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Segundo centro provisório para desabrigados das cheias é inaugurado no RS

Tendas ocupam espaço de 9.000 m² na zona norte de Porto Alegre e podem receber 850 pessoas

Porto Alegre

Foi inaugurada nesta quinta-feira (11), em Porto Alegre, a segunda "cidade provisória" para desabrigados das cheias no Rio Grande do Sul. As tendas do Centro Humanitário de Acolhimento (CHA) Vida, na zona norte da capital gaúcha, têm capacidade para receber 850 moradores.

As primeiras famílias chegaram no fim da manhã, a maior parte oriundas do Centro Vida, ginásio vizinho que foi o abrigo mais populoso de Porto Alegre. A previsão é que cerca de 60 famílias sejam recebidas por dia até atingir a lotação máxima, o que deve ocorrer no fim do mês.

Centro de Acolhimento Humanitário Vida, para desabrigados das cheia no Rio Grande do Sul, é inaugurado nesta quinta (11) em Porto Alegre - Joel Vargas/Divulgação/GVG

O centro de acolhimento tem 122 dormitórios, divididos em quatro alas. O local é composto por grandes tendas com divisórias de octanorm, mesma estrutura usada em escritórios, grandes feiras e hospitais de campanha, por exemplo. Ao todo, são 9.000 m² de área construída.

No local, 96 unidades vão abrigar famílias de até cinco pessoas, e seis receberão famílias de até dez. Há sete dormitórios masculinos e sete femininos para pessoas desacompanhadas, ambas com 130 camas ao total.

Dormitório no Centro Humanitário de Acolhimento Vida, em Porto Alegre, para desabrigados das enchentes no estado - Carlos Villela/Folhapress

Também há seis dormitórios para a população LGBTQIA+, com capacidade para oito moradores cada. De acordo com o governo, o local foi montado para abrigar pessoas que se sintam vulneráveis.

São disponibilizadas camas de solteiro, casal, beliches e berços, conforme a necessidade dos ocupantes de cada alojamento.

A instalação da estrutura foi financiada pelo sistema Fecomércio/Sesc/Senac, e a gestão fica por conta da OIM (Organização Internacional para as Migrações), ligada à ONU.

O local é diferente do centro humanitário de Canoas, inaugurado na última quinta-feira (4), constituído de unidades habitacionais individuais modulares feitas de polímero e aço doadas pela Agência da ONU para Refugiados (Acnur). Em uma semana o local passou a abrigar 393 moradores —a capacidade máxima é de 630.

O terceiro CHA deve ser aberto ainda neste mês no Centro Olímpico Municipal em Canoas, com estrutura semelhante à do centro de Porto Alegre. A OIM terá uma equipe de cerca de 250 profissionais para gerir os três centros.

Presente na cerimônia de inauguração, o governador Eduardo Leite (PSDB) disse que o programa do governo federal de compra de unidades habitacionais para desabrigados é uma alternativa, "mas não é o suficiente, nem perto", para resolver o problema da falta de moradia.

Segundo Leite, é preciso construir novas unidades para atender a dezenas de milhares de famílias que buscam uma casa nova. Ele disse, contudo, que o processo deve levar tempo, por envolver regularização de terrenos, parcelamento de solo, urbanização e outros processos, e a construção não pode ser feita "de uma hora para outra".

"Ainda tem a questão também de buscar sempre áreas próximas onde as famílias se reconhecem", disse o governador. "Não é simplesmente pegar uma família que morava em um determinado local e agora levar para outro bairro da cidade."

A costureira Noêmia Severo, 57, foi uma das primeiras pessoas a chegar ao CHA. Ela passou dois meses no abrigo do Centro Vida depois que a enchente do lago Guaíba atingiu o forro de sua casa na ilha do Pavão, em Porto Alegre.

"Lá [no abrigo] foi horrível, espero que aqui seja melhor", disse. "A expectativa é grande para ficar aqui. Vamos ver."

Ela conta que se prepara para passar até seis meses no local, sem saber ainda os próximos passos. "A gente está sem rumo, a gente não tem nada, nada", afirmou. "Sempre me perguntam, 'o que tu mais sente falta da tua casa?' E é o meu banheiro. Eu tinha um banheiro só para mim e para a minha filha. E agora…"

Além de perder móveis, eletrodomésticos, roupas e material de trabalho, ela diz que foram danificadas as paredes e as pilastras da casa, construída mais alta que a rua para escapar de alagamentos. "Os móveis pareciam papelão."

Ela conta que solicitou o auxílio reconstrução do governo federal, mas o pedido ainda está sob análise. "A gente pensava em arrumar a casa, mas a gente está com medo que esse dinheiro não vai vir."

Junto a isso, há o temor de novas enchentes. Seus filhos já se preparam para voltar ao bairro, mas ela não se sente confiante. "Medo de perder tudo de novo."

Os moradores do CHA começam a chegar em meio a uma onda de frio que atinge o Rio Grande do Sul. Nesta quinta-feira, a temperatura máxima registrada em Porto Alegre foi de 12ºC.

Diferentemente das casas modulares do Acnur em Canoas, que têm telhado, as habitações do novo centro de acolhimento não têm teto individual —a única cobertura superior é a do pavilhão.

O gabinete do vice-governador Gabriel Souza (MDB), que coordena a instalação dos centros, afirma, contudo, que a condição térmica das unidades é semelhante. O estado diz ainda que segue fornecendo cobertores e roupas de inverno aos afetados pela enchente por meio da central de distribuição da Defesa Civil.

Segundo nota divulgada pelo gabinete, a empresa responsável pela instalação das estruturas afirma que, "a cada quatro horas, os equipamentos trocam completamente o ar interior, eliminando odores e renovando o ar ambiente, desumidificando o interior".

"Embora não haja sistema de aquecimento instalado, há eliminação da umidade que permite uma melhor climatização do ambiente", acrescenta.

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