O município de Estrela, no Vale do Taquari, interior do Rio Grande do Sul, foi um dos mais afetados pelas recentes enchentes no estado. Segundo a prefeitura, no auge das inundações, 75% do território da cidade ficou submerso.
A reportagem da BBC foi ao bairro de Moinhos, que foi devastado pela tragédia, conversar com moradores e entender como ficará a região que foi destruída pela lama.
De acordo com a prefeitura, o bairro não receberá mais infraestrutura de água, energia elétrica, esgoto e equipamentos públicos como postos de saúde e escolas. A medida atende a uma recomendação do Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul.
A ideia é desestimular o retorno a essas áreas. Na prática, o local poderá se transformar em um "bairro fantasma".
Veja abaixo mostram o antes e depois da tragédia em algumas cidades da região metropolitana da capital gaúcha.
Ruas e casas destruídas
A destruição causada pelas chuvas em Estrela (RS)
Deslize o botão para os lados para ver o impacto na rua Santo Antônio - Google Street View - jul.2022 e BBC News Brasil - 19.mai.2024
As inundações que atingiram o Rio Grande do Sul desde o final de abril levaram à morte de pelo menos 165 pessoas e deixaram 581 mil pessoas desalojadas. Desse total, 55 mil estavam em abrigos improvisados até a manhã de sábado (25).
Estrela, município de 34 mil habitantes, fica na região conhecida como Vale do Taquari, uma das mais afetadas. Segundo a prefeitura do município, no auge das inundações, 75% do território da cidade ficou submerso.
Nos primeiros dias da tragédia, o município chegou a ter 6 mil pessoas em abrigos. Com o baixar dos rios, algumas foram voltando para casa ou se abrigam em casas de familiares. Agora, segundo a prefeitura, há 600 pessoas em abrigos.
A destruição causada pelas chuvas em Estrela (RS)
Deslize o botão para os lados para ver o impacto na rua Aníbal Brandão - Google Street View - jul.2022 e BBC News Brasil - 19.mai.2024
O trabalho de reconstrução do Rio Grande do Sul, no entanto, ainda está sendo formulado e as informações sobre a distribuição de novas residências aos afetados pelas inundações não foram totalmente detalhadas.
Há duas semanas, o governo federal anunciou um pacote de ajuda ao Rio Grande do Sul equivalente a R$ 50 bilhões, composto por verbas federais, anuência de impostos, renegociação da dívida do stado e linhas de crédito dadas por bancos privados.
A destruição causada pelas chuvas em Estrela (RS)
Deslize o botão para os lados para ver o impacto na rua Aníbal Brandão - Google Street View - jul.2022 e BBC News Brasil - 19.mai.2024
O Estado do Rio Grande do Sul estimou os trabalhos de reconstrução em pelo menos R$ 19 bilhões.
O governo gaúcho anunciou um plano de abrigamento temporário para aproximadamente 10 mil pessoas. O projeto ficou conhecido como "cidades temporárias" que seriam construídas com estruturas de metal e plástico em quatro localidades espalhadas pelo Estado.
Não há informações sobre quando essas estruturas estariam prontas de quais regiões seriam as pessoas beneficiadas.
A destruição causada pelas chuvas em Estrela (RS)
Deslize o botão para os lados para ver o impacto na rua Ijuí - Google Street View - jul.2022 e BBC News Brasil - 19.mai.2024
Em Estrela, equipes de Infraestrutura têm trabalhado em uma primeira etapa geral de limpeza das ruas, calçadas e remoção de entulhos, segundo a Prefeitura.
Mas os trabalhos também estão sendo feitos por funcionários, especialmente em casas, pátios e comércios em geral.
Garoa em Estrela e chuva em Porto Alegre
A chuva deu uma trégua em Estrela nos últimos dias. Mas a previsão é que a cidade enfrente garoa e chuva mais fraca a partir de segunda-feira (27).
Mas em Porto Alegre, um grande volume de chuva trouxe de volta nesta sexta-feira (24) uma cena comum nos piores dias da catástrofe ambiental: caminhões e barcos retirando pessoas de pontos isolados pela água.
A precipitação, que começou na madrugada de quinta, atingiu em apenas 12 horas a marca de 100 milímetros, equivalente à média histórica de todo o mês de maio, segundo o serviço meteorológico MetSul.
Em pontos das zonas leste e sul, relativamente poupadas na primeira fase da enchente, a chuva chegou a 130 mm no mesmo intervalo, conforme o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia).
O prefeito Sebastião Melo (MDB) anunciou a suspensão das aulas na rede pública e privada na sexta-feira e o fechamento das comportas do sistema de contenção do Guaíba.
Diferentemente do início do mês, quando o grosso da enchente foi provocado pelo avanço das águas do Guaíba sobre as zonas norte e central, desta vez a inundação deveu-se principalmente ao extravasamento de bueiros e arroios como o Feijó, junto ao bairro Sarandi, e o Cavalhada, na zona sul.
Os bairros Restinga e Santana, na zona leste, e Cavalhada, na zona sul, que não registraram alagamentos nos primeiros dias de maio, registraram pontos de alagamento e bloqueio de ruas.
No bairro Camaquã, crianças e funcionários da escola infantil Paraíso dos Baixinhos foram resgatados numa operação que envolveu pais, Corpo de Bombeiros e Exército.
O resgate foi dificultado por uma obra inacabada em um duto na região, que começou a jorrar água e impediu até mesmo a passagem de um caminhão do Exército.
No Vale do Taquari, uma ponte provisória flutuante instalada pelo Exército sobre o Rio Forqueta, entre os municípios de Lajeado e Arroio do Meio, foi levada pela torrente.
A passagem, em uso desde a quarta-feira (15), substituía a antiga ponte destruída pela enchente e permitia a passagem de 45 pessoas por minuto, em sentido único.
Enquanto o Rio Grande do Sul ainda enfrenta inundações em decorrência das fortes chuvas que caíram em todo o Estado no último mês, outro problema começa a surgir com força: a leptospirose.
O governo estadual confirmou na quinta-feira (23) mais duas mortes por leptospirose relacionadas às fortes enchentes que atingiram o estado. Morreram dois homens — de 56 e 50 anos, moradores dos municípios de Cachoeirinha e Porto Alegre, respectivamente.
As mortes aconteceram na semana passada, mas a causa foi confirmada em exames de laboratório esta semana.
Antes disso, neste mês, duas outras pessoas já haviam morrido de leptospirose em decorrência das enchentes, nos municípios de Venâncio Aires e Travesseiro.
Até esta sexta-feira (24), o Rio Grande do Sul tem 54 casos confirmados de leptospirose, e quatro mortes.
Outras quatro mortes estão sendo investigadas e ainda não foram confirmadas como sendo em decorrência da doença: em Encantado, Sapucaia, Viamão e Tramandaí.
Há 1.140 casos notificados de leptospirose — ou seja, em que não foi confirmado um diagnóstico da doença, mas em que pacientes relataram sintomas.
Este texto foi publicado originalmente aqui.
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