Praça da República e Autódromo de Interlagos lideraram roubos de celular em SP em 2023

Levantamento analisou 179.002 ocorrências em 2023, agrupadas por quadras; OUTRO LADO: governo diz que houve queda de 11,9% nos casos na capital

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São Paulo

O entorno da praça da República, no centro de São Paulo, e as imediações do Autódromo de Interlagos, na zona sul, são os dois locais que mais registraram roubos de celulares na cidade no ano passado.

Os dados fazem parte de um mapa elaborado pela Folha, que analisou todas as 179.002 ocorrências registradas em 2023 no município.

Os arredores do endereço histórico do centro constam em 1.917 boletins feitos por vítimas que tiveram seus aparelhos levados no período. O número é próximo ao das 1.856 vezes em que o Autódromo de Interlagos, que atrai multidões em shows e festivais, foi informado como palco desse tipo de crime.

Polícia Civil apreende mais de 100 celulares roubados em operação
Polícia Civil apreende mais de 100 celulares roubados em operação - Divulgação - 6.mar.24/Polícia Civil

Os registros são disponibilizados pela Secretaria da Segurança Pública do estado e foram analisados pelo núcleo de jornalismo de dados da Folha. Para serem representados no mapa, os casos foram agrupados por quadra, de acordo com os endereços informados nos boletins e considerando uma margem de 100 metros em volta de cada quarteirão, para incluir vias e espaços públicos ao redor.

Foram filtradas as ocorrências registradas como roubo de carga ou dentro de residências, condomínios e estabelecimentos comerciais, por exemplo, de forma a limitar a análise aos casos envolvendo majoritariamente os pedestres e condutores de veículos em vias públicas. Esse recorte é de 156.214 roubos e furtos em 2023.

A análise por região da cidade mostra que o centro é a área mais afetada por esse tipo de crime, concentrando mais quarteirões com altas quantidades de registro.

Já os pontos com menores índices de roubos e furtos ficam nos extremos norte e sul da capital, onde também há mais quadras sem nenhuma ocorrência. Marsilac, por exemplo, teve 21 casos registrados em um ano, o menor número entre os distritos. No outro extremo está o distrito da República, no topo da lista, com 10.398 casos.

Além da praça da República, líder do ranking entre as quadras, também aparecem entre os primeiros lugares diversos outros quarteirões do centro. É o caso do terceiro colocado, no trecho da rua Augusta entre as ruas Peixoto Gomide e Dona Antônia de Queirós, com 1.769 casos.

Dois quarterões da avenida Paulista com a Augusta aparecem na sequência, no quarto e quinto lugares do ranking. Até a esquina mais famosa da cidade —a das avenidas Ipiranga e São João—, está no top 10. Todos esses espaços citados superam, cada um, a marca de mil furtos e roubos no ano passado.

Em comum, esses pontos são caracterizados pela intensa movimentação de pedestres, o que atrai a chamada gangue da bicicleta, formada por ladrões em duas rodas que aproveitam a distração das vítimas para lhes arrancar o telefone da mão.

A aglomeração de pedestres é o que faz das ruas do centro o local preferido de ação desses ladrões, segundo Guaracy Mingardi, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. "O bem mais caro que as pessoas carregam hoje em dia é o celular. Então é muito mais rentável furtar um aparelho e conseguir de R$ 200 a R$ 500 do que fazer vários furtos menores", diz.

Esses criminosos são, em maior parte, jovens que moram na região central e têm destino certo dos itens furtados, segundo o pesquisador. "O mercado receptador é grande e isso atrai quem furta", diz.

Outro agravante, segundo Mingardi, é a falta de investigação da Polícia Civil em relação a esses casos. "O efetivo é insuficiente e os profissionais estão desatualizados."

Em nota, a SSP disse que os esforços para reduzir a atuação da rede de receptadores resultaram na queda de 11,9% de furtos e roubos de celular na capital. A Polícia Civil afirmou que recuperou 6.200 aparelhos até fevereiro deste ano, dos quais 2.441 foram devolvidos às vítimas; 686 criminosos foram presos.

A gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) também foi procurada para comentar os pontos mais perigosos para usar o celular, e informou que o posicionamento sobre esse assunto é de responsabilidade da SSP.

Ao analisar o mapa da cidade, é possível ver que o registro de roubos ou furtos de aparelhos celulares é mais acentuado no eixo do centro histórico, na rua Augusta e na avenida Paulista, formando uma espécie de corredor da insegurança pública.

A Augusta, inclusive, é uma das vias que acumularam mais quadras consecutivas com altos índices de casos no ano passado. Ao menos seis foram enquadradas no patamar mais alto, com mais de mil ocorrências. Os piores pontos ficam na altura do parque Augusta, próximo à rua da Consolação.

Nessa via, em direção ao centro, os índices baixam por alguns metros e voltam a atingir nível semelhante na intersecção com a avenida Ipiranga e até o entorno da Rio Branco, onde o mapa volta a mostrar pontos escuros.

Esse pedaço específico da cidade se tornou problemático do ponto de vista da segurança pública ao longo do ano passado após a dispersão dos usuários de drogas que frequentam a chamada cracolândia, cena aberta de uso de drogas na região central.

As ruas ocupadas pelos dependentes químicos recentemente, porém, não figuram entre as mais escuras do mapa, já que registraram média de até 200 ocorrências de roubos de celulares em 2023.

Mas, é ali perto, na rua Guaianases, que funciona o chamado QG dos celulares roubados. São pequenos comércios e apartamentos alugados localizados em apenas um quarteirão que abrigam a quadrilha de roubo de celular que movimentou até R$ 10 milhões nos últimos quatro anos, segundo investigações da Polícia Civil.

De acordo com as investigações, ao menos quatro estabelecimentos no mesmo quarteirão, entre as ruas Aurora e Timbiras, são usados pelos criminosos para armazenar celulares roubados e despistar os policiais. Vizinhos relatam que uma padaria, dois bares e uma bicicletaria abrem apenas durante a noite, quando os ladrões aparecem e se passam por frequentadores.

Assim como o Autódromo de Interlagos, que chegou a concentrar 795 comunicações de roubos de aparelho em um fim de semana do festival de música The Town, em setembro do ano passado, outros locais de eventos na cidade também são focos dos ladrões.

O estádio do Morumbi, na zona sul, da cidade, também é retratado como uma mancha escura no mapa devido à alta incidência de casos. No ano passado, o endereço foi registrado como local de ocorrência em cerca de 900 boletins.

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