Descrição de chapéu Chuvas no Sul

Chuvas deixam RS em alerta em meio a temor de nova inundação recorde no Guaíba

Lago de Porto Alegre pode chegar a 5,5 m, diz UFRGS; número de mortes com enchentes no estado é de 145

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Rio de Janeiro e São Paulo

Rios voltaram a subir com o registro de novas chuvas no Rio Grande do Sul neste final de semana de Dia das Mães. Com a piora das condições meteorológicas, autoridades alertam para novas inundações a partir deste domingo (12).

Em Porto Alegre, o nível do lago Guaíba pode renovar mais uma vez o recorde histórico entre segunda (13) e terça (14), indica projeção do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).

Todos os sete rios, lagos ou lagoas sob acompanhamento estão acima da cota de inundação, de acordo com o boletim da Defesa Civil do Rio Grande do Sul divulgado no início da noite deste domingo.

O quadro ameaça a capital e outros municípios que ainda contabilizam os prejuízos das enxurradas das últimas semanas. Alertas da Defesa Civil apontam riscos de "inundações severas" em regiões como os vales do Caí e do Taquari.

Enchente atinge São Leopoldo, na região metropolitana de Porto Alegre - Pedro Ladeira - 11.mai.2024/Folhapress

O governo estadual e as prefeituras orientam a população a buscar ou permanecer em locais seguros. O cenário ganha contornos ainda mais dramáticos com a queda das temperaturas —que podem chegar a 2°C em algumas regiões durante o início da semana.

"Preciso renovar o alerta e dar a gravidade da situação que a gente vivencia. Infelizmente, essa chuva, que já vem desde ontem [sábado], perdura hoje [domingo] e vai seguir amanhã, segunda-feira, já eleva os níveis do rio Taquari, Caí e Sinos para além da cota de inundação em muitas cidades. E vai continuar se agravando", afirmou o governador Eduardo Leite (PSDB).

"Não é hora de voltar para casa. Não é hora de estar em áreas de risco. Precisamos proteger as pessoas."

Guaíba pode ter novo recorde

Segundo ele, o Guaíba "muito possivelmente" alcançará níveis acima dos já vistos nesta enchente em Porto Alegre.

O Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS disse neste domingo que todos os cenários reafirmam uma "cheia duradoura" para o lago da capital. A perspectiva é de elevação do nível de água para mais de cinco metros outra vez.

Conforme os pesquisadores, o patamar máximo entre segunda e terça-feira pode marcar em torno de 5,5 metros, dependendo das condições das chuvas adicionais e do vento sul. O pico atual, registrado neste mês, fica em torno de 5,3 metros, segundo a instituição.

O Guaíba vinha em queda, mas voltou a subir neste final de semana. Segundo monitoramento divulgado pelo governo gaúcho, o patamar estava em 4,64 metros às 18h deste domingo.

A marca é elevada. Quando o lago atinge 2,5 metros, é emitido um alerta. Quando chega a três metros, é registrada inundação.

Porto Alegre vive a pior enchente da sua história. Ruas e avenidas ficaram alagadas, e o aeroporto Salgado Filho está fechado devido ao acúmulo de água na pista e em áreas internas.

"O Guaíba voltou a apresentar elevação dos níveis, com expectativa de se elevar para valores acima dos 5 metros, conforme a chegada da vazão pelos rios contribuintes e a atuação dos ventos", afirmou a Defesa Civil neste domingo.

"Em função dessa chuva volumosa, praticamente todos os grandes rios do estado apresentam tendência de elevação", acrescentou o órgão, citando o aumento nas bacias dos rios Caí e Taquari e, posteriormente, no Jacuí.

Estado registra 145 mortes

No balanço atualizado às 20h40 deste domingo, a Defesa Civil do Rio Grande do Sul confirmou 145 mortes após o início das chuvas. O número pode subir nos próximos dias, já que ainda há 132 desaparecidos.

Os dados oficiais indicam 81,2 mil pessoas em abrigos. Outras 538,7 mil são consideradas desalojadas —tiveram de deixar suas casas, mas estão com amigos ou parentes, sem a necessidade de irem para abrigos públicos.

"Aquelas áreas de encostas de morros precisam também ser evitadas neste momento, porque o solo está encharcado. Os riscos de deslizamento são reais, especialmente na serra gaúcha e na região dos vales", afirmou Leite. "É hora de se colocar em segurança. Entre segunda e terça-feira, ainda teremos esses riscos."

Prefeitos alertam para novas cheias

Em Lajeado (a cerca de 120 km de Porto Alegre), no Vale do Taquari, o prefeito Marcelo Caumo disse nesta manhã que o domingo de Dia das Mães seria de muito trabalho com a projeção de uma nova cheia.

Lajeado é a cidade onde uma loja da rede Havan ficou tomada pela água na fase inicial desta crise climática. A fotografia da cena ganhou ampla repercussão nos últimos dias.

"O rio já ultrapassou a cota de 22 metros. Vamos ter mais uma grande cheia. A chuva se avolumou nas cabeceiras durante a noite", afirmou Caumo.

O nível do Taquari subiu e, às 18h30 deste domingo, estava em 25,72 metros, segundo a prefeitura.

As primeiras residências são atingidas quando o Taquari alcança o patamar de 19,8 metros. A orientação é para que a população fique em locais seguros.

Também há alerta em outros municípios da região. Em Muçum (a cerca de 150 km de Porto Alegre), o prefeito Mateus Trojan pediu nesta manhã que as pessoas em áreas de inundação saíssem de casa.

"Ainda não parou de chover em algumas regiões mais altas. Tem muita água para vir das nossas cabeceiras. As vazões das barragens apresentam elevação muito significativa", disse.

A região do Vale do Caí é outra afetada pelas novas chuvas. Neste domingo, a Prefeitura de São Sebastião do Caí (a cerca de 60 km da capital) afirmou que o rio estava em elevação e disse que o nível ultrapassaria os 16 metros.

Às 17h deste domingo, o patamar do rio Caí estava em 14,8 metros. A cota de inundação ocorre a partir de 10,5 metros, de acordo com a prefeitura local.

A orientação também era para as pessoas em risco deixarem suas casas. Segundo a prefeitura, o entulho levado por inundações para as ruas dificulta o acesso de barcos que realizam salvamentos.

De acordo com a Climatempo, Porto Alegre registra o início de maio mais chuvoso desde o começo das medições regulares, em 1961.

A empresa indicou que, de 1º de maio até as 9h deste domingo, a estação meteorológica do Jardim Botânico, na zona norte da cidade, registrou 306 mm. É quase o triplo da média (113 mm).

As novas chuvas deste fim de semana causam temores de mais desastres. "Muita gente vê a chuva e está traumatizada. A gente nota o susto das pessoas. A gente sabe que quando chove acaba aumentando mais a água", disse à agência AFP Enio Posti, bombeiro de Porto Alegre.

A preocupação com as enchentes ainda alcança cidades do sul do estado. É o caso de Pelotas (a 260 km de Porto Alegre), onde a previsão indicava que a situação poderia piorar de segunda (13) a quarta-feira (15).

Conforme a prefeitura local, a projeção leva em conta o tempo necessário para movimentação das águas do Guaíba para a lagoa dos Patos, que banha municípios da chamada Costa Doce, como Pelotas.

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