o no mundo escolar
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- Tamb�m � chamada de letra de m�o ou manuscrita
- Exige mais acuidade motora, pois � mais detalhada
- Comumente usada em cartas, bilhetes, anota��es e provas escolares
- J� n�o est� t�o ligada � realidade das crian�as, mas h� pesquisadores que defendem que estimula a cogni��o
- O ensino j� � facultativo ou j� n�o existe em escolas de alguns pa�ses europeus e Estados dos EUA
Fonte: Pedagogos
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