Um olheiro de Bangu estava garimpando algum talento nos campos de várzea do bairro homônimo da zona oeste do Rio de Janeiro, quando viu um moleque habilidoso com a bola nos pés. Chamou para um teste e começava ali a carreira do artilheiro.
Jean Carlos da Conceição arrebentou no primeiro treino. Apesar da idade, apenas 16 anos, pulou a categoria juvenil e foi direto para o time de juniores. Três ou quatro jogos e alguns gols depois, passou para a equipe profissional.
"Quando o técnico o viu jogar, puxou ele para o time de cima", afirma o irmão Gilmar da Conceição.
Dotado de um faro de gols inigualável, como definiu o Paulista de Jundiaí, onde teve duas passagens, Jean Carlos foi um colecionador de títulos.
Só no tricolor do interior de São Paulo, ergueu os troféus de campeão da Série A-2 do Campeonato Paulista e da Série C do Campeonato Brasileiro —com 14 gols, dividiu a artilharia do torneio com outros dois jogadores.
Jean Carlos é o sétimo maior artilheiro da história do clube centenário, com 64 gols em 140 jogos disputados.
Entre outros, o atacante também estava no elenco do Santo André, quando a equipe do ABC ganhou a Copa do Brasil em 2004. "Foi fundamental para a conquista", escreveu o clube em suas redes sociais.
A lista de times em que jogou tem ainda Guarani (SP), Anápolis (GO), Juventude (RS), São Caetano (SP), Ituano (SP), Bahia e Remo (PA).
"O Jean Carlos está entre os quatro maiores atacantes do Paulista nos últimos 50 anos", afirma o radialista Adilson Freddo, 64, que acompanha profissionalmente o clube há cerca de quatro décadas.
"Em 2001, o Paulista [que levava o nome de Etti Jundiaí, por ser administrado pela multinacional Parmalat na época] jogou em Juazeiro [BA], num sol de desmaiar as pessoas às 11h da manhã, e diziam que era impossível ganhar do Juazeirense lá. Pois o Jean Carlos fez um golaço, um dos cinco na vitória por 5 a 0", lembra o radialista.
Luiz Roberto Raymundo, o Pitico, então vice-presidente na segunda assinatura de contrato do atleta com o Paulista, define Jean Carlos, como um jogador diferenciado. "Era inteligente, com velocidade e visão de jogo, que hoje atuaria em time grande", diz.
Jean Carlos encerrou sua carreira em 2007, aos 33 anos. Fez também parte do elenco campeão paraense com o Remo.
Aposentado profissionalmente, adotou o interior paulista e ensinava futebol em escolinhas de Santa Bárbara d' Oeste (a 135 km de São Paulo), segundo o irmão.
Jean Carlos da Conceição morreu nesta terça-feira (27), aos 50 anos, após complicações de um câncer de próstata, que se espalhou para o pâncreas.
Clubes no qual jogou e ex-companheiros publicaram homenagens a ele em redes sociais nesta terça e quarta, quando foi enterrado.
Deixou três filhos, um neto de dois meses, e torcedores de diferentes camisas saudosos de seu oportunismo na frente das traves.
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